Jonald Nascimento
Brasil
Ó gigante enquanto dorme
te açoitam, te corrompem,
reinam sob o teu silêncio.
Acorda meu Brasil.
Querem apagar a tua luz,
explorar as tuas matas,
querem rir da tua gente.
Acorda meu Brasil.
Estão te envergonhado frente ao mundo,
te corrompendo frente aos teus,
a ganância não acaba.
Acorda meu Brasil.
A ordem que sucumbiu a liberdade,
o medo que calava a verdade
estão te perseguindo novamente.
Acorda meu Brasil.
Mostra tua força e tua garra.
Grita ao teu povo que o salve do ódio e da intolerância,
mostra no horizonte a esperança,
mostra ao mundo a tua dança,
coloca os políticos no compasso,
no ritmo da justa melodia
da dança do respeito e compromisso
com o seu povo tão sofrido.
Tira a mordaça da injustiça
não deixe essa sujeira te calar.
Acorda meu gigante, acorda
faz esse país mudar.
Faz o sangue parar de jorrar
nas vielas de suas ruas.
Faz o choro se acabar,
o medo e a dor se retirar.
Faz surgir a esperança, o amor e a união.
Faz a paz florescer, a alegria renascer.
Faz o amanhã se iluminar.
Faz o Brasil recomeçar,
a voltar à sonhar.
Acorda meu Brasil.
Guerreiros
A poeira que levanta da terra amarga,
tão seca quanto as árvores retorcidas que alí vivem.
As nuvens vazias que atraem a esperança.
As lágrimas que inundam os olhos tristes,
daqueles que na terra esperam ver a vida renascer.
A caminhada exaustiva na busca pela vida,
onde o sol não perdoa, castiga.
A fé que os rege e que os guia.
A força e a coragem que os faz seguir em frente.
O sorriso alegre que esconde as marcas da vida,
as marcas de quem lutou, de quem acreditou.
São marcas de guerreiros,
guerreiros nordestinos.
Pranto de Uma Velha Árvore
As raízes que me seguram neste chão são mais fortes que o vento que ousa interferir em meu equilíbrio.
Cada galho quebrado, cada folha perdida são lembranças do que o tempo me roubou.
Eu que venci o fogo e a terra seca morta ao meu redor.
Eu que nasci em meio às cinzas, em meio à dor da perda dos meus semelhantes.
Eu que venci tantas batalhas.
Eu que enfeitei o mundo com minhas flores mesmo sentindo tantas dores.
Eu que ouvi o som da morte silenciar a voz dos meus defensores.
Eu que presenciei tantas partidas sem despedidas.
Eu que sou vida e melhoro o ar que você respira.
Eu que carrego tantas histórias que você nem imagina.
Eu sou uma velha árvore que muito já vi.
Sinto-me cansada.
Cansada de suportar tanta dor e fingir que está tudo bem.
Cansada de ser ameaçada pela ganância.
Cansada de ser torturada pelo barulho da destruição.
Eu sou vida.
Eu tenho vida.
E quero viver.
Me deixem abraçar a terra.
Me deixem florescer.
Me deixem tornar o mundo um lugar melhor para se viver.
Dilúvio
Olhei para o céu nublado
com os meus olhos também nublados.
O tempo fechado.
O coração machucado.
Tudo anunciado.
O meu dilúvio havia chegado.
Por vezes fui levado.
Caminhando triste, angustiado.
O dilúvio não cessava.
Os meus olhos, cansados ficavam.
Por dias e noites na chuva eu me vi.
Mergulhado em lágrimas que só eu via, só eu sentia.
Mergulhado na saudade que me invadia,
em medos e incertezas que não partiam.
Preso à angústia que me afligia.
E mesmo que eu tentasse sorrir
para afastar o que eu sentia,
no fundo eu sabia
que ainda sim dilúvio eu seria.
Viver Exige Coragem
Viver exige coragem.
Mas o que fazer quando nos sentimos perdidos?
Se encaixamos para mostrar que sabemos quem somos?
Ou aceitamos que somos livres e assim seguimos?
Devemos dar satisfação ou dizer que se dane?
Por que é preciso mais coragem para enfrentar as pessoas e suas verdades do que a vida?
Às vezes tudo parece tão simples.
Mas na complexidade das imposições que sofremos nos perdemos.
Queremos tanto ser livres mas vivemos presos.
Tudo porque para viver você precisa ser, você precisa mostrar.
É isso que impõem à nossa liberdade, aos nossos sentimentos.
Viver exige coragem.
E que tenhamos coragem para respeitar o que sentimos sendo livres.
Só assim encontraremos o caminho quando nos sentirmos perdidos.
É Primavera
Já é dia.
Sinto a brisa do vento tocar o meu rosto,
A luz do sol aquecer o meu corpo.
Sinto o cheiro das flores.
É primavera.
Vejo a vida florescer.
Ouço os pássaros cantarem.
Uma sinfonia da natureza.
Vejo o verde vencer o cinza das árvores pálidas.
No céu não há nuvens.
Está tão azul quanto o mar mais profundo.
Neste dia lindo.
Neste dia lindo de primavera.
Meu Sol
Ainda lembro daquele pôr do sol.
Você segurou minha mão.
Senti-me a pessoa mais feliz do mundo.
Lembro do barulho das ondas,
De corrermos pela praia.
Lembro do seu sorriso naquele dia.
