Karina barros
Eu tenho saudades do que eu não vivi. Minha alma é velha. Meus gostos são antigos. Meus valores são os mesmos dos meus avós. Tenho saudade das rodas de música, dos saraus que não participei. Do surgimento da bossa-nova, do auge do sucesso do Chico, do Caetano, Elis e tantos outros que nos deixaram um tesouro inexistente nos dias de hoje.
Sou nostálgica em relação a sentimentos. Quando eles eram desprovidos de outros adjetivos que hoje sempre o acompanham. Amar vem junto de beleza e dinheiro. Ser amigo só se for acompanhado de várias vantagens. Fazer um favor? Só se tiver algum benefício em troca. Ser gentil, bondoso, cavalheiro? Pode esperar que deve ter algo horrível por trás disso.
Sinto vontade de voltar no tempo quando me lembro daquelas praças onde os jovens faziam “foot” nas tardes de domingo. Os aspirantes a “chefes de famílias” caminhavam de um lado para outro enquanto as moças conversavam com as amigas...a conversa pouco importava, mas os olhares diziam tudo. Buscavam aquele certo olhar, que podiam remeter a um amor, a uma família e uma vida inteira juntos.
Saudosa época em que o respeito era respeitado. O respeito pela sabedoria dos mais velhos, pelos amigos, pela esposa e pelo marido. Respeito principalmente pelas pessoas que você não conhecia.
Saudade da é poça
Em que a repressão era grande, mas a criatividade maior ainda. No tempo em que as injustiças sociais e políticas eram combatidas com letras incrivelmente inteligentes, com livros que nos faziam romancear, com atitudes que viraram história.
Quero o idealismo antigo, não utópico, não hipócrita que enfretava as conseqüências porque a causa era nobre. Os heróis do passado eram gente comum que andava pelas ruas.
Eu nascia quando queria ter a idade de hoje. Eram épocas duras, difíceis, porém era tudo mais real, mais verdadeiro mais original. A juventude de hoje nada aprendeu com os jovens do passado, parece que tudo se perdeu...
Pensava-se antes de falar, de dançar, de escrever. As ações tinham uma explicação. Os sentimentos eram colocados para fora de uma forma racional porém não menos emocional.
Os amores eram mais ardentes, as histórias mais empolgantes, as revoltas mais surpreendentes, as pessoas mais humanas.
Saudade, muita saudade daquela época...
As melhores coisas da vida acontecem quando a gente menos espera, aliás, a espera de qualquer situação é tão útil quanto preocupar-se com o que ainda não aconteceu. Mas sempre esperamos... A melhor festa, a melhor viagem, a melhor hora para se declarar a alguém, o dia especial para dar um presente, a semana que vem para mudar de hábitos, o dia seguinte para tomarmos uma importante atitude, o melhor momento para dizer que ama, o dia em que ganharemos muito dinheiro ou que encontraremos alguém especial.
Essa espera sempre do amanhã, do que não podemos enxergar nos tapa os olhos para o que possa acontecer hoje. A velha história de viver o hoje sem se preocupar como futuro, sem deixar para quando conseguirmos o que a vida inteira sonhamos que seria o melhor. Porque a vida de repente toma rumos que jamais imaginamos e que quando nos vemos dentro das mais inusitadas situações percebemos que não havia jeito melhor de acontecer, hora melhor, momento melhor e dia melhor... Eles acontecem quando menos esperamos. Num instante as nossas certezas viram pó, a nossa fortaleza se desaba e nossa lista de espera torna-se cada vez mais longa, mais cansativa e mais distante. A conclusão torna-se óbvia e cada dia que passa, cada espera que não chega, a cada momento surpreendentemente inesperado e totalmente certo que nos acontece, é que mais uma vez reforçamos a idéia de que hoje, é o melhor dia de toda nossa vida porque foi nele que quem eu MENOS esperava apareceu, que meus ouvidos puderam escutar tão bela música que esperava há tanto tempo, que meu estômago esfriou como há muito tempo não esfriava, que meu coração disparou sem o mínimo esforço físico. Foi nesse dia que eu não esperava nada que eu dormi feliz sem nem pensar no dia seguinte...