José Biermann
Quinta-floyd
Plenitude fugaz das horas.
Quero a paz do meu bonsai,
Quero mudar sem medo,
Plantar e cuidar.
Viver sem dicionário
Ler a vida devagar.
Melancolia, disfarçada num lirismo bêbado
Perde-se em palavras, cai no delírio.
Fica à margem da tristeza foge à razão
Ignora o que é régio, encontra seu coração.
Viver
Certo dia, um dia cinzento...perdi-me dentro de mim.
Sem respostas ignorei a vida, mas inventei outra
Risquei cores, fiz um chão de papel e fiquei brincando
De ser poeta, quão de repente risquei faíscas,
Fiz uma chama, dobrei o chão, fiz um cata-vento
E fui correr com a vida.
Sol
Dragão amarelo sorrindo de cara cheia.
Sem medo, sem olvidar arde em alegria
Pudico em seu fulgor, desveste o dia.
Em pranto sofre calado, ilusão dos ancestrais
Já foi Deus, matou, criou,se escondeu no final.
Dia de paz, dia de guerra segue olhando os mortais.
Alva Alma
Ainda que sejas tarde, fuja das ondas de satélites e
Parabólicas. Equacione o pouco que resta de compaixão
Viaje sem rumo, solte pipa, jogue pedrinhas na água
Ignore os ponteiros e tome banho de chuva…
No final, poucos irão chorar, só a lembrança resistirá
Mas, lembrarão do que foi bom e descansará em paz, numa
“floresta dos homens esquecida, à sombra de uma cruz,
E escrevam nela: foi poeta - sonhou - amou na vida”.
Soneto da Paixão
Aqui estou, angustiado, sinto tanto sem querer
Preso por vontade, arde o pensamento em você.
Pulso mudo, despedaço o sol num sonho verde
Espaço vago, arde em ferida e faz-se perder.
Roseiras esplêndidas afligem com espinhos o meu ser;
Cai o céu sobre o mar ascende a chama do prazer,
Estremecem as montanhas, cadentes anjos presente,
Em confusão de sentidos esperam aflito o amanhecer
Suplica paz que já não tem, em dias de albatroz.
Descontente segue adiante sem desmerecer
Resiste, sem hesitar, ao vendaval que vem veloz
Tudo passa vai para espaço sideral, em voz
Cântica, descobre o som do próprio amor
Paixão ardente, impossível mais veroz.
Café
O filtro falho amargou o meu café.
De desgosto não senti mais gosto,
Logo fiquei amargo igual ao inverno
Que esfriou a minha boca, a borra
E ainda gelou o lado que descobria.
(lalalala)…Oxalá
Ainda sei que sou feliz, hoje acordei sorrindo, abracei a vida e me perdi em seus braços, beijei-a com tanto amor e paixão que não senti outra coisa se não a paz que precisava… Tem sido assim, os dias nascem com outra cor, tudo está em paz e ao mesmo tempo um furacão de incertezas destorce o tempo, isso que se chama amor é um sofrimento do viver, uma anestesia que amortece minha razão me faz fraco, queimo vivo, viro alvo e me acerto com fogo. Mesmo assim, arrebento as amarras que me prendem e vou queimando, aos poucos até que não restará mais nada, nada que não seja cinzas e algumas faíscas… Muito na vida poderia ser assim, como uma paixão que muda tudo de lugar e deixar a razão de lado para seguir o coração, mas, como seria se muitos se apaixonassem? Ah seria um caos sem limite e o mundo queimaria inteiro mas, com certeza, o mundo seria de paz, pois muitos estariam perdidos em si mesmos.
Vazio
Numa tarde quente fiquei só
Pensei tudo, desfiz os nós.
Pulei no abismo
Chorei pó
Surge, num olhar vazio, você
Num pensar confuso, você
Tarde em chama
Chama você.
Quero daqui, para longe voar
No céu, quero me perder
cair em alto mar.
O barquinho, perdido, estará lá
Para sempre eu navegar.
No lado de cá.
Admirável Mundo Novo
Desapego, deixa ir quando quiser
Respira, o simples encanta mais
A dor, que passa, ensina crescer
A Luz, volta bela, entre os vitrais
Segue o credo, viva o amanhecer
Sinta paz, em jardins de bonsais
Encontre, valores que valem mais
Perdidos no breu, na face do mal
Saberá o que diz a filosofia do ser
A sabedoria dos velhos, ancestrais.
Educação, salve o mundo animal
Caminha perdido, sem o rumo ver
Acumula ouro derruba os palmeirais,
Quiçá, tudo acaba em um dia igual.