José Carlos Cavalcante
SEGUE A VIDA..., A POESIA.
As horas gravadas em fotos na memória brindam uma eterna saudade, cada tempo uma paixão de uma vida inteira, um álbum, como que parecendo inacabado. São lágrimas e soluços que os minutos gravam como pecado, sorrisos e loucuras como a devassidão de um sonho interminável. Um filme dirigido pelo instinto, na trama, amor é ódio. Cada pessoa uma história, uma fita, mesmos ingredientes, mesmo final, a morte. A história conta o segredo que virou mito. Na imaginação de poucos a verdade repassada a multidão, uma mentira que ficou na lápide como a maior das verdades humanas, a eternidade que regula a vida. Em todo o passo, de todo o conto, de toda a história, segue firme a sensível veia da emoção no exagero lírico da poesia, as letras convertidas em versos de encantos, enquanto corações desavisados correm mundos a espera da perfeição de um poema lhe dedicado por inteiro. É a vida que segue imune as incomensuráveis e fantásticas previsões, os bruxos e videntes na derrocada humana, toda uma ficção para que a rotina não esmoreça a legítima esperança de alguns momentos de plena felicidade. Segue a vida, complicada como construímos, mas simples como foi desde sua essência, segue rumo ao medo comum, nossa última e real dúvida, o que somos e o que seremos após a poesia declamada.
Não sei sobre meu tempo,
Foi-se o tempo das previsões,
Mas enquanto há tempo,
Limito minhas indagações.
Hoje tenho mais respostas do que dúvidas,
porque busco apenas soluções,
antes eu apenas criava os problemas.
E assim eu vou indo, tranqüilo...
Quando não houver respostas,
É porque me esqueci das dúvidas.
SOLIDÃO
Vejo você aqui novamente, minha velha companheira,
Somos tão amigos quanto o céu é do mar.
Minha solidão mensageira, contigo aprendi a cantar,
São versos da noite, são medos e fantasmas,
Você me acompanha enquanto grito meu solo de amor.
As estrelas brincam de adivinhar nossas conversas,
Falam da lua e minha promessa de viver um amanhã,
Outro dia sem que você me diga que tenho que chorar.
O sol é um chato despertador e o vento um inconveniente,
Não entendem essa paixão verdadeira, porque no silêncio,
Ouço o som do sorriso que imagino existir em minha alma.
Ontem eu vi a multidão calada, vi correr pelos dedos um “sim”, senti que o perdão corria pelos rostos e se perdia na imaginação, havia tantos corações, e de verdade, apenas uma grande mentira, está tão impiedosamente só em meio ao silêncio de uma gritaria.Minha velha amante solidão, não é nem mesmo um passado,vieste tão rasteira quanto a idade que me deu razão, somos então uma música de estações.O calor nos separa por instantes, o inverno nos une pela força, o outono nos ensina a brincar de se esconder,e a primavera, nos enfeita de amores que nunca virão.Um dia haverá nossa despedida, um horizonte se abrirá como uma eterna caminhada, somente um seguirá os
passos da eternidade.Vai você na frente pois preciso entender o que o amor pretende.
rimamisterio olhar talhadosaudadeduvidasPOEMA DE AMOR
Falar de amor é poesia
Um verso talhado
num olhar perdido.
O sonho se perde
Nessa paixão que dói
Uma rima desconhecida.
Dizer o amor num poema
Esse mistério da vida
Não há duvidas no olhar.
Uma lágrima que corre
Entre a saudade e o beijo
Abraça com força a vida.
Esse é o jogo do amor
Um vento que não se prende
Sente-se por toda parte.
Essa é a única verdade
Não se vive sem amor
Mesmo desconhecido.
ESTOU FICANDO VELHO
Estou ficando velho, sem memória, talvez seja essa então minha glória, perder no meu arquivo a lembrança daquilo que não mais existe, daquilo que já existiu. Vai-se ficando velho sem a dor da separação, virando o presente, uma grande manifestação de novos e importantes achados, novas descobertas, novos amores. Estou ficando velho pelos olhos tristes da mesmice, da resignação inconteste, da covardia e do medo da morte. Estou ficando velho..., tão velho quanto a força de viver uma eternidade sem a lembrança dessa mesma velhice.
HOJE
Hoje, quando forte eu me sinto, um sabido do mundo, um traído dos sonhos, digo que nada sei, além de receber aquilo que todo dia se repete. Meu amor de antes era um nome lindo, o de hoje também, diferentes numa mesma emoção, diferentes instantes de cores indefinidas, qual luz que se volta contra o espelho, refletindo a verdade que me recuso a admitir. Meu sorriso ainda marca uma presença cheia de esperança, mas a marca é maior quando o choro chega realçando a dor do que já foi perdido. Hoje minha música varia o tom, mais baixo, mas não variam as notas dissonantes nem os acordes livres da imaginação. Minha vida é uma aquarela incipiente, de cores fortes e neutras na exposição, porque não mostra minha alma perdida entre o céu e a realidade. Hoje o rio passa, mas não sigo suas águas porque meu mar não aceita dúvidas existenciais nem gritos de loucura, minha velhice não permite um passado enquanto o tempo não me disser que me quer como criança. Hoje filosofo pequenas e irrelevantes perguntas, haja vista a grande dúvida da morte.
