Joelton Silva
Infelizmente a estupidez é algo mais abundante que o amor; estúpidos aqueles que dizem que amar não vale a pena, e mais ainda aqueles que ao sabor de uma dor acreditam.
O universo sempre te oferta oportunidades, só quem as aceita como conquistas é que pode ser derrotado quando elas escapam. As tenha como presentes - mesmo quando não forem o que desejas, seja grato!
O rancor não possui força alguma; é uma desculpa diminuta para continuar-se preso a convicções das quais nem se tem tanta certeza. Fortes mesmo são aqueles que dele aprenderam a não precisar porque encontraram em si uma força maior para acreditar.
Calei meu corpo com teus gritos, tua febre insinuava minha doença. Do que bem me lembro, eras flor e eu espinho - mas éramos a mesma rosa.
Concordavas com meus soluços mais por impotência que por frieza. Descascava a intenção com os olhos, e me envergonhava de não poder calar o choro para dar alento a tua imobilidade.
Foi assim que aprendi a engolir dificuldades - como quem come uma refeição ruim calado, porque naquela casa se é apenas uma visita.
Lá, causando mais perda que danos, a inquietude de meus anseios se mostrava como bailarina; dançava sob a lua por entre as carcaças do já extinto. Lá naquele vale onde minha infância conhecera a morte, restavam aqueles grandes monstros de outrora, ossadas gigantes do que um dia foram memórias e mágoas. Hoje, fossilizados e desfigurados no solo frio, não causavam mais medo, apenas espanto; ainda eram um lembrete de que caminharam em outra época - seres que não podiam coabitar com outros sentimentos mais leves que hoje em mim se acomodaram.
A desilusão traz tantas bagagens do passado que com frequência ocupam o lugar das boas novas. Por isso gosto tanto da esperança, que visita o futuro e quando em vez, de lá nos traz excelentes notícias.
Cuidado com o que deseja! - Dizia a fábula, como aviso de que devemos ter primeiro responsabilidade antes de ousar querer qualquer coisa que não nos pertença. Sentimentos, assim como gênios, são etéreos, invisíveis; e mesmo assim materializam sonhos. O querer reconhece fronteiras, mas o sentir... Ah, esse é indomável.
Posso ser cúmplice, mas não assassino! As pessoas cometem suicídio em minha memória, eu apenas me livro dos corpos...
Não se apresse em achar a simplicidade como melhor escolha: o relógio do sol é simples, e o de pulso, complexo. Escolhemos o segundo pelo bem da comodidade.
Tantas certezas se desfizeram com o simples toque do acaso, nada é tão certo que o destino não possa dizer: estou aqui, tuas verdades são mero desatino, eu não te ordeno, mas te mostro - pensas que sabes, mas saber nunca governará aquilo que sentimos.
Amar não é garantia, tampouco certeza. É arriscar o dobro em ser feliz. É voar o incerto, decolar com as asas de Ícaro rumo ao sol. É ver o abismo, sentir medo, e saltar para o mergulho esperando ter água, e mesmo assim não saber nadar - não saber mais nada.
Um pensamento é semente já plantada, e como tal não pode ser vista sem que revolvida seja a terra em que está. Apenas quando desperta buscando o vento, o sol e a chuva é que percebemos a planta que ali florescerá.
Derruba a coroa. Desmancha o trono. Desmorona o castelo.
Se não destruíres o homem, ele reinará mesmo sobre escombros.
Mas se o arruinares, certifica-te de que não foi de bem - pois mesmo transformado em pó, reinará pelo exemplo.
Das maçãs despistamos as sementes, o que nos interessa é o sabor, a textura, o prazer. Guardadas em meio à densa carne está o bem mais precioso, aquele que irá gerar novos frutos.
A beleza foi feita para a destruição. Bem guardadas em seu interior a verdadeira natureza das coisas - O que é eterno e mais importante não pode ser visto, nem sempre é compreendido e pelos tolos é descartado.
Será que não me esqueceste entre os velhos brinquedos deixados no pátio?
Não fui apenas um jogo que, depois de muito jogado, tornou-se enfadonho?
Que parte minha quebrou-se para que agora julgues impossível o conserto?
Foi das entranhas o dano, na peça mais chave, ou na casca das aparências?
Achas justo, depois de inventares tantas regras, ser apenas brincadeira?
Agora, guardo os pedaços nas devidas caixas - e o coração quebra-cabeça.
É poesia o meu silêncio, dos olhos marejados, da boca seca e do peito escancarado.
É poesia o que resta, os dias contados, o valor que me emprestam, meus poucos trocados.
É poesia essa minha calma, dos gritos calados, da desesperança de estar acordado.
É poesia o meu passo, os espinhos tirados, e o alívio da dor dos meus pés machucados.
Ame com discrição. Com os olhos. Na boca apenas um sorriso.
Ame com estrondos. Com gargalhadas. Nas fanfarras uma necessidade.
Ame sem ser notado.
Ame aos berros.
Mas ame!
Pior é aquele que critica o amor, fingindo amar a si mesmo, e não ama ninguém.
Amo a cumplicidade das roupas velhas usadas no final do dia, e seus íntimos furos e rasgos sobre a pele.
Das pernas cruzadas embaixo das cobertas, um charme feito por duas pessoas.
De respirar o ar temperado em sal, da nuca de quem lhe confia as próprias costas.
Daquele denso hálito matinal, o mofo das bocas caladas pela noite.
No amor, todo sono é desperdício de sonho, pois já o conquistamos nesses breves acordos - acordados.