Juliene Vilela
A sociedade dos filtros
O grande pensador Zygmunt Bauman já nos dizia, há alguns anos, que vivemos em uma sociedade líquida, onde nada é feito para durar: nem os produtos, nem as relações. Partindo de todas as valiosas reflexões propiciadas por Bauman e observando a dinâmica do Instagram, em uma noite qualquer concluí: vivemos em uma “sociedade dos filtros”.
Filtros nas fotos, que escondem nossas ditas “imperfeições” físicas, as olheiras das noites mal dormidas, as cicatrizes das feridas que curamos, as marcas do tempo que vivemos. Os filtros escondem a realidade e recriam um “mundo paralelo”, onde tudo é perfeito. Filtros não apenas nas fotos, mas também em nossas relações. Os relacionamentos de aparência, marcados por traições e brigas. A falsa felicidade que esconde a depressão, a ansiedade e as inseguranças. A solidão disfarçada com o filtro de uma vida repleta de festas, viagens, bebidas e poses sensuais.
As sociedade dos filtros nas fotos, nas relações e na vida 100% feliz. Cada vez mais difícil enxergar nosso “eu” verdadeiro e respeitar o “eu” imperfeito do outro. Exigimos a perfeição dos filtros fora da tela, ao menor sinal de imperfeição, o descarte. Buscamos incessantemente os tratamentos estéticos cada vez mais invasivos, a maquiagem definitiva, o corpo escultural mergulhado em esteróides anabolizantes.
Julgamos a aparência alheia no Instagram e na vida real. Comparamos-nos com a blogueira famosa e o YouTuber milionário. O filtro dos negócios milionários disfarçam as desigualdades sociais, nos levando a crer que basta querer para conseguir o primeiro milhão. Os milhões de empreendimentos que não deram certo são apagados pelo filtro do negócio milionário.
A sociedade dos filtros, que editou tudo e nos levou a acreditar que para sermos aceitos, precisamos de uma edição. Esconda os defeitos, mostre a todos o quanto você é bem sucedido, sociável e bonito.
Qual o próximo filtros você irá usar?
Juliene Vilela