Tão mendigo e invejoso que olhava o pobre catando comida, enxergando o caviar que jamais comera..., morreu empanturrado de desejos.
OTIMISMO
Vem comigo buscar o pedaço de felicidade que nos cabe, porque no mínimo, nele, cabe todo mundo, um mundo no sorriso que se enxerga no rosto sincero da criança, nos olhos do idoso refletindo a imagem do neto debochando do medo, que felicidade maior existe? Penso que trair a vida é deixar de sonhar e trocar a esperança pela simples ameaça de fraqueza, porque fracos todos nós somos, mas somos fortes como palitos amarrados. Quero fazer música enquanto você canta uma letra inventada na partilha de cada dia, porque partilhar é o segredo dos fortes e fonte de sabedoria. Vem sonhar a morte como passagem distante e necessária ao próprio conhecimento da verdade e mesmo que nada se descubra, terá sido sanada a maior de todas as dúvidas, mas enquanto esse dia, ainda distante, não chega, porque para quem quer um segundo é vida, vamos profetizando as manhãs como fartura de alegria. Vamos brincar de poeta, quem faz poesia enfeita o tempo e faz renascer, na gota de uma lágrima, a expressão maior de amor, que enfim é o que nos torna gente de bem e dignas de um beijo apaixonado. Vamos de mãos dadas com o desconhecido, porque nele, a renovação que nos lê adiante. Vamos assim mesmo, parecendo bregas do passado, porque é na simplicidade do otimismo, do altruísmo, da poesia, enfim do amor, que nos sentiremos vivos e felizes.
A noite chega amarrando um cansaço, um sonolento espanto, medo talvez.
A noite escura, cala o pensamento como se o amanhã fosse agora, exatamente cansativo e embriagado de pesadelos.
Talvez o dia mudasse esse horizonte tão distante, embaçado, irreconhecível , não fosse ele, claro dia, a semente que faz florescer essa noite tão sombria, tão fria, tão repleta de vazios.
Dia e noite se completam e o que resta é a vida que se risca perdida e vazia correndo desalinhadamente para o limite entre a loucura e a ultima viagem.
Pensa tu sobre o que te faz sorrir alimenta com teu sorriso o rosto enrugado dos loucos que te cercam, tão loucos quantos amigos, bastando um sorriso para identificálos.
A noite chega amarrando um cansaço, um sonolento espanto, medo talvez.
A noite escura, cala o pensamento como se o amanhã fosse agora, exatamente cansativo e embriagado de pesadelos.
Talvez o dia mudasse esse horizonte tão distante, embaçado, irreconhecível , não fosse ele, claro dia, a semente que faz florescer essa noite tão sombria, tão fria, tão repleta de vazios.
Dia e noite se completam e o que resta é a vida que se risca perdida e vazia correndo desalinhadamente para o limite entre a loucura e a ultima viagem.
Pensa tu sobre o que te faz sorrir alimenta com teu sorriso o rosto enrugado dos loucos que te cercam, tão loucos quantos amigos, bastando um sorriso para identificálos.
Eu escutei tanto, nem sempre cantos de pássaros, ou desabafos raivosos, mas escutava...
Tão surdo, eu nada sabia, porque escutava e não ouvia.
Olhava ao redor e me via ao centro, tão rico quanto a falta de idéias que via e não enxergava.
De tão forte levantei pesos, mas empurrei a solidão e não levantei o pobre caído na rua.
O que fiz ou o que deixei de fazer é um nada se o limite acabou de passar, e idealizar o futuro ao enxergar minha força ao aprender ouvir.
DESPEDIDA
Cai no horizonte uma estrela, a sombra da lua, a silhueta curvilínea dançando uma música triste. Já não era você rabiscada em uma tela, num movimento apaixonado de um pintor, criando sua obra de amor. Canta essa musica ao soluçar do poeta, um cortejo de versos inacabados, todos do futuro para o passado, será a dor pela frente. Grita a noite nublada sob protestos dos enamorados, chora o viúvo sua bela amada, mendiga um único beijo, um único abraço, já vai longe a fantasia imaginada, singra o peito como sangue caindo sobre a terra. Seria o quarto vazio do filho desaparecido, a despedida da mãe que se foi para sempre? Qual dor se compara a solidão, mesmo diante do espelho? Se na própria imagem o nada é seu amigo companheiro, tens a morte como divida não paga, e o horror da infeliz condição, o palhaço chora por não fazer sorrir.