juari silveira de sá e tony feijão
Trabalhar em botequim é para quem tem paciência. Tem freguês que chega, pede, bebe e paga, outros ficam de canto esperando alguém para beber na aba, tem aquele que chega fica no pé do balcão jogando conversa fora rindo e cuspindo no chão, fica o dia todo sem beber nada e quando pede um copo d'água reclama se não tá gelada. Tem o que chega, pede uma cachaça caprichada, quando o garçom vai servir ainda pede uma chorada, mas quando vai pagar é uma enrola danada, quando vai embora ainda fala assim: "Vou beber no bar do lado porque lá é caprichada e ainda bebo fiado". Tem o que chega pegando na mão, entra no meio da conversa sem você dar atenção, paga sempre adiantado para ganhar confiança, conta que tem duas fazendas que o pai deixou de herança, quando você assusta já está de mudança e você não recebe nem com carta de cobrança. Conversa bonita não engana quem tem muita experiência no ramo, anos e anos atrás de um balcão trabalhando, trabalhar em botequim tem que trabalhar ligado, a gente escuta demais e tem que ficar calado para se envolver somente com o necessário, antes que alguém pergunte porque estou falando assim, é porque eu sou um deles, que trabalha com botequim, quando chega no final do mês a conversa é sempre a mesma paguei aluguel, luz, água e fiz a despesa, só me sobrou isso aqui, soma e desconta aí. Uma coisa eu aprendi: fiado de cachaceiro o botequim só recebe se sobrar dinheiro, por isso tá dado o recado, eu não vendo fiado.