Juliana Passetti
O Farol
Quem vem lá novamente?
Marinheiro, sereia ou mais um barco trazido pela corrente?
Aos que veem minha luz, um alerta:
- Te aviso, te aconselho.
Mas só tu podes tomar a escolha certa.
Aos marujos que ao acaso me encontram, abrem todos um largo sorriso
- Terra à vista! – Todos gritam – Não há mais perigo!
Se usam de minha luz e minha orientação, para desembarcarem felizes agradecendo a Deus pelo fim da escuridão.
Logo, um por um vem até mim:
- Santo Farol! Das trevas nos tirou.
A muito perdidos nas brumas e breu, só tu nos guiou.
Tua luz, vimos todos de longe
Sentimos o teu calor.
- Achei que estava perdido
- Achei que nunca foste te achar, tu és o mais belo farol a brilhar!
- Nos acolha nesta terra tua, imploramos!
Nos ensine teus segredos, nos mostre os seus encantos!
Apesar de marinheiros eloquentes,
Temos por ti um amor agora eminente.
Nunca vimos nada maior, tão lindo à luz do sol,
Apenas tu, Santo Farol!
Com todo amor e felicidade me emociono,
Fui assim tão procurado, finalmente encontrado.
Estaria eu em um sonho?
Nascia de novo um sentimento enfim.
Há de ser calor?
Há de ser amor?
Há de ser pra mim?
Olhei-os e vos acolhi em minha morada,
A eles ensinei o segredo das terras, das estrelas e das alvoradas.
Contei-lhes histórias de terras distantes, reis dominantes e seres falantes.
E via o brilho no olhar de cada navegante.
Via crescer o universo dentro de cada marujo
E me sentia mais vivo por poder cativar e dar-lhes refúgio.
A mim, toda noite, eles agradeciam:
- obrigado Santo Farol, tu ainda nos guia.
Eis que então decido mudar,
E se for esse meu destino com eles, e apenas nosso futuro iluminar?
Na calmaria então eu decido, desligo a luz que ilumina a tudo.
Agora eu foco apenas no nosso novo mundo.
Dirijo a luz voltada para frente,
Sem mais deixá-la rodar procurando por nenhum outro inconsequente.
Segue assim uma vasta paz,
Eu sorrio sereno,
Apenas iluminando o futuro terreno.
Então, as luas vêm e se vão.
E o mar que outrora estava quieto torna a gritar,
E gritam também os marinheiros,
Se arrumando para zarpar.
Em pânico ofego:
- Já se vão? Mal chegastes!
Fiquem, por favor, o que findou o seu quedaste?
E aos risos todos me disseram:
- Ó tolo Farol, o que esperavas?
Fazermos de vós nossa nova morada?
De luz nós não vivemos,
Sabedoria e destino traçado, agora todos temos.
De que nos vale tu agora?
Tolo Farol!
Partiremos desbravando o imenso azul que tanto nos ensinaste avidamente,
Agora sabendo que dessa vez não nos perderemos novamente.
Aos risos e cantos assim se arrumaram,
Saudosos, esperançosos e novo destino rumaram.
O sentimento que outrora se fez infinito,
Partia mais uma vez rumo ao seu novo destino.
Se fosse o Farol de carne e osso,
Ali teria morrido,
Doeu-lhe mais uma vez a dor de um coração partido.
Não entendia nada daquilo,
Como um amor assim tão grande poderia ter sumido?
Fui eu que errei? – Perguntei-me
Foi minha luz que muito longe foquei?
Foram os dias e noites de dedicação que por eles acalentei?
Ó que tristeza por ser um farol.
Eis me aqui imponente,
Com a luz que tudo guia,
Com inteligência e sabedoria,
Para ser assim deixado à esmo, em caos, perdida?
Nada me resta se não voltar iluminar as trevas mais uma vez.
Jogando o brilho da luz no vazio, para me esquecer de mais essa estupidez.
E pelo ciclo ingênuo de minha vida,
Atrairei novos perdidos à deriva,
Cegos e iludidos por essa luz que tanto brilha,
E eu inocente, serei novamente seu guia.
Mas e se o farol um dia se apagar?
Será que os ingratos a mim vão procurar?
O Farol sente
O Farol sabe
O Farol chora
E o mesmo Farol também se perdeu,
Em meio a luz, que tantos fez feliz outrora.