Juray de Castro
SÍNDROME DA DESILUSÃO
Após a derrocada da decepção, por vezes resgatamos uma euforia interior que nos diga que somos mais fortes que nossas emoções... Que nos faça acreditar que estamos acima da dor que nos é infligida. Ah! Mas como esta euforia é fugaz... Jamais irá conter o desmoronar de ilusões.
Assim, inconformados, resta-nos provar à desilusão que traga nossos sonhos, sentindo o seu amargo sabor, no palato das profundas reflexões. Mas não se engane... Porque por mais amargo que seja, este é o remédio... Por vezes, desiludir-se é o caminho para a cura.
Quando escrevo, o processo criativo se assemelha a um parto a fórceps, e não raro o texto nascituro vem à vida aos pedaços...
Um texto meu, tem um significado pra você...
Mas também terá um significado para tantas outras pessoas, que nele encontrarão outros significados que não os seus... E talvez, eu não queira significá-los...
Não agora, não para qualquer pessoa.
Não, não rasgue a página... Pois ela, como muitas outras, compõe o livro de sua vida, e por alguma lógica ali foi inserida. Simplesmente vire-a, e ela se juntará a tantas outras páginas viradas, que fazem parte da memória de tudo o que você já viveu.
Assim, se um dia o tempo provocar suas lembranças, cada página folheada será testemunha viva das histórias que compõem a sua vida, e da intensidade com que foi usufruída. Afinal, se a vida é feita de lembranças, nós somos tudo aquilo que intensamente foi experimentado ou vivido.
Eu já havia percebido tudo isso germinando em você...
Ai então você me diz; "Não... Não faço o estilo romanticazinha não..."
Mas, veja bem que paradoxo este pensamento tão ortodoxo: Como não? se tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se disolve?
PARA COMPREENDER RETICÊNCIAS
... E se você não estiver aqui?
Aqui não estarei tão somente, e somente se...
Tendo mergulhado em seus olhos,
Haja encontrado na trilha dos seus sonhos,
A formula para saciar mil desejos!
... E se eu não estiver aqui?
Ahhh! Então não sabes?
Como não? Se terás encontrado morada no meu coração?
"Se chovesse felicidade, eu lhe desejaria uma tempestade só pra lhe ver encharcada de alegria e seu rosto molhado de sorrisos
Nada de novo? como não?
O que nada quer significar?
Será que de novo não há nada?
E se nada há de novo então o que esperar?
Na verde nada!
Porque não há como mensurar nada demais.
Já que nada havendo demais...
Na verdade nada haverá.
LENDO NAS ENTRELINHAS...
“É... As reticências...
Você me conhece bem, moço!”
Sou como a esfinge...
Se me encara nos olhos...
Desnuda a minha divindade!
Se me olha os pés...
Descortina-me como um templo!
Não me deixas outra alternativa senão sentenciar-te;
Decifras-me ou devoro-te!
EU POEMA
Meu poema...
Meu poema é saudade, embora não seja filho da tristeza...
É esta força que lhe invade...
É amor... É Nobreza...
É o sorriso lacrado...
No silêncio da Noite que passa...
É a espera constante,
No brilho da estrela distante.
Meu poema é punhal de dois gumes,
No brilho de olhos matreiros.
É a verdade que corta...
Que corrompe a tristeza infinda...
Eu poema...
É o provérbio mais simples.
É a goiaba madura...
À espera de quem lhe devore.
O POUSO DA PALAVRA
(Uma homenagem ao poeta baiano Damário Cruz)
A voz do poeta calou-se,
Cachoeira silenciou.
O poeta, já não canta mais o encanto do rio,
Que ao longo do tempo seus olhos seduziu.
Mas corre a boca pequena, uma curiosa cantilena.
Sobre um fotógrafo que habitando a alma do poeta...
Partilhava deste convívio nos cômodos do seu coração.
E encantado pelos sonhos...
Que o poeta aos ouvidos sussurrava.
Ansiava em levá-los aos olhos...
De quem os enxergasse com emoção.
Desde então...
Mesmo antes que o poeta em "Gran finale"...
Anunciasse sua partida,
Deixou o fotografo em Cachoeira, uma janela do tempo.
Onde através do espelho d’alma
Pode-se hoje contemplar o Pouso da Palavra do poeta.
O PROGRESSO
O progresso...
Com unhas de ferro!
Destrói a terra em busca de espaço...
Com paços de chumbo!
Recalca os homens ao submundo...
É... É o progresso!
Progresso que um dia serviu-nos...
Ao gerar a Soterópolis que nos abriga,
Mas que um dia sorveu-nos...
A gerar contendas e intrigas.
Será que de fato temos certeza?
Da realidade que isto seja?