Você estava radiante.
Nem a pureza do céu naquele dia
foi capaz de superar a sua beleza.
O sol foi embora.
Mas você era o meu sol naquele fim de tarde.
E você continuou comigo
iluminando aquele dia.
Aquele dia em que o tempo parou
para apreciar o nosso amor.
Só não esperava que assim como o pôr do sol naquele dia
Você, o meu sol, iria se pôr tão cedo.
Tudo perdeu o sentido sem você.
Afundei-me em uma noite sem fim
e nunca mais pude ver o sol nascer.
Minhas Preces
Esteja comigo quando o sol nascer.
Mostra-me a luz no horizonte.
Guia-me em meio ao temporal.
Não deixai que eu me afaste de ti.
Abraça-me nos dias bons.
Abraça-me nos dias difíceis.
Segura-me.
Acolhe-me em teus braços.
Acalma o meu coração.
Fazei com que eu encontre equilíbrio em meu caminhar.
Preciso de ti para continuar seguindo.
Ajuda-me a seguir meus sonhos.
Segura-me.
Tu que és farol em minha vida.
Não deixeis que o medo tire a minha luz.
Afastai a ansiedade, a angústia.
Afastai a tristeza.
Cura-me com o teu amor infinito.
Fazei com que não me falte forças para resistir.
Segura-me Senhor.
Resistente
Há momentos que se levantar não é fácil.
Se render às lágrimas?
Gritar ao mundo, eu existo!
Ou fingir que nada está acontecendo?
A vida é tão bela e ao mesmo tempo tão incerta.
Em um dia sorrimos.
No outro choramos.
Mas continuamos seguindo em frente.
Desistir não é opção.
Recomeçar sim.
Parece tão fácil.
Mas não é.
Se refazer em meio ao desconhecido.
Caminhar mesmo sem ter mais força.
Acreditar em dias melhores.
Tudo isso significa recomeçar.
Em meio a dor recomeçamos.
Continuamos em movimento.
Continuamos emanando nossa esperança ao universo.
Invocando a nossa Fé.
Se reconstruindo.
Renascendo todos os dias.
Viva Intensamente
Ouça a sua música mais louca.
Cante, dance, permita-se ser você.
Deixe que falem.
Deixe que olhem.
Faça a sua bagunça.
Se divirta como nunca.
Seja feliz, bata palmas.
Celebre a sua existência.
Você nasceu para brilhar querido!
Então brilhe, brilhe.
Deixe o seu brilho ofuscar a inveja.
Tenha orgulho de quem você é.
Tenha orgulho do que você conquistou.
Seja livre.
Se divirta como nunca.
Seja feliz, bata palmas.
Celebre a sua existência.
Você nasceu para brilhar querido!
Então brilhe, brilhe.
Corra na chuva.
Não tenha medo de se molhar.
Você é corajoso querido!
Pule, pule, celebre a vida.
Viva sem medo de ser feliz.
O universo está te vendo.
O universo ama você.
Porque você nasceu para brilhar querido!
Então brilhe, brilhe.
E viva intensamente.
Ouse Sonhar
Sonhos escondidos nos recantos
de um Brasil desconhecido.
Vidas que existem mas que se recusam a vê-las.
Talentos vitimados por uma nação desigual,
aprisionados à realidades que os impede de florir.
Somos força, somos voz,
também queremos decidir.
Decidir o nosso rumo,
os caminhos que queremos seguir.
Queremos ser autores da nossa história,
conquistar a nossa glória.
Queremos ultrapassar o horizonte.
Mas para isso acontecer precisamos ser
a mudança que queremos ver.
Precisamos acreditar,
Precisamos ousar a sonhar.
Canto de Acolhimento
Cantei para as nuvens no céu nublado.
O tempo sentiu a dor na minha voz.
O vento soprou suave e também entendeu.
As árvores choraram ao ouvir o meu canto.
Elas sentiram a minha dor.
Será que estavam com pena de mim?
Eu as olhava fixamente.
De repente veio a chuva
e os pássaros também cantaram.
Estava tudo tão calmo e frio.
A chuva se fez forte
e também se pôs a cantar.
O seu canto competiu com o meu.
Então, calei o meu canto
e apenas ouvi a chuva.
Ela não queria competir com o meu canto.
A chuva queria acolher o meu canto.
E mostrar-me que a minha dor era a sua dor.
Brasil Em Prantos
Tantas vozes silenciadas
sob os cuidados da pátria amada.
É o choro da mãe que abraça
o corpo do filho sem vida,
vítima de balas direcionadas e não perdidas.
E não importa se seu escudo
é da esquerda ou da direita.
O sangue derramado é vermelho
mas a dor, a dor é preta.
É o amor que agoniza.
É o ódio que mata.
Onde está a liberdade nesta pátria democrática?
Ser, amar, existir não é proibido
mas por que ainda há vidas sendo interrompidas por isso?
É uma floresta que queima, um povo que chora
vendo a sua história indo embora.
É uma ancestralidade humilhada,
cansada de ser atacada
por uma ganância cega que não acaba.
E ai daqueles que recusarem toda essa opressão.
Nesta terra onde quem fala,
onde quem luta é engolido pelo chão.
De Chico Mendes à Marielle Franco.
Quantos se foram?
Quantos ainda irão?
Mas que ecoe a certeza
de que nenhuma luta foi ou será em vão.