Joel Ribeiro do Prado
A CRIAÇÃO DA MULHER
A NATUREZA, AO ACORDAR UM DIA,
BEM CEDO AINDA, OLHOU PELA JANELA,
E TEVE A IDÉIA DE FAZER POESIA
SOBRE AS BELEZAS TODAS QUE SÃO DELA.
OLHANDO ROSAS, CRAVOS, MARGARIDAS,
EMOCIONOU-SE TANTO QUE CHOROU...
E DEUS, ENTÃO, DAS LÁGRIMAS CAÍDAS,
FEZ O ORVALHO E A PRESENTEOU.
LISONJEADA E GRATA AO CRIADOR,
QUE DELA PRÓPRIA FEZ SUA OBRA-PRIMA,
INCANDESCEU-SE ELA E DESSE ARDOR
BROTARAM CADA VERSO E CADA RIMA.
CHEGADA A NOITE, A ESTROFE DERRADEIRA
SE FEZ DE MAR, DE LUA E DE ESTRELA;
NO POEMA ESTAVA A NATUREZA INTEIRA;
BASTAVA OLHAR ALI, ENTÃO, PRA VÊ-LA.
MAS, POR LEMBRAR QUE SE TORNARA O MUNDO
INÓSPITO À POESIA, ERA MISTER
DISSIMULÁ-LA, E EM MENOS DE UM SEGUNDO
O POEMA TRANSFORMOU-SE...EM MULHER!
Poema que, numa troca de cumprimentos de passagem de ano, fiz para uma amiga – Claudia Basílio – a quem considero co-autora, porque dela são todas as rimas, tendo a mim cabido apenas descobrir onde estava o poema dissimulado...
Autoria registrada
joelprado@columbiamarcas.com.br
MULHER-DE-FATO
Mulher-de-fato é uma graça
Que já rareia na Terra
Com as que há, pois, se faça
Um regimento de guerra
Combatam-se as feministas
Mandem-nas para o diacho!
Elas, com suas “conquistas”
Ganharam jeito é de macho...
A mulher é mansuetude
Pra equilibrar a balança:
Num prato, o homem, que é rude
Noutro, a mulher e a criança
É, pois, com grande prazer
Que eu louvo neste ato
A nobreza da mulher
Que se fez mulher-de-fato
Da mulher sem fingimento
Destaque de qualquer rol
Só penteada pelo vento
Só pintada pelo sol
Mulher de modo fagueiro
Já na essência, majestosa
Que dispensa água-de-cheiro
Por ter aroma de rosa...
Se à flor ser flor já basta
Pra que encante toda a gente
À mulher de boa casta
Basta ser mulher, somente
Andou bem certo o Adão
Doando a sua costela
Que ensejou à criação
Enriquecer-se com ela
E segue assim desde então:
Da mulher é a realeza
O homem é só um “adão”
Curvado á sua nobreza...
autoria registrada
A ESPIRALADA EVOLUÇÃO DA VIDA
Estando certa vez num restaurante,
Veio um senhor sentar-se à mesma mesa,
Iniciando-se, naquele instante,
Um diálogo de ímpar natureza
Não me recordo bem por que razão,
Se trouxe para tema a Humanidade
Ganhando a prosa forma e dimensão
Próprias a algo de tal densidade.
Ouvindo-me atento, curioso,
Aquele companheiro inesperado
Levou-me a avançar, pretensioso,
Professoral até, no enunciado:
“Eu vejo que seguimos circulantes
Por cônica espiral, em ascensão,
E tudo se repete como antes
Mas numa afunilante projeção
Desejos, aflições, crenças, receios...
Tudo isto carregamos na subida,
Que ora são fardos, ora são esteios,
Segundo as conjunturas numa vida
O Criador é o eixo da espiral
A que vão ter os mais evoluídos
Deixando para trás, noutro final,
Os réprobos, os vis, os decaídos.
De sorte que a própria experiência
De cada qual lhe dá a dimensão
Na base nos impele a inocência
Acima, àlguns refreia a devoção”
Ao me calar, ouço de quem me ouvia:
“Sua tese é de São Tomás de Aquino.
Na USP, leciono teologia,
E lá filosofia ainda ensino.
São temas por que tenho grande apreço!
E não só eu, também minha mulher;
Anote, por favor, meu endereço
E apareça lá quando quiser”
Mesmo alcançando o gesto na grandeza
Da importância ali pra mim contida,
Achei-me aquém de tal delicadeza
E nunca fui à casa oferecida
Foi mais um erro que somei na vida...
Por não submeter meu postulado
Ao crivo de um perito em teologia
Fiz concessões demais a alguém amado
Que professava outra teoria
Faltou-me perceber que o pretendido
Fenece ao aninhar-se na ilusão
Já que esta, se preserva o sentido,
Inverte, sempre e sempre, a direção.
Perdem o rumo e afastam-se do centro
Os que enleiam fé com fanatismo;
Procuram fora aquilo que está dentro;
Buscando o céu, despencam num abismo
Na espiralada evolução da vida,
Tal como a pude imaginar um dia
Constato que há, mas há mais invertida,
A forma cônica em que se irradia
autoria registrada
OBSESSÃO
Vestiu a vida do avesso e jamais percebeu a sua falta de estética;
Perseverou numa única hipótese;
Fez dela a sua bandeira, o seu ideal, a sua única proposta.
Fê-la, também e sem perceber, sepulcro de todas as riquezas para as quais não teve tempo e que não se interessou em avaliar, fosse para dar, fosse para receber.
Não soube amar de verdade,
nem soube ser amada.
Não soube ser feliz fora do seu delírio.
Fora da sua única hipótese, transformou-se nos opostos do que queria e poderia ter sido.
Elevou-se no bojo de uma bolha de sabão;
Desconstruiu-se numa obsessão.
Mas, como ninguém mais do que ela quis,
só queria fazer o bem.
Queria..., não soube
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O REI DOS INVENTORES
Dos inventores o rei,
Deus, Pai onipotente,
Não tem, de acordo co'a lei,
Vigendo qualquer patente.
Ao projetar o Adão,
Que era total novidade,
Patenteou a invenção
E garantiu prioridade.
Eva também foi, então,
Feita por necessidade,
Sendo, após o Adão,
Modelo de utilidade (um aperfeiçoamento)
Mas não supunha o bom Deus
Que, sem direitos passados,
Aqueles inventos seus
Fossem por outros copiados.
Tão logo soube do fato,
O Mestre pôs-se em ação
E, agindo do modo exato,
Mandou notificação.
Contrafatores, possessