Kelle souza

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MANHÃ CHUVOSA


Manhã chuvosa, ventania, frio...
E foi assim que começou o meu dia já mostrando que minhas emoções estavam de acordo com o tempo, chorosas como a chuva, instável feito o vento, e o pior de todos os pensamentos a frieza quanto a tudo...
Acordei-me com aquela sensação de não sair da proteção dos edredons, mais me acordei, eram 11hs, fui para o banho quente e tudo estava demorando, botar roupa, sapato, arrumar cabelo, tomar café, e quando vi já eram 12h, perdi meu ônibus e relaxei mais um pouco, fui ao banheiro, olhei com sacrifício para o espelho vendo a imagem que me tornei, meus olhos tristes de verem tanta coisa incerta, errada na minha vida, na vida dos que me rodeiam, mas enfim decidida a sair naquela chuva fria, tive que subir até a faixa, esperar outro ônibus que demorou a passar, antes disso liguei para o trabalho, avisei que chegaria atrasada, perdi o meu ônibus de rotina, do outro lado da linha a recepção assim como pessoalmente não foi das mais calorosas e decidi fazer um percurso que chegaria menos atrasada, sai com os dois cartões de vale transporte o TEU e o TRI, mas como até dia 30/04/2011 ainda não havia entrado o valor do transporte no TRI resolvi pedir R$ 2,70 para meu esposo, mais estava confiante que hoje sendo 03/05/2011 as passagens já deveriam ter entrado no cartão, a empresa já deveria ter depositado.
Desci na Avenida Antônio de Carvalho e peguei a linha de ônibus de mesmo nome, passei o cartão TRI e apareceu no aparelho eletrônico “saldo insuficiente” eu olhei para o cobrador e falei:
- Ainda bem que sai de casa prevenida!
Peguei o dinheiro na bolsa e paguei, e ainda disse:
- Já era para eles terem depositado as passagens, ainda mais com esse tempo, não era nada mal ficar em casa hoje...
O cobrador sorriu, passei a catraca e sentei já pensando que teria que descer no meu avô que fica na Antônio de Carvalho ou na casa dos meus pais, decidi descer na casa dos meus pais que haveria mais opções se um não tivesse, no mesmo pátio mora a minha avó paterna ela poderia ter, e desci no meio do caminho, chegando á única que estava em casa era a minha irmã e não tinha um centavo para me emprestar, fui até a minha avó e disse:
- Vim aqui pra morder... – Tem R$ 5,40 para me emprestar?
Aminha avó não tinha e daí a tia que mora com ela começou a revirar daqui, dali e saiu umas moedas não contei direito, pois cometi uma garfe, era aniversário dela, e ela pensou que eu tinha me lembrado e eu não lembrei. Sai dali com muita vergonha e pressa ao mesmo tempo, a chuva não cessava nem um minuto quando estava subindo a lomba pra pegar o ônibus até a Assis Brasil, a sombrinha não resistiu o vento e quebrou, toquei no chão e quebrei mais um pouco só de raiva, mais tive a minha consciência de ajuntar e botar no lixo próximo a uma casa. Continuei subindo a lomba tomando aquela chuvarada, cheguei à parada de ônibus e fui conferir a passagem faltavam R$ 0,15 centavos para eu pegar o outro ônibus assim que chegasse à Assis Brasil e daí passou um, dois, três, quatro ônibus e não embarquei e ai meus pensamentos começaram a se revoltar, porque tantas coisas estariam dando errado na minha vida, porque sai injustiçada da minha última empresa, onde estava bem, conseguindo desempenhar a minha função com exatidão e me sentindo útil...
