Karina Perussi Pinceta
Querer ser livre.
Ter como direito ser livre.
Libertar-se de... sei lá o quê.
[ou quem]
Sair sem hora pra voltar,
Sem hora pra voltar a sair.
Eu volto em casa quando tudo melhorar,
Quando tudo tiver um sentido,
Quando a alma puder voar
E quem sabe ir pra qualquer lugar.
Procurar carinho.
Calma.
Abrigo.
Poder admirar o sol,
Ou o vento levando as nuvens.
Atravessar a cidade, ou mais.
Olhar com os olhos de uma criança,
Onde tudo é [parece] tão belo.
Chegar mais tarde sei lá aonde.
[mas que seja bem longe]
Tentar entender porque as coisas são como são,
[embora não encontrarei as respostas]
Molhar o cabelo na chuva,
Sujar a barra da calça no chão úmido...
Passar horas colhendo folhas,
Do outono tom sépia,
E guarda-las como lembranças...
[sei lá do quê, ou de quem, não importa]
E quando tiver que voltar...
Se a saudade bater,
Também eu vou bater à porta
Voltando pelo mesmo caminho,
Mesmo que só pra dizer:
Eu estava certa,
Tudo podemos,
Se molhar na chuva em pleno verão,
Driblar a solidão
Como as águas driblam as pedras
Ser livres,
Sonhar,
Ir tão longe,
Até mesmo voar...
Nunca acreditei que distância fosse um problema para quem ama. Porque o amor é infinito, a distância não. E sempre há meios para se chegar a qualquer lugar: automóvel, ônibus, avião, navio, até mesmo foguete.
Não se pode medir o amor como se mede uma estrada. E nem se percorrem rodovias como se percorrem os caminhos do coração.
Os caminhos do coração são mais difíceis, pois são cheios de buracos, desvios, barreiras quase que intransponíveis, altos e baixos.
Além disso, você deve estar preparado para certas ocasionalidades, como por exemplo, fulano ou fulana querendo lhe “ultrapassar” pra chegar primeiro.
Nesse caso, você deve confiar em você e acreditar que tirou carta na melhor auto-escola do mundo: na sua própria vida.
Portanto, uma vez chegada a reta final desse árduo caminho, acho que aquela estrada medida, quilometrada, fica pequena, quase que insignificante... e acaba não sendo nenhum problema, mas a solução.
O pra sempre, sempre acaba...
Nosso maior erro está em achar que nossos relacionamentos serão “para sempre”. Acreditamos demais, nos decepcionamos demais... Logo, o que mais nos frustra são os sonhos que acabam ficando para trás, as promessas que nunca se cumprirão, os momentos que nunca mais irão se repetir. O abraço forte da depedida, o sorriso e o brilho nos olhos da chegada... O chocolate dividido na rodoviária pouco antes de um embarque... A roupa suja de terra depois de brincar de se jogar na grama.
E você vê desabar os sonhos, desde os mais simples como colar estrelinhas brilhantes no teto, até aquela viagem onde tenha neve e se possa ficar abraçadinho pra passar o frio. E você sofre ao ter que arrancar a força, contra sua própria vontade, as fotos do mural que aos poucos vai ficando vazio, a foto do porta-retrato que você olhava todos os dias quando acordava... O vazio ultrapassa nosso interior e toma conta de tudo a nossa volta.
E não há mais sentido em passar os dias riscando o calendário, nem em passar as noites vendo a lua... Você sabe que o telefone não vai tocar, ou melhor dizendo, cada vez que ele toca é um susto, uma esperança que se interrompe no segundo seguinte ao ouvir “Alô”...
É não é fácil pra ninguém... partidas provisórias machucam, partidas definitivas nunca cicatrizam. E não há tempo que cure, qualquer grão de areia que toque a ferida traz a tona toda a dor do início. E não há distância que cure, porque os pensamentos e lembranças vivem voando por todos os lugares, entrando em nossa mente sem nossa permissão, não importa aonde estamos. Nesse momento, os sonhos podem adormecer por um bom tempo, e talvez demorem muito para acordar. Só devo fazer o possível para que eles não morram de vez. E tomara que a dor também não seja para sempre...
Um dia você vai se lembrar de mim. Os números da sua agenda passarão claramente na sua frente e você não terá nenhum para discar. Talvez, até tente o meu, mas até lá posso não querer mais te atender ou talvez nem seja mais meu aquele número.
