Khaled Hosseini
...existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simples mente uma variação do roubo.
- Quando você mata um homem, está roubando uma vida — disse baba.
- Está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai.
- Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade.
- Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça.
- Não há ato mais infame do que roubar, Amir — prosseguiu ele. — Um homem que se apropria do que não é seu, seja uma vida ou uma fatia de naan...
Cuspo nesse homem...
(do livro "O Caçador de Pipas")
...descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo.Porque,de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar.
(O Caçador de Pipas)
Se existe mesmo um Deus, em algum lugar por aí,espero que ele tenha coisas mais importantes para fazer do que se preocupar com o fato de eu beber uísque ou comer carne de porco.
Quando alguém mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando alguém trapaceia, está roubando o direito à justiça.
(O Caçador de Pipas)
...o passado só continha uma certeza: o amor era um erro nocivo, e sua cúmplice, a esperança, uma ilusão traiçoeira...
Tinha sido apenas um sorriso, e nada mais. As coisas não iam se ajeitar por causa disso. Aliás, nada ia se ajeitar por causa disso. Só um sorriso. Um sorriso minúsculo. Uma folhinha em um bosque, balançando com o movimento de um pássaro que alça vôo.
Mas me agarrei àquilo. Com os braços bem abertos. Porque, quando chega a primavera, a neve vai derretendo floco a floco, e talvez eu tivesse simplesmente testemunhando o primeiro floco que se derretia.
Saí correndo. Um adulto correndo em meio a um enxame de crianças que gritavam. Mas nem me importei. Saí correndo, com o vento batendo no rosto e um sorriso tão grande quanto o vale Panjsher nos lábios.
Saí correndo.
Trecho do livro: O Caçador de Pipas
O Caçador de Pipas
Era uma vez... As histórias maravilhosas começam assim. Não importa o tamanho delas. Se começam por era uma vez, são sempre maravilhosas.
Pois era uma vez um homem. Um homem pobre que de precioso só tinha um cálice.
Nele, ele bebia a água do riacho que passava próximo à sua casa. Nele, bebia leite, quando o conseguia, em troca de algum trabalho.
Era pobre, mas feliz. Feliz com sua esposa, que o amava. Feliz em sua pequena casa, que o sol abraçava nos dias quentes, tornando-a semelhante a um forno.
Feliz com a árvore nos fundos do terreno, onde escapava da canícula.
Saía pelas manhãs em busca de algum trabalho que lhe garantisse o alimento a ele e à esposa, a cada dia.
Assim transcorria a vida, em calma e felicidade. Nas tardes mornas, quando retornava ao lar, era sempre recebido com muita alegria.
Era um homem feliz. Trazia o coração em paz, sem maiores vôos de ambição.
Então, um dia... Sempre há um dia em que as coisas acontecem e mudam o rumo da História.
Pois, nesse dia, nem ele mesmo sabendo o porquê, uma lágrima caiu de seus olhos, dentro do cálice.
De imediato, o homem ouviu um pequeno ruído, como de algo sólido, que bateu no fundo do recipiente.
Olhou e recolheu entre os dedos uma pérola. Sua lágrima se transformara em uma pérola.
Então, o homem pensou que poderia ficar muito rico se chorasse bastante.
Como não tinha motivos para chorar, ele começou a criá-los. Precisava se tornar uma pessoa triste, chorosa, para enriquecer.
Com o dinheiro da venda das pérolas pensava comprar lindas roupas para sua esposa, uma casa mais confortável, propriedades, um carro.
E assim foi. Ele começou a buscar motivos para ficar triste e para chorar muito.
Conseguiu muitas riquezas. Ele poderia tornar a ser feliz. No entanto, desejava mais.
As pequenas coisas que antes lhe ofertavam alegrias, agora, de nada valiam.
Que lhe importava o raio de sol para se aquecer no inverno? Com dinheiro, ele mandou colocar calefação interna em toda sua residência.