Por quê? Porque não consegui engravidar quando eu planejei, porque não consegui fazer a carrocinha de cachorro quente render, porque quando trabalhei com meu esposo não consegui fazer render a carrocinha de cachorro quente e ainda tirei dele o foco, porque em 2009 perdi minha avó materna querida e não tive tempo para me despedir, não que o destino não me deu chances, mas porque não percebi os sinais que me foram mostrados em sonhos e na vida, naquele ano também fique desempregada no inicio do ano, mais eu não podia parar, era humilhante depender do meu esposo então comecei a trabalhar na carrocinha e quando folgava ficava em casa, quando poderia sim esta aproveitando os últimos momentos.
Porque tomei tantas decisões erradas.
Porque não tive outras atitudes, em relação ao meu antigo sonho de escrever, de ser uma escritora e ai sim, ser feliz...
Será que desisto fácil, porque até tentei me realizar mandando a minha historia para um concurso da secretaria de cultura, estava confiante, mas lá no fundo eu sabia que não teria chances, li para o meu esposo, a minha irmã leu, acharão boa, que teria chances mais, não foi selecionada a minha historia, não foi uma das melhores, assim como na vida nunca fui a número um, em nada, na escola nunca tirei uma nota dez a não ser nas aulas de religião e artes. Depois desse momento de desequilíbrio sai da parada com a chuva muito mais intensa, a chuva era um resumo dos meus sentimentos dentro de mim, sai caminhando sem destino as lacrimas rolavam o meu rosto, mais a água da chuva também, então eu chorei em paz sem ninguém a olhar...
Caminhei, caminhei, caminhei, e não sabia aonde iria parar, não sabia para onde queria ir, só sabia que queria um lugar pra esquecer de mim... Caminhei a Avenida Protásio Alves a pé, pensando vou ou não trabalhar, mais no fundo eu não queria. Queria sumir...
Quando cheguei próximo ao Porto Verde, era ironia do destino, olhei para o chão e brilhava, não acreditei a baixei e peguei uma moeda de R$ 0,50 centavos, comecei a rir, parecia louca, rindo a toa, na chuva, molhada da cabeça aos pés, o sapato pesando de tanta água, mais lá quase chegando aos limites de Porto Alegre Viamão, já tinha o valor da minha passagem, ironia do destino, e ele estava sendo a tempo irônico comigo, me pregando peças, ironia do destino, mas quem acredita em destino...
Continuei caminhando, arriscando a minha vida naquela avenida movimentada e sem local para pedestre transitar, principalmente em dias de chuva com poças enormes de água, mais continuei, rezando para não azarar nenhum motorista, que meu dia estava péssimo tudo bem mais acabar com o dia de alguém isso não passava na minha cabeça, então comecei a me cuidar. Cheguei ao terminal dos ônibus de Viamão e pensei em embarcar e ir ao trabalho, mais algo dentro de mim não queria. Continuei a caminhar, e quando cheguei ao Monte Alegre, resolvi embarcar no ônibus, estava toda molhada, me senti péssima parecia que as pessoas estavam a me olhar, mais não sei se estavam não encarei ninguém, só olhava para a rua pelo vidro, e a tristeza era grande. Desci do ônibus na minha parada caminhei até em casa, entrei tirei a roupa, os sapatos, meus pés com bolhas de tanta água que beberam. Eu abri o chuveiro com a água pelando e coloquei meu corpo de baixo, deixei lavar meu corpo e aquecer a minha alma, me sequei, coloquei as meias quentes, pijama que desde criança quando visto parece que me abraça, me protege e o chambre rosa, e voltei para onde não deveria ter saído, da minha cama, para o aconchego do edredom.
E a sensação de conforto de segurança voltou, fechei os olhos e a esperança de dias melhores sempre voltam, não existe mundo lá fora, não existe batalha pra vencer, debaixo desse edredom tudo estará resolvido em sonhos, daqui uma ou duas horas não interessa, tudo aqui debaixo esta resolvido.

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Futuro

Sabe ás vezes fico pensando, pensando porque, mais porque penso tanto?
Forma de se entender, forma de querer entender, mais sempre acaba na mesma história de não saber nada, nada que se passa em minha vida, vida que é tipo um vento soprando e elevando os pensamentos, as respostas que tanto quero saber para o futuro.
Futuro que agente tanto espera, mais que é a coisa mais incerta que fazemos durante nossa vida, esperar por algo que não sabemos se vamos alcançar. Na verdade futuro não existe, o que existe são seres humanos querendo fugir do hoje, do agora, do momento. O que existe é um bando de covardes que querem acreditar que o futuro vai ser próspero, que no futuro tudo é perfeito, mais na verdade sempre estaremos num presente esperando pelo futuro, só que lá nunca estaremos, podemos estar com 15, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 100 anos que estaremos à espera do tal futuro maravilhoso, perfeito.
Morreremos sonhando, pensando em como seria o futuro, mais como o futuro é um sonho, nele tudo é perfeito, tudo é excitante, tudo é rico.

Esta é a minha homenagem
Esquecemos meu Deus como esquecemos de como é curto o nosso tempo... Esquecemos de como é precioso cada minuto, sabemos de cor, mas na prática parece que temos a eternidade, que amanhã dará tempo de olhar nos olhos, de dizer coisas que julgamos ou sentimos necessário dizer, de até mesmo sentir a pele aquecida, os olhos brilhantes, o sorriso, ouvir as gargalhadas, ouvir desabafos, ouvir até mesmo besteiras, porque não?
Achamos que amanhã dará tempo de abraçar, de beijar a pele aquecida ainda... E de repente este amanhã não chega e o hoje acabou com todas estas expectativas de um amanhã chegar...
Hoje acabou, só lembrança de um passado, mais parece que ainda dá tempo, não acreditamos, mesmo vendo, não acredito que a areia do passa tempo escoou.
Mesmo sentindo a pele gelada, os olhos fechados, ainda assim é no dia a dia que iremos cair na real que este vento passou e não voltará.
Mesmo que em muitos momentos da vida houve afeto, abraços, beijos, demonstração de amor e gratidão, mesmo assim vai nos parecer que podíamos ter feito mais, nos doado mais, escutado mais...
Mesmo que no vai e vem da cuia de chimarrão, água quente no fogão tenha sido companhia uma a outra, mesmo que em muitos invernos, em muitas chuvas e em muitas primaveras tenhamos dividido o mesmo sol, comendo bergamota, laranja de baixo das árvores de amora e ameixa, mesmo que em muitas receitas, nunca aprendidas porque tinha prazer em vê-la repetir e fazer de um jeito sem igual, mesmo novamente no vai e vem da cuia de chimarrão ter contado histórias de uma vida muito interessante no campo e que elevava a minha imaginação pra outro lugar, fazendo das suas histórias em minha cabeça real e achando tudo aquilo o máximo, mesmo assim ainda sinto que podíamos ter vivido muito mais momentos, que podíamos ter nos doado mais. Podia e não posso mais fazer sua vida mais bonita, mais colorida.
A melhor lembrança que ficará em minha memória da minha doce avó Maria Jandira Moreira da Silva, era seu sorriso ainda de menina e seus olhos que ficavam pequeninos, quando sorria mesmo de felicidade seu rosto ficava com uma luz jovial, mesmo com a idade, mesmo com as marcas do tempo.
Lembranças do rádio sempre ligado na Farroupilha, escutando histórias do cotidiano e comentando e aguardando as sopas de letrinhas, enquanto preparava seu almoço que feito pelas suas mãos nunca mais será igual em nenhuma outra preparação, pois suas mãos tinham uma energia em que tudo que fazia, podia ser a comida mais simples ficava um luxo.
Então por essas e outras lembranças lindas de infância , de juventude que minha avó mesmo que tenha partido desta vida, ficará sempre muito, mais muito viva dentro de mim, será eterna a sua presença dentro do meu coração e se hoje eu tivesse que dizer algo a ela seria “Eu te amo, e valeu por todos os momentos que me chamava de neguinha e me pedia algo, e com muito prazer eu fazia, obrigada avó querida”.
Kelle Souza
Escrito em 07/01/2010