Ou incautos vedamos os olhos...
A este monstro, que se chama progressópolis?
INTERESSANTE OUVIR A MELODIA “CIO DA TERRA”
Desperta-nos a percepção de que;
Debulhar o trigo é o nosso trabalho...
Recolher cada bago do trigo é uma obstinada conquista...
Forjar no trigo o milagre do pão é a nossa missão...
E se fartar de pão será depois de tudo feito, o nosso quinhão.
Assim; tome do trigo nas mãos a farinha como uma benção.
Amasse-a de tal forma que no amasso seja evidente o carinho
Molde-a como quem dá forma à vida
Pois há de existir sempre uma vida à espera para fartar-se do “cio da terra”, o pão.
Vivemos a utopia de que compomos uma sociedade civilizada, quando na verdade, a barbárie como uma sombra, está á espreita, à espera tão somente de uma oportunidade para tomar de assalto o mundinho perfeito que criamos só para nos enganar.
Por vezes, ser feliz implica descobrir quais chaves precisamos usar para abrir as portas das nossas vidas...
Amor é algo que você só sabe exatamente o que é quando encontra o destinatário... Por isso as pessoas vivem a perguntar o que é o amor... Querem um rótulo que o identifique, mas, por vezes ainda não aprenderam a compreendê-lo na singularidade da sua descoberta, do seu significado...
Aprendi com o filósofo e crítico de arte italiano, fundador da cadeira de crítica de arte na Universidade Federal da Bahia, Romano Gallefi, que a análise crítica exige distanciamento estético, neste caso, da estética, ou da forma como estamos habituado a ver as coisas.
O SONO DOS JUSTOS
A cada dia podemos repousar...
E despertar melhores do que somos.
E caso assim não aconteça...
Não tardará a finitude em conceder...
Ainda que seja este, o derradeiro sono.
Ainda que seja no ultimo repouso
O desejado sono dos justos.
Puedes decirme;
"Sé delicado y esperá,
Dame tiempo para darte
Todo lo que tengo..."
Entonces debo decirte mi Julieta Venegas...
Voy a ser amable con usted!
comienzo por decir,
no es una mujer a ser cantada...
pero que se debe recitar!
Ser legal com cada pessoa que cruza nossas vidas é missão de ser de cada um de nós. Só crescemos como pessoa, quando compreendemos que odio, raiva e inveja são sentimentos que envenenam o espirito, mas a bondade nos liberta para a felicidade.
O tempo é uma escola onde não se passa de ano ou de semestre... O compromisso real é com a maturidade. Por isso pouco importa se atingimos 1.5, 2.8 ou 5.6... Para a vida não há formatura, não há colação de grau, tampouco se avalia uma classe... A vida dá a chance de que cada indivíduo avalie a si mesmo. Eu, você, todos nós estamos inseridos neste processo de crescimento a que chamamos vida... E neste processo me vejo por vezes olhar para trás, vislumbrando o caminho que trilhamos até aqui.
O fato é que, sorrindo, sofrendo ou nos fazendo sofrer, ao longo da vida vivemos experiências que nos fazem compreender lições que mais cedo ou mais tarde haveremos de inserir no nosso aprendizado individual, e estas, ficarão para sempre marcadas nas nossas lembranças. Teremos conquistado assim mais uma aprovação, das tantas que a vida nos irá submeter, e esta conquista será sempre individual, será só nossa. Poderemos celebrá-las com muitos, mas jamais poderemos responsabilizá-la a ninguém.
O horizonte nos parecerá sempre belo. É la que nossas esperanças se põem todos os dias... Mas se não prestarmos bem atenção à nossa volta, fatalmete iremos cair inesperadamente em buracos espalhados no caminho...
Qual o espectro da beleza que me encanta?
O que me encanta em todos os seus encantos bela,
É a fera que existe em você.
A humildade de um coração grandioso,
A beleza desta alegria que contagia,
A perspicácia fugaz das respostas ao que o mundo lhe traz.
É a moça da cabeça bonita que lhe habita,
É saber que quando bela e fera se fundem em um único ser,
Não há “monstruosidade” a temer.
Sonhos bons são deliciosas idealizações da alma...
Pesadelos, são inquilinos que se apossam da nossa morada, do aconchego da casa que habitamos. Basta sairmos por um momento e apossam-se do nosso claustro, conduzindo-nos por uma vida paralela da qual só tomamos conhecimento quando o auge das suas orgias afloram ao nosso consciente nos enchendo de pavor pelo contato com o estranho que em nós habita, e com o qual dificilmente encontramos. É como chegar em casa no fim da madrugada e perceber que um estranho foge furtivamente pelas portas dos fundos quando enfiamos a chave na porta.