Por que aguardar os ventos generosos para arrefecer o calor nos dias de verão? Com dinheiro, ele pediu para ser instalado ar condicionado em toda a sua casa.
E no carro, e no escritório que adquiriu para gerir os negócios que o dinheiro gerara.
E a tristeza sempre precisava ser maior. Do tamanho da ambição que o dominava.
Nunca era o bastante. Os afagos da esposa, no final do dia e nos amanheceres de luz deixaram de ser imprescindíveis.
Ele não podia perder tempo. Precisava chorar. Precisava descobrir fórmulas de ficar mais triste e derramar mais lágrimas.
Finalmente, quando o homem se deu conta, estava sem esposa, sem amigos. Só... Com seu dinheiro, toda sua imensa fortuna.
Chorando agora, estava tão desolado, que nem mais se importava em despejar o dique das lágrimas no cálice.
A depressão tomara conta dele e nada mais tinha significado.
A história parece um conto de fadas. Mas nos leva a nos perguntarmos quantas vezes desprezamos os tesouros que temos, indo à cata de riquezas efêmeras.
Pensemos nisso e não desperdicemos os valores verdadeiros de que dispomos. Nem pensemos em trocá-los por posses exageradas.
A tudo confiramos o devido valor, jamais perdendo nossa alegria.
Haveres conquistados à troca de infelicidade somente geram infelicidade.
O CAÇADOR DE PIPAS
“não sabia com que objetivo o outro garoto estava competindo, talvez só para exibir seus dotes. mas para mim, aquela era a única chance de me tornar alguém que era olhado, e não apenas visto; que era escutado e não apenas ouvido. se existia um deus ele ia guiar o vento, deixar que soprasse para mim, e assim, com um puxão na corda, eu ia me livrar da minha dor, dos meus anseios. tinha agüentado muito, chegado longe demais. e de repente, em um piscar de olhos a esperança virou certeza. eu ia ganhar. era só uma questão de tempo.” PÁGINA 71
“um sonho:
estou perdido em uma tempestade de neve. o vento assobia tirando pedacinhos de gelo que espetam os meus olhos. vou cambaleando, os pés afundando em camadas daquela brancura fofa. grito por socorro, mas o vento não deixa que os meus gritos sejam ouvidos. caio e fico ofegante na neve, perdido naquela imensidão branca com o amento do vento soando nos meus ouvidos. vejo que a neve esta apagando as minhas pegadas. ‘agora sou um fantasma’ penso eu, ‘ um fantasma sem pegadas’. volto a gritar com a esperança sumindo como as marcas dos meus passos. desta vez, porem, há uma resposta longínqua. projeto os olhos com as mãos e dou um jeito de me sentar. além das cortinas flutuantes de neve, tenho a breve visão de algo se movendo, um borrão de cor. uma forma familiar se materializa. uma mão se estende na minha direção. vejo profundos talhos paralelos cortando a sua palma e o sangue escorrendo, tingindo a neve. seguro aquela mão e, de repente, a neve desaparece. estamos em um campo de relva verde-clara e macios flocos de nuvens deslizam no céu. olho para cima e vejo o céu claro coalhado de pipas verdes, amarelas, vermelhas, laranja. Elas cintilam à luz do entardecer.” PÁGINA 80
“é um olhar que vai assombrar os meus sonhos por semanas a fio.” PÁGINA 82
“éramos homaria e eu contra o mundo. e ouça o que lhe digo: no final o mundo sempre sai ganhando. as coisas são assim, puras e simples...”
“não me lembrava que mês era, nem mesmo que ano. só sei que aquela lembrança vivia dentro de mim como um pedaço gostoso de passado, perfeitamente encapsulado; uma pincelada de cores naquela tela cinza e árida que nossas vidas tinha se tornado.”
