Karyston Mazzini

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⁠na minha esquina tem árvores
onde fede o tarumã.
e que somado à minha culpa,
traz entorno, um terror admissível.

honre em vida pois em morte já morto,
morro montanha marido mirando marinho.
eu sou a razão do desconsolo desse povo.
que por mim circunda na saída para direita e lado,
em direção ao cemitério.
por mim foi destinada a morte...
seja por espada ou desejo.
foi difícil ver minha avó fraquejando
com tanta dor expressa,
que não se podia manter o queixo preso
chorando a dor que sua mãe sempre quis.

e devolta à minha pose malandra apoiada no corrimão...
eis meu tênis embarreado,
meu cabelo mal transado,
a horta não colhida,
e essa culpa de não sentir falta,
não sentir dor ou chorar.

Queria ter chorado no enterro do meu avô...
mas talvez os vinte e sete metros tenham atrapalhado.
ignorei, pois, depois de alguns dias eu choraria e entenderia

⁠Encriptei minhas sensações,
das leves às mais pesadas,
dentro de caixões
e salas fechadas.
vazio me estive apresentando.

Da minha janela,
já é um mar de folhas.
de papel e árvore.
fuligem e ave.

Como uma moça de ferro, sou escravo do poder.
poder alcance e poder opção.
no entanto, eu podia
ou melhor, eu pude...
embora pudera ter vivido como bem quisesse,
escolhi a farmácia
ao invés da vacina.
acentuando um resumo, eu não sabia,
e não soube lidar com minhas escolhas.
logo, não diga mais que este amor é como um sonho.
pois sonhos acabam de manhã, e eu não quero mais dormir.
impossível a mesura da inveja que tenho do castor.
eu sou o pino da Granada.
a falta de fluidez do meu pensamento, me confusa
por isso, quero trazer à memória aquilo que me traz esperança.

O poeta odeia o verbo
mas observa, assiste e propõe...
trate de fazer verso melhor!
Anda pra onde poeta? faz o quê?
se conserta, seja sincero.

Aposto que nunca uma folha cai sem que haja porquê.
e que irei fazer na floresta, se penso noutra coisa estranha à floresta?
meu nariz escureceu como a noite, disse o velho sambista.
ora esse meu pulmão de ferro...
acontece os dedos de se curvar e pronunciar em sussurro.
apneia de frase que desejo.
azar de sempre fase combusta.
amar a frase robusta, que deva
arar ou cultivar a parte putrefa.
tudo isso agrega, pois,
tardias jamais foram as graças divinas.
é verdade, sem mentira
certo, muito verdadeiro.

Vivo comigo redondado de vírgula,
vírgula muita, frase tanta...
isso me gasta, me frustra.
e por isso, meu pecado virá a ser meu epitáfio.
e meu século virá como armagedom
e minha ferrugem dará testemunho da minha ruína
e os clamores daqueles que eram poucos
entrarão nos ouvidos do Grande Eu Sou.
pois imensas são as graças celestes...
à todo aquele que o estima.

⁠Que os condores reclamem do meu poliéster,
da minha argila e do meu livro sintético...
pois não são eles a culpa da minha enxaqueca.

Em flagrante, nisso me retrata uma distância exposta,
mas ora meu pensamento, que enganosa largura...
filtra a fuligem sem esbordar aos pingos.
e fingido, assim, reforja a verdade.
mas não é a verdade, a culpa da minha enxaqueca.

Ativo e desato o bloqueio,
contudo, anseio que seja traga uma carta.
Ativo e desato o bloqueio,
pra que assim eu seja capaz de fundar um verso.
mas mesmo assim, não é ele a culpa da minha enxaqueca.

Logo saberei à quem me prometo há dias...
que até agora me é transparente.
Logo trarei toda a minha liberdade, sem têmpora ardente.
pois não são meus sorrisos ensaiados, a culpa da minha enxaqueca.

Acredito que isso te atiçou a saber o que é a culpa da minha enxaqueca, e eu digo:
é todo aquele verso engolido, que sem saída aparente,
acaba sendo digerido e posto em outro lugar, com outro aspecto.
essa é a culpa da minha enxaqueca

⁠enquanto a babilônia cai,
nova Iorque se afunda
por um simples terreno poluto.

que os sóis sejam sempre vistos,
sustenidos ou não.
que venham sempre alhos
sobre cebolas ingratas.

será que as pessoas que moram no cúmulo da cidade,
vem aos ônibus vazios para trabalhar em bairros mortais?.