JulhaL
à Ela,
musa de diversas obras
ainda que suas próprias lentes sejam as únicas capazes de documentar com fidelidade
sua inebriante liberdade
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ela que deveria se dedicar ao romance autobiográfico da constante mutação que é sua vida,
não confia em si mesma para tal
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eis que shiva desce de seu pedestal para dançar despretensiosamente entre meros mortais,
mas se depara apenas com narcisos. mergulhados em si mesmos. egocêntricos, alimentados pela falsa certeza de um autocontrole.
esses seriam os primeiros a morrer.
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ela questiona o nível de veracidade na tal liberdade do artista
ao descobrir que nem mesmo os poetas seriam capazes de suportar tamanha vulnerabilidade ao serem confrontados por sua presença
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fracos!
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basta uma dança
e daí, o entendimento de sua liberdade em plenitude
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et ça ce n'est qu'une joie, sans la souffrance pour ceux qui marchent à sa côté,
para aqueles que não esperam nada além Dela, como é
e como sempre será
sonhei que você me procurava
despertou meu corpo de uma longa jornada,
como quem diz:
“pare, não me olhe, não me ache!”
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distância, vá buscar meu bem-querer
e a leve contigo.
já a mim, não deixe vestígios:
eu a matei para não morrer afogada.
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sonhei que você me procurava,
explicava a insignificância da espera,
à ser desejada,
da importância do desapego,
ven-ce a alma frustrada.
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distância, vá buscar meu bem-querer,
a leve contigo sem dizer o porquê.
não precisa procurar muito
ela faz da minha estima sua morada,
portanto a encontrará logo ali, no buraco que se instalou em minh’alma.
o desencaixe perfeito.
para longe de mim!
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fujo com o carro em direção ao cantar,
entro no mar e
danço meu próprio longar.
a matei para que eu não morresse afogada.
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como quem me procura para dizer:
“pare, não me olhe, não me ache!
mas ouça meu cantar,
pois pretendo te prender,
te escravizar
à minha sedução,
para meu ego massagear.”
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para longe de mim!
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me resguardo na falta…
talvez, um dia, eu te contemple novamente,
da altura que hoje possuis.
uma única vez, quando meu bater de asas, os anos despertar,
para, então, me libertar.
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não sou capaz de te odiar,
mas, por favor, se for para ir, que vá.
para além dos anos que nos separam,
para além da notícia, da tragédia déjà anunciada.
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se for para ir, que vá para dentro de si,
e bem longe de mim!
o que conto nunca é só aquilo que digo
ouça meu silencio
me enxergue no teu próprio reflexo
em moldura de ouroboros vive o olhar
espelho d’alma
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e se for para ir, que vá
para dentro de si e bem longe de mim
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volte quando souber cantar a harmonia do meu silencio
para então dançarmos, juntas, nas chamas que crescem do incêndio acometido sobre o véu de seu recalque