Tinha sido apenas um sorriso, e nada mais. As coisas não iam se ajeitar por causa disso. Aliás, nada ia se ajeitar por causa disso. Só um sorriso. Um sorriso minúsculo. Uma folhinha em um bosque, balançando com o movimento de um pássaro que alça vôo. Mas me agarrei àquilo. Com os braços bem abertos. Porque, quando chega a primavera, a neve vai derretendo floco a floco, e talvez eu tivesse simplesmente testemunhado o primeiro floco que se derretia.
As palavras são só palavras, e nunca ouvi dizer que em um coração magoado fosse possível se penetrar pelo ouvido.
A Deus pertencem o levante e o poente. Para onde quer que vos tornardes, lá encontrareis o semblante de Deus.
[Livro 'A cidade do Sol']
Não se podem contar as luas que brilham em seus telhados, nem os mil sóis esplêndidos que escondem por trás de seus muros.
[Livro 'A cidade do sol']
"Naquela mesma noite, escrevi minha primeira história. Levei trinta minutos para fazê-lo. Era um pequeno conto meio soturno sobre um homem que encontra um cálice mágico e fica sabendo que, se chorar dentro dele, suas lágrimas vão se transformar em pérolas. Mas, embora tenha sido sempre muito pobre, ele era feliz e raramente chorava. Tratou então de encontrar meios de ficar triste para que as suas lágrimas pudessem fazer dele um homem rico. Quanto mais acumulava pérolas, mais ambicioso ficava. A história terminava com o homem sentado em uma montanha de pérolas, segurando uma faca na mão, chorando inconsolável dentro de um cálice e tendo nos braços o cadáver da esposa que tanto amava." (Caçador de Pipas, Quatro, página 37)
Laila a vê colar pedaços de lã na cabeça da boneca. Em poucos anos, essa menina vai ser uma mulher que pede muito pouco da vida, que nunca incomoda ninguém, nunca deixa transparecer que ela também tem tristezas, desapontamentos, sonhos que foram menosprezados. Uma mulher que vai ser como uma rocha no leito de um rio, suportando tudo sem se queixar. Uma mulher cuja generosidade, longe de ser contaminada, foi forjada pelas turbulências que se abateram sobre ela. Laila já consegue ver algo nos olhos daquela menina, algo tão arraigado que nem Rashid nem os talibãs conseguiram destruir. Algo tão rijo e inabalável quanto um bloco de calcário. Algo que, afinal, acabou sendo a sua ruína e a salvação de Laila.
(A Cidade do Sol)
"E seguiu tocando a vida. Porque, no fundo, sabia que era tudo o que podia fazer. Viver e ter esperanças."
(A Cidade do sol)
Explicou que se a cultura era uma casa, a linguagem era a chave da porta que conduziria a todos os quartos interiores.Sem isso,dizia, acabamos sem rumo, sem uma casa adequada, sem identidade legítima. ( do livro "O silêncio das montanhas)
[...] uma coisa que aprendi é que vale a pena ter certo grau de humildade e caridade quando se julga o funcionamento interno do coração de outra pessoa.
