Kauane Mello
Moçoilo de olhar açucarado, que tem meiguice sobrando na alma, não demores muito pra chegar, quero logo me ajeitar nos seus braços e espetar minha pele nesta sua barba rasa. Sabe o que é gato-de-olhos-claros, já cansei de me ferir com esses 'cacos de vidros' espalhados por aí, estou afim de acertar, de aquietar o coração, de me esparramar em amor verdadeiro. Estou exausta de relacionamentos gelatinosos, preciso de um consistente, quente e bem temperado pra já. Mas, que ao mesmo tempo seja também bonito e rico em paparicos. Este do tipo que só você pode me dar. Acelera os passos que eu estou aqui te esperando receosa.
Quem sabe um dia eu entendo o motivo de tanta implicância. Ainda eu descubro porque meus hábitos te incomodam tanto ou o que foi que eu fiz para merecer tanta atenção. O que há de mais em comer doce e salgado ao mesmo tempo? Em preferir cerveja a caipirinha? Chinelo a rasteirinha? Coque a chapinha? O que há de errado em menina frequentar casas que promovem shows de rap e hip hop? Em se sentir mais bonita de jardineira do que de vestido? Em rir alto em uma pizzaria? Em dar "oi" ao um desconhecido? Em fazer um stand up sobre o próprio umbigo? Minha mãe me disse uma vez, que eu não precisava ser igual a todo mundo. Me aconselhou sempre a fazer o bem, ajudar o próximo e ser humilde. Me disse para ser feliz e sempre ouvir meu coração. Me orientou sobre a inveja, os comentários maldosos e o quanto é feio cuidar da vida dos outros. Eu aprendi. Pelo o que vejo, você não. Coitada da sua mãe. Que decepção.
Na verdade, não era amor. Era uma paixãozinha fantasiada, era uma carência de cuidados e mimos. Uma companhia de cinema, uma lareira em dias frios. Um dia já foi amor. Hoje não passava perto. O respeito se perdeu. A posse me sufocou. Acabou. Não me fazia bem.
Me abraça e me enche de paz. Deixa o amor transbordar, não te preocupas tudo vai se ajeitar. Vamos embarcar neste novo horizonte e vamos arriscar com fé. Alguma coisa aqui dentro me avisa que é a felicidade que bate na nossa porta. Eu sei que o frio na barriga apavora, eu sei que mudanças amedrontam, mas eu sei que juntos somos capazes de mover montanhas. A vida é uma só, temos que aproveitar somos tão jovens. Vou com você para qualquer lugar do mundo. Viaduto ou jardim, tanto faz. O que me importa é despertar e ter os teus olhos doces a me observar, os teu beijos quentes a me provocar e o teu amor para continuar me fazendo a mulher mais feliz do planeta.
Tropecei feio. Esfolei o coração, rasguei a alma e fiquei sem um risquinho de força. Pensei em desistir, achei que a felicidade não estava no meu destino e que a minha sina era morrer sozinha, sem nenhum sonho realizado, sem nenhuma história bonita para contar. Tentei me esconder do mundo, joguei no lixo a esperança que sobrou e os planos que guardava na gaveta. Foram duas semanas e três dias mergulhada em mágoas, deitada em um lençol encharcado de lágrimas calejadas, com um coração gritando de dor. Já não suportava tanta angústia, eu morreria de tristeza se naquela manhã o sol não me beijasse a face, se o azul do céu não me revelasse o quanto eu estava perdendo, se a menina do prédio ao lado não desenhasse com os dedos um coração singelo e se o carteiro não deixasse debaixo da porta aquela frase que me fez renascer, querer viver e colocar a felicidade no porvir: Menina, a cana só dá açúcar depois de passar por grandes apertos.