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De mãe para mãe
De mãe para mãe, digo não nos tornamos mães só pelo fato de gerar, nos tornamos mães aos pouco.
Quando no ventre juramos amá-lo sem medida, ser compreensiva.
Quando nasce nos deparamos com uma criatura de olhos desafiadores, que vai testar a sua capacidade e pra cada situação não existe manual de instruções, não existe um controle remoto para dar stop, pesquisar e retornar. Você terá que se virar nos trinta.
Começou a chorar é fome, frio, cólica é colo?
Os primeiros meses o criador e a sua criatura terão que se conhecer, mais terá muito eu não sei... Porque esta chorando? Você embala, embala e se abala.
Você alimenta, alimenta e se desorienta.
Você aquece, aquece e se enlouquece.
E pra cólica tem poesia? Cólica é um inferno sempre começa com hora marcada na madrugada e você ali sem poder dormir, cansada de tantos testes durante o dia e chega à noite hora da prova... Você consegue resolver com colo, com chá, com a simeticona protetora das mães dos filhos que sofrem com cólica, e daí você inúmera mais alguns protetores que você terá durante esse período.
Mais cansada você olha aquele ser ali tão angelical, mãozinhas, pezinhos, todo perfeitinho e se lembra do milagre que você fez, da obra, da arte mais perfeita que você fez em toda a sua vida, essa será a mais perfeita. E daí depois de todo o sufoco você pode dizer: “Eu sou mãe” primeiro ato, porque durante a vida você terá muitos atos pra provar que continua com esse titulo.
Então ser mãe na verdade é ter coragem de desvendar todos os dias o teu filho, e será nessas provas diárias que você irá se tornar a grande mãe, ganhando ou perdendo as provas o importante é ter coragem, aprendemos com nossos erros, mãe nem sempre acerta, mais mãe é aquela que persiste e não desiste.
Enfim eu ainda sou aprendiz, minhas provas ainda começaram, mais a prova da minha mãe esta já terminou e digo, ela já ganhou o titulo, tenho orgulho da dona Margarete que nos ensinou muita ética, tem coisas “palavras” que dizia que repetia que sempre retornam na minha cabeça “ensinamentos” e agradeço os trancos que deu, necessário e o carinho que me deu ou nos deu em momentos tão simples, que passam desapercebidos, mais que depois você pensa e vê que aquilo era um ato de amor.
Te amo mãe, demais.
Kelle Souza – Dia das Mães do ano de 2015

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Tempo Hipócrita

Como começar a escrever depois de tanto tempo?
Tanto tempo para parar e me analisar.
Tanto tempo sem ter tempo pra parar e respirar
Colocar pensamentos e sentimentos em ordem
Parar de guerrilhar consigo mesmo
O tempo, que tempo é esse?
Tempos estranhos de sabores e cheiros, cadê os momentos de emoções? Boas, ruins, mais
emoções... Tudo de repente ficou sem sabor, sem cheiro.
E olho em volta e vejo que todos estão assim, no popular sem sal e sem açúcar. Cadê o
tempero?
Até ao escrever, estou sentindo a falta da alma... Sentada eu vejo que a vida que sempre
busquei certinha... Sei lá já não tem o mesmo sentido que uns anos atrás, mais também sinto
que a vida agitada também não me satisfaz ou completa.
Pontos de interrogações, sinal que mais há na minha vida.
Tentando todos os dias me refazer e descobrir como é difícil recomeçar, tirar tudo que não
serve, defeitos, sofrimentos, eles ficam ali dentro da gente depositados.
Nem o sorriso e nem o choro tem a mesma intensidade e pureza do passado.
Como era bom quando sorria de verdade, quando minhas lacrimas limpavam minha alma, jeito
certo e verdadeiro de se refazer.
Então vemos que no decorrer do tempo nos tornamos todos hipócritas.

Inserida por ksouza