Quando você mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça. '' O caçador de pipas''
A CIDADE DO SOL - Khaled Hosseini
(frases marcantes)
"Mariam se sentia digna das belezas e das coisas boas que a vida tinha para oferecer." (Pág. 11)
Assim como uma bússola precisa apontar para o norte, assim também o dedo acusador de um homem sempre encontra uma mulher à sua frente." (Pág. 12)
"As palavras de Deus nunca vão traí-la, minha menina." (Pág. 21)
"Morria de vontade de pôr uma régua numa página em branco e traçar, ali, aquelas linhas que pareciam tão importantes." (Pág. 22)
"Então, o que posso fazer? Deus, em sua sabedoria, deu a cada um de nós algumas fraquezas, e, entre as tantas que possuo, está a incapacidade de recusar algo a você." (Pág. 22)
"Para cada tribulação e cada sofrimento que Deus nos faz enfrentar, Ele tem um motivo." (Pág. 39)
“O que a primeira neve da estação tinha de tão especial?”, pensou Mariam, “o que a tornava tão fascinante? Seria a possibilidade de ver algo ainda puro, ainda intocado? Capturar a graça efêmera de uma nova estação, um adorável começo, antes que tudo aquilo fosse pisoteado e estragado?” (Pág. 80)
“– Vou ser mãe – disse ela, em voz alta. E começou a rir sozinha, repetindo aquela frase, saboreando aquelas palavras. Quando pensava no bebê, seu coração crescia no peito. Crescia e crescia até que todas as tristezas, as dores, a solidão e o sentimento de inferioridade que haviam povoado a sua vida desapareciam por completo. Foi para isso que Deus a trouxe até aqui, fazendo-a atravessar o país de um lado a outro. Agora sabia disso.“ (Pág. 82)
“O tempo podia esticar ou encolher, dependendo da presença ou da ausência de Tariq.” (Pág. 99)
“De todas as dificuldades que uma pessoa tem de enfrentar, a mais sofrida é, sem dúvida, o simples ato de esperar.” (Pág. 114)
“Ninguém discute a sua existência; todos curtem a sua luz, mas ninguém a encara de frente.” (Pág. 120)
“Tem coisas que se podem aprender nos livros, mas tem outras que só mesmo vendo e sentindo.” (Pág. 132)
“– E o riso dela? (...) Era algo absolutamente dominador. Ninguém tinha a menor chance diante dele.” (Pág. 132)
“Pode contar seus segredos ao vento, mas, depois, não vá culpa-lo por contar tudo às árvores.” (Pág. 149)
“O tempo porém é o mais inclemente dos incêndios.” (Pág. 161)
"Começou a achar cada vez mais exaustivas essas tentativas de evocar, de desenterrar, de ressuscitar mais uma vez o que há muito tinha morrido." (Pág. 165)
"O amor era um erro nocivo, e sua cúmplice, a esperança, uma ilusão treiçoeira. E, onde quer que brotassem essas duas flores venenosas, Mariam as arrancava. Arrancava e jogava fora, antes que criassem raízez." (Pág. 226)
"Por mais absurdo que fosse, tinha a sensação de que valera a pena aguentar tudo o que tinham aguentado, só para viver aquele momento." (Pág. 264)
"Até mesmo quem está passando pelas maiores dificuldades consegue dormir, mas quem tem fome, não." (Pág. 270)
"(..) ela tinha dito a respeito de fraturas e colisões fortíssimas que conteciam bem lá no fundo, mas que, às vezes, nós só percebíamos como um ligeiro tremor na superfície." (Pág. 288)
"Bastava-lhe estar ali, ao lado dele. Bastava saber que ele estava ali, sentir o calor daquele corpo junto ao seu, estar deitada ao seu lado, sentir a cabeça dele roçando a sua, a mão direita dele segurando a sua esquerda." (Pág. 332)
"Se tornou algo inteiramente diferente, algo mais brando, que não machuca. Como uma espécie de lenda. Alguma coisa a ser reverenciada e não explicada." (Pág. 335)
"Em poucos anos, essa menina vai ser uma mulher que pede muito pouco da vida, que nunca incomoda ninguém, nunca deixa transparecer que ela também tem tristezas, desapontamentos, sonhos que foram menosprezados. Uma mulher que vai ser como uma rocha no leito de um rio, suportando tudo sem se queixar. Uma mulher cuja generosidade, longe de ser contaminada, foi forjada pelas turbulências que se abateram sobre ela." (Pág. 353)
"Talvez este seja um castigo justo para aqueles que não tiveram coração: só compreender isso quando não se pode mais voltar trás." (Pág. 357)
(...) fiquei imaginando se era assim que brotava o perdão, não com as fanfarras da epifania, mas com a dor juntando as suas coisas, fazendo as suas trouxas e indo embora, sorrateira, no meio da noite.
(O Caçador de Pipas)
Como uma agulha de bússola que aponta o norte, o dedo acusador de um homem sempre encontra uma mulher.