Júlio Corrêa
Porque o amor é para quem tem coragem de Ser e nao para quem apenas Está para a vida. Por isso, mesmo indo na contramão, não desisto da felicidade, não desisto de mim em nenhum instante.
Eu demoro a aceitar alguns fatos que transitam pelo mundo da emoção. Sou muito agarrado a conceitos românticos que andam em desuso, tipo "Amor é pra sempre". Talvez por isso, tenho perdoado tantas vezes os erros da pessoa amada. Por outro lado, quando digo que tudo terminou e saio em busca de outro motivo que me encante, isso não é um aviso, é um momento único. Não tem volta.
Preciso sentir a verdade em suas palavras quando tenta me seduzir. Já não me emociono tanto como antes devido às traições que me empurraram garganta abaixo. Mais que isso, necessito que tenha atitudes que justifiquem seu Eu te amo.
Experimentei o doce e o amargo da vida ao seu lado. Quando eu estava no alto do edífico, olhando as maravilhas do mundo, encantado com o presente de estar amando, você me empurrou antes que minhas asas estivessem prontas pra alçar vôo. Enquanto fui em direção ao solo, você fugiu pra uma nova aventura. Passei um ano em reabilitação, minhas asas fortificaram-se, e hoje estou aqui pra lhe ofertar ajuda, pois sei que está em completa escuridão.
Faz-se necessário possuir um mínimo de bom senso pra não invadir a privacidade do outro. O silêncio de cada pessoa deve ser respeitado.
Vejo-me entrar num incêndio pra tentar salvar o amor entre as chamas.
A dúvida que me consome é saber se ainda existe coração ou se tudo virou cinzas.
Que a chuva apague logo o incêndio e de tempo de estar vivo; que ainda haja esperança em meio a tantos escombros.
Prefiro ficar somente com as lembranças de um tempo feliz que vivi ao lado do amor do que ficar tentanto eternamente salvar o fim de um relacionamento. Nada dura além do necessário.
A melhor resposta para o fim de um relacionamento é mostrar para o outro o quanto você está melhor sem ele.
A vida é feita de escolhas. Você sempre soube disso. Não dá para querer as coisas pela metade, apenas pelo lado bom. Assuma os dois lados da trajetória que resolveu seguir. Não vou lhe emprestar meu lenço para secar suas lágrimas débeis. Já estou em outra direção, com outros alguém para cuidar e doar meu afeto.
Eu fiz da nossa história a razão da minha vida. Fechei portas, abri estradas, plantei árvores, arranquei espinhos... Corri, sangrei, sorri. Fiz tudo e de tudo um pouco me transformei para agradar seus desejos sempre tão intensos. Não me arrependo de nada.
Agora me olhas com tristeza; eu, apenas, com indiferença. Não derramo lágrimas por amores deletados da minha alma.
O ser humano está se transformando em um amontoado de adjetivos banalizados: egoísta, invejoso, falso, traidor,calculista...
Caro Oscar Wilde, hoje há tantos Lorde Alfred Douglas que há de ser ter um cuidado redobrado pra não cair em desgraças.
O amor é para ser levado a sério. Ele não gosta de prateleira, nem brinca de esconde-esconde. Na verdade, ele não gosta de ser levado. Ele se instala. É dono, senhor intransferível.
O amor é uma avalanche num desfiladeiro – precipício de boas intenções. Contém todas as reticências, todos os pleonasmos. É o ponto final iniciando o período. É o desvario ambicionado das emoções.
O amor não pula numa perna só, como o saci-pererê. Ele usa todas as que lhe são alternativas.
O amor aniquila projetos a curto ou longo prazo. Concede esperar, mas cobra uma atitude e as contas com reajustes. Não aceita o faz-de-conta.
O amor é imperioso, sendo que, em fúria, se permite a doçura extrema e se torna vulgar e frágil como um favo de mel.
O amor é um par em um. É a célula recomposta. É a correspondência plena.
O amor é uma estrela de primeira grandeza. Ilumina a quintessência do universo, do interior para o exterior.
(Do meu livro: E-mails para Clarice)
TORPEDO POÉTICO
Só sei que de alguma coisa eu sei
*é sempre mais difícil ancorar um navio no espaço
Sem amarras
sem espias
sem cais
você corre
esconde a fala-resposta
apaga meus torpedos de desespero
desliga o celular
Fico sem ponto de atracação
sem cumplicidade
sem beijo
Roupa pendurada no varal da ventania
garrafa quebrada pela incompreensão
corpo vazio
Uma onda morde meu sonho
engole minha gravidez
Seus lábios tipo A
têm medo da minha boca tipo AB
* Ana Cristina Cesar
do meu livro Substantivo Desvairado-Sedutor
Foi tão sutil a lembrança de você me tomando pela mão que quando dei por mim, estava indo em direção ao mar. Misturei agua salgada com lágrima e ninguém percebeu que meu coração permanece em processo de cicatrização. Putz, como leva tempo curar feridas!
Constatação
Chove nos edifícios, nas árvores e nos sapatos.
Um silêncio mudo invade meu olhar distante.
Sou aquele que espera a resposta do vento
e acredita explodir todos os porquês.
Não mendigo razão, nem uso maquiagens no coração...
O que fascina meu olhar é o inesperado,
a ausência de regras descoloridas.
Abro a porta, castro a covardia,
saio sem capa de chuva pela tempestade da incompreensão.
Gosto dos pingos da chuva acariciando minha nuca,
beijando minha face...
Busco a sensação peculiar
que a naturalidade pode oferecer aos lábios sem prisão,
sem cortes, sem escudos, sem perfeição.
Sou lagarto se adaptando ao clima da vegetação.