Ele me beijou no canto da boca, deu até para sentir seu hálito fresco tocando o meu nariz e o quanto a sua barba é macia. Ele não deve ter notado – tentei ser discreta – mas, quando senti sua respiração tão perto do meu ouvido, vomitei arco-íris. Meu coração desmaiou, as borboletas invadiram o estômago e enxerguei estrelas, naquela tarde ensolarada. Há meses que ensaio uma aproximação, há meses que fico apreciando o moço de pele clara e sobrancelhas grossas, rapaz das bochechas rosadas que cheiram baunilha. Mas, a felicidade não está só no toque dos corpos, está no convite para o sorvete na quarta-feira, às 19h. Meus pés suam e escorregam na rasteirinha só de imaginar a minha língua tocando o céu da boca dele. É na quarta, moço, que eu te cubro de beijos e mato, enfim, o meu desejo.
Procuro um amor, algum que seja capaz de fazer meus pelos aplaudirem de pé o espetáculo do arrepio se espalhando na minha pele, quando da sua boca saltar besteirinhas no pé do ouvido. Procuro um amor, algum que esteja disposto a passar horas admirando um céu negro, arrebatador e aclarado por estrelas. Procuro um amor, algum que seja criativo o bastante para me surpreender no final de uma quarta-feira cinza e triste. Procuro um amor, algum que seja diferente, que converse com pássaros e se encante com a coreografia que a borboleta dança no intervalo de um pouso e outro. Procuro um amor, algum que seja romântico no inverno, aventureiro no outono, poeta na primavera e companheiro de Budweiser no verão. Procuro um amor, algum que me enlouqueça com um beijo, que me faça perder a cabeça ao esfregar a barba por fazer no meu pescoço e me contorcer de prazer quando me invadir entre os lençóis. Algum que me leve para conhecer o ‘felizes para sempre’. Caso você conheça alguém que talvez possa me oferecer este tipo de amor, por gentileza, não hesite em me comunicar. Há anos que eu o procuro.
E se não há mais brilho nos olhos, borboletas desfilando no estômago e coração em ritmo de carnaval, pode estacionar, ensaiar o término na frente do espelho e tirar o ponto final do bolso. Acabou, esfriou, é bobagem persistir.
Desembrulhei e devorei - feito bombom - aqueles olhos profusos, na esperança, de engolir o coração e me rendar no vestido da moça que girava feito criança em carrossel
O amor caía do céu, envolvido numa garoa fina de verão.
A moça dos cílios compridos não percebeu e mais uma
vez abriu o guarda-chuva ao invés do coração
Ele chegou, sem ramalhete de flores do campo, mas com um punhado de ameixas fresquinhas. A barba por fazer, a pele morena queimada do sol e os copiosos olhos esverdeados. Entre uma prosa e outra ele me fitava, com um sorriso menino, oscilante, com uma facécia nos lábios, o suficiente para me roubar o riso. As mãos itinerantes viajavam do leste ao oeste da minha cintura. Quando nossas bocas se avizinhavam e o nariz dele roçava o meu, o coração flutuava – devagarinho – feito nuvem. Depois da tempestade, a gente sempre procura um lugar recheado de paz para repousar e no colo dele eu conseguia meditar. Ele me fazia escorregar em afagos, me causava uma clareza absurda e uma convicção infantil. Era como ter quinze anos de novo só que livre das espinhas e com mais sensatez
Suplica felicidade, mas vive querendo apagar o riso do outro. Chacoalha a bandeira branca, mas, é sempre quem começa a guerra. Ateia fogo e intercede para os bombeiros. Bate e esconde a mão. Se veste de boa moça para fantasiar o coração amargo, apinhado de maldade. Um cochicho aqui, um burburinho ali e um desejo enorme de assistir a derrota do outro. Mal sabe ela que metade de mim é amor e a outra também. Que os pensamentos céticos dela não atingem os meus que são revestidos de afagos. Que esse teatrinho de vilã fingindo ser mocinha está mais batido que carrinho de choque. Que com toda essa ‘super produção’ tudo o que consegue é meu desprezo. Tenho pena. Nojo. E uma tremenda preguiça. Troca esse olho gordo por amor, por favor!