Karlfeldt, Erik-Axel

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"nossos pais"
Seus nomes nao figuram nas crônicas antigas
- eles viveram na humildade e em paz -
no entanto, posso acompanhar a sua história
desde os tempos mais distanciados.
Sim, foi aqui, neste velho país de ferro
que arrotearam o campo junto à riba do rio
e foram arrancar os minerais à mina.
Ignoravam a servidão e as boas maneiras,
viviam omo reis em suas próprias casas,
e se embebedavam por ocasião das festas.
Na primavera da vida, abraçavam donzelas,
e tomavam de uma para esposa fiel.
Temiam a Deus, honravam o soberano,
e morriam em silêncio, saciados de vida.

Nos moments de dor, de tentação,
eu penso em vós, meus pais, pedindo forças.
Bem soubestes guardar a vossa pobre herança,
por isso é que sorria às dádivas do destino;
e quando a ronda dos prazeres me convoca
meu pensamento se volta para o vosso pão frugal:
terei direito de reclamar algo melhor?
Como por um manancial me sinto refrescado
quando venço o desejo e me encontro aturdido,
com isso aprendo a recear mais os anseios da carne
que os encantos do mundo e mesmo que [os de] Satã.

Meus pais, eu vos revejo nos meus sonhos
e tenho o coração e alma entristecidos.
Como uma planta, sinto-me arrancado
da terra que me viu germinar e crescer:
seja como for eu vos abandonei.
Recolho os sons do outono e do verão
e lhes dou uma voz suave de canção.
Mas se em meu poema ressoa por acaso
um som de tempestade, a voz de uma cascata,
um pensamento viril e destemido,
se nele ouvimos cantar a cotovia
e vemos o luar sobre a landa deserta
ou se a floresta imensa em meu canto suspira,
é que, a gerações e gerações, em silêncio,
vós já o cantaste ao som das vossas achas,
junto à vossa carreta ou ao pé de uma charrua.
in: Canções de Amor e Canções dos Bosques. Trad. Ivo Barroso

Inserida por henriquenasci