Judith Viorst
Crescer exige tempo, e pode demorar muito aprender a equilibrar os sonhos com as realidades. Podemos levar muito tempo para aprender que a vida é, na melhor das hipóteses, um sonho sob controle – que a realidade é feita de conexões “imperfeitas”.
Enfrentando as muitas perdas trazidas pelo tempo e pela morte, tornamo-nos um eu que chora e se adapta, encontrando em cada estágio – até o último suspiro – oportunidades para transformações criativas.
Não podemos amar se não soubermos o que é o amor. Não podemos amar outra pessoa como outra pessoa se não tivermos suficiente amor por nós mesmos, um amor que aprendemos sendo amados na infância.
Durante toda a vida crescemos desistindo. Abrimos mão de alguns dos nossos mais profundos vínculos com outras pessoas. De certas partes muito queridas de nós mesmos. Precisamos enfrentar, nos sonhos que sonhamos, bem como nos nossos relacionamentos íntimos, tudo o que jamais teremos e tudo o que jamais seremos. Investimentos emotivos nos fazem vulneráveis a perdas. E às vezes, por mais inteligentes que sejamos, temos de perder.
Ao envelhecermos, a sociedade nos elimina do jogo da vida, ensinando-nos a compartilhar essa atitude de rejeição. Ela nos ensina, a não ser que procuremos nos defender, a detestar a nós mesmos.
Perguntaram a uma mulher de setenta e seis anos por que queria fazer terapia nessa idade. Refletindo sobre suas perdas e esperanças, ela respondeu: "Doutor, tudo o que me resta é meu futuro".
Quanto a nossas perdas e ganhos, já vimos que frequentemente se misturam. Para crescer, temos de renunciar a muita coisa. Pois não se pode amar profundamente alguma coisa sem se tornar vulnerável à perda. E não se pode ser um indivíduo separado, responsável, com conexões, pensante, sem alguma perda, alguma desistência, alguma renúncia.
Aprendi que, no curso de nossa vida, abandonamos muito do que amamos e somos abandonados também. Perder é o preço que pagamos para viver. E também a fonte de grande parte do nosso crescimento e dos nossos ganhos. Ao trilhar o caminho do nascimento até a morte, temos de passar também pela dor de renunciar, renunciar e renunciar a uma parte do que amamos.
Temos de enfrentar nossas perdas necessárias.
Devemos entender como essas perdas se ligam aos nossos ganhos.