Você vai tentar chamar alguém, mas não vai haver ninguém pra sair correndo e te dar um abraço, nem te colocar no colo ou acariciar seus cabelos até que o mundo pare de girar. Nessa fração de segundo, quando seus pés perderem o chão, você vai lembrar do meu carinho e do meu sorriso infantil. Virão súbitas memórias gostosas dos meus beijos e abraços, da minha preocupação quando você saía e esquecia de pegar a blusa de frio...
E só terá uma música repetindo no seu rádio: a nossa doce sinfonia. Em um novo momento você vai sentir um aperto no peito, uma pausa na respiração, e vai torcer bem forte para ter o nosso mundinho de volta, mundinho difícil, mas cheio de amor e carinho. Vai ouvir a chuva cair e vai sentir um imenso vazio por não ter um grande amor pra compartilhar esse momento. Não terá alguém para brincar de se jogar na grama nos dias ensolarados, nem para adimirar o pôr-do-sol sobre a ponte da pequena cidade. Talvez, nem consiga mais sentir o frescor do vento. O nome disso é saudade, aquilo que eu tinha tanto e te falava sempre.
E quando você finalmente bater na minha porta, ela estará trancada, ou se aberta, mostrará uma casa vazia. Seus olhos te ensinarão o que são lágrimas, aquelas que eu te disse que ardiam tanto. E você vai lembrar dos carinhos nas costas pra você dormir, dos paninhos quentes pra aliviar sua dor de madrugada, da minha inocência que ria de tudo que você falava, do meu jeito bobo, do meu jeito de tentar te fazer feliz... O nome do enjôo que você vai sentir é arrependimento, e a falta de fome será a tristeza, a mesma que eu senti por tanto tempo.
Um dia você irá se deitar, e quando olhar para o teto do quarto escuro, vai se lembrar que as estrelas poderiam estar lá, para iluminar todas as suas noites frias. Mas tudo o que você verá é a escuridão. Então quando os dias passarem e eu não te ligar, quando nada de bom te acontecer e ninguém te olhar com os meus olhos encantados... você encontrará a solidão. E você vai ver que diante de tudo isso, alguns dos meus defeitos poderiam ter sido perdoáveis. A partir daí, o que acontecerá chama-se surpresa. E provavelmente o remédio para todas essas sensações...
...é o tal do tempo em que você tanto falava!
Chegamos tão perto...
Eu lembro da gente ali sentado na grama,
No parque, a observar,
O sol, as flores, a doce criança,
Que livre podia brincar...
O sol, o desenho das nuvens, sob o céu...
O vento e o meu cabelo ao léu...
Eu lembro da gente ali no banco da praça...
Traçando planos que não vão chegar,
Observando estrelas e achando graça,
Pensando pra onde viajar...
Eram dias, eram noites,
Até que a alegria se entristeceu,
E os sonhos foram só sonhos,
Da realidade que não aconteceu...
Mas é hora de dizer adeus...
Eu não consigo mais agüentar,
Fazer as pazes ou terminar.
Fizemos de tudo pra tentar...
Mas nem meus erros, nem os seus,
Puderam nos ensinar...
Eu não sou mais a mesma...
Você não era o príncipe dos meus contos,
Não da forma que sonhei,
Em vão esperei, me entreguei,
Pra nunca mais voltar pra mim...
Tropeçamos, caímos...
Dessa vez pra não levantar,
Nós já tentamos, insistimos,
O que tinha pra tentar salvar...
É hora de dizer adeus...
De apagar de vez cada passo teu,
De não ouvir mais a nossa doce sinfonia...
De jogar as estrelas que você me deu,
Que o “nosso” teto um dia teria...
É hora de arrancar as fotos,
Pra nunca mais voltá-las em seus lugares
(Mas... quais eram seus lugares afinal?)
É hora de deixar pra trás
Tudo o que não deu tempo de ser,
O tempo se esgotou e não volta atrás...
Não há mais nada para acontecer.
É hora de se preparar,
Não vai ser tão fácil assim...
O telefone não vai mais tocar,
Será que você também vai lembrar de mim?
Um dia prometi a você,
“Todo o amor que houver nesta vida”
E este será sempre seu,
Independente de sua partida...
E a música que você me deu,
Sempre vai estar aqui na memória,
Assim como você me aqueceu
Quando fazia tanto frio e fomos embora...
Agora o que nos separa é mais do que uma estrada,
E tudo fica tão mais distante...
Não haverá mais o brilho nos olhos da chegada,
Só o gosto amargo do último instante.
Nossos corações ainda doem,
E gritam, querendo reviver...
Não há o que possamos fazer,
Agora apenas as lágrimas dirão...
Se tudo o que fizemos foi em vão...
E a gente chegou tão perto,
Quase no céu, quase na lua...
Uma pena que não deu certo...
A culpa não é minha, e nem sua.