Juliana Almeida
As memórias boas são um presente, como o canto de um pássaro em uma manhã fria e solitária. Já as memórias ruins, são elas o inferno.É como ler um texto mal escrito, e não poder passar a limpo. Mas ainda bem, que nascemos com o dom de esquecer.
Nunca fui boa em esconder sentimentos ou mascarar pretensões. Erroneamente, foi que aprendi a esquecer. Vou guardando aqui e acolá a saudade, debaixo do tapete, nas gavetas, nos livros, que é onde cabe mais. O problema é que depois de um tempo essa saudade perece. E resta apenas um aroma desagradável, de coisas mortas.
a vida me assusta
mais do que palavras podem falar
mais do que um poema possa expressar
o futuro, diante de mim, se agiganta
e à sua sombra eu vivo
sem jamais saber o que está por vir
certa de que tudo está prestes a ruir
evidências meticulosamente extraídas
da verdade que habita em mim
eu me agarro ao desespero
a respiração, descompassada
o coração, em meio ao medo, se comprime
estou assombrada
meus pés ao chão fincados
minha alma amordaçada
o inevitável eu aguardo me atingir
do futuro eu fujo, e ele eu persigo
sem nunca de sua sombra sair
será ele o meu fim?