Juliana P.
Lá estava eu, no Parque que eu visitava todas as tardes para ter um instante de paz comigo mesma. Era um dia quente e eu resolvi tomar um sorvete, e como sempre as árvores pareciam conversar comigo. Eu não vi ele, mas ele se aproximou e sentou-se ao meu lado e perguntou:
#31;"Por que você resolveu fazer assim... Se distanciando de mim?"
E eu o olhei como que certificando-me de que não estava sonhando acordada, ignorei-o e voltei a ler o livro. Depois de algum tempo ele perguntou:
"Por que não quer ficar comigo?"
Olhei-o novamente, pensei e cheguei a conclusão de que um sonho não continuaria falando comigo se eu o ignorasse... E desabafei tudo que tinha guardado durante esses anos:
"Porque você é como heroína. Sempre que amo alguém eu dou toda minha vida à essa pessoa, mas só minha vida não lhe satisfaz, sempre queres minha alma, e mais que isso, sempre queres absorver toda a vida de minha alma. Você é parasita. E é por isso que não poderia continuar contigo, porque isso me tiraria toda a vida... E ainda tenho muito à fazer por aqui."
Ele ficou em silêncio algum tempo e depois perguntou:
"Você encontrou outra pessoa?"
"Sim."
"Você gosta tanto dele quanto gostas de mim?"
"Não, é por isso que estou com ele. Não há perigo de perder minha vida enquanto estou com ele."
Devemos ter ficado nos olhando durante alguns minutos, como se conversássemos através dos olhos. Duas almas se comunicando sem nenhum som além da respiração do corpo.
"E você, encontrou alguém?" - perguntei.
"Não sei." - ele respondeu.
"Como não sabe?"
"Saí com muita gente, mas não me interessei por ninguém."
Era assim que ele sempre me conquistava, dizendo essas coisas clichês... Eu resolvi ignorar outra vez, talvez ele fosse embora, talvez fosse um sonho insistente. Mas ele continuou lá, me observando de perto.
"Sinto tanto a sua falta." - ele disse.
"Você sempre sente... E quando volto, você sempre encontra um jeito de me perder de novo. Afinal, nós dois sabemos o quanto é masoquista." - respondi, tentando manter a expressão dura.
"Você acha que vamos nos encontrar de novo?" - perguntou ele, ainda tentando me conquistar - "Você quer me encontrar outra vez?"
"Não, nunca mais. Porque se a gente se encontrar outras vezes, eu posso me entregar de novo, uma vez ou outra. Não quero lhe dar minha alma outra vez." - respondi, chorando por dentro porque sabia que ele ia embora.
Ele levantou meu queixo, olhou nos meus olhos e disse: "Então eu vou voltar. Vou voltar, e quando você for minha outra vez, não te deixo escapar." - então ele me deu um beijo, que me fez derreter, e foi embora. Ao menos ele disse que voltaria.
Juro-te que até hoje não sei se o que aconteceu naquele dia foi real ou se era só um sonho...
Eu tenho q aprender a não depositar tanta expectativa em cima das pessoas, se até os meus amigos mais íntimos já me decepcionaram, quem dirá aqueles que eu acabo de conhecer.