Julia Caliman
Queria voltar ao primeiro instante de vida, quando mal a tinha, para tentar entender o que estava a ser,
Quando dei por mim estava rodeada por certezas e nenhuma resposta.
A armadilha da sociedade moderna, onde o desenvolvimento esquece o processo é que todos usufruem do que foi conquistado por outros, mastigado, maquiado. É importante compreender o caminho traçado, de ouvidos filtrados e consciência aberta.
Seu maior erro foi não perceber que enquanto tremia de medo do futuro, seu futuro seria tremer de medo.
Acendeu um cigarro e foi em busca de um café preto, amargo, tudo o que ele poderia oferecer para o seu corpo no momento: uma dose do próprio sentimento.
Nunca gostei de tratar as pessoas como elas me tratam, pois assim estaria as deixando definirem como sou... Prefiro tratar bem ou ignorar.
Os minutos finais entre a pausa para respirar e meus passos ecoando o som,
É o que me arrependo mais do que as palavras agressívas em minha defesa
23 anos depois, das palavras já não lembro,
Só sei que foram tentativas fracas de defender o que pulsava em mim,
Mas lembro do silêncio.
Aqueles 5 segundos que fiquei segurando em suas mãos,
Olhando em seus olhos o reflexo do meu orgulho.
Tento encaixar nesse vazio, situações que te fizessem estar comigo até hoje,
Em vão.
Entreguei minha vida nas mãos do silêncio, quando dei o primeiro grito de recuo
E a cada pausa para casa, sentia que mesmo parada o mundo continuava girando,
Engolindo todos que ousam contraria-lo
Naquele momento, o silêncio falou por mim, levando meu destino para longe das minhas mãos.
Quando se está no escuro, tudo é o escuro,
Ele penetra em suas células, fazendo aos poucos sua percepção de espaço sumir,
Um tempo depois, você não sabe até onde a escuridão existe e até onde você existe na escuridão.
Se nós, meras sementes mergulhadas na terra, não acreditarmos que podemos alcançar a superfície, morreremos sem ser a árvore que absorve os primeiros raios de sol.
Navego no leito do tempo, deixando a ele a tarefa de apresentar-me ao desconhecido. Tsunamis, ondas e calmaria, que cheguem cada um em seu tempo para desfrutá-los como quem navega ao próprio ser, com os braços abertos boiando sobre as águas, sentindo o frio e o calor, sem sobrar espaço para o desespero.
A mentira é uma das principais travas da humanidade, a partir desse fato distorcido ou inventado se cria atitudes e posicionamentos reais, o real deve estar sobre uma base real, se não flutuará em uma realidade ilusória assim como tudo que será construído sobre ele, gerações e gerações vem acreditando em histórias inventadas, constroem tradições, culturas, conceitos sem nenhuma base concreta, muitas vezes criadas com a intenção de manipular a uma finalidade. Ah, a mentira, se formos parar para pensar como ela destrói, arriscaria dizer que é mais potente do que uma bomba nuclear, viver na ilusão da certeza é estar em coma e nunca acordar ou morrer.
Ele errou.
Ela não aceitou. Brigou, pisou e recusou.
Ela terminou.
Ele a procurou. Falou, brigou, implorou.
Ela não aceitou.
Ele continuou. Gritou, quebrou e se pintou
Ela se deitou.
Ele se agoniou. Andou, procurou e desmaiou.
Ela nem ligou.
Ele concordou. Brincou, cantou, amou
Ele se encontrou.
Ela chorou.
Ele morreu, John.
No silêncio da madrugada me pego me apegando de mais
Lutando contra o ego, lutando contra o desespero
Até que ponto o que sinto é verdade ou ilusão?
Até que rua te quero? Em qual curva te abandono?
Uma arrogância atropelada ou um vestígio de abrigo.
Hoje ela adormeceu longe de mim
E eu perambulando pela casa, tentando trazê-la para perto
Mas até onde eu sinto? Até onde eu quero?
Eu atropelei o amor.