José Manuel Pereira
Livro Fechado
Em tempos, já tive nome de livro aberto
Uma chuva de lágrimas assim me chamou
Sob notas musicais, alma a descoberto
Revelando ao mundo aquilo que sou.
Livro que contava o tempo que passou
Página a página, o tempo que chegava
Eu era a tinta que nele se cravou
Palavra a palavra que tagarelava.
Mas o vento deslocou as páginas por ler
E a metade já lida do seu lado cresceu
Páginas não lidas com pouco espaço a ser
Desfolhando-se todas o vazio nasceu.
Porém, um dia, a última página virou
Não sobrando lugar para se escrever
Com o tempo também a capa se fechou
E aquele branco calado acabei por esquecer.
Sou livro fechado, selado, trancado
Que teve um nome, uma causa, uma vida
Não existe mais força para ser forçado
Este livro fechado a letra dorida.
Na fúria do tempo, das palavras sem tinta
Frases sentidas presas no emaranhado
Talvez seja o tempo que no peito minta
Nas letras perdidas deste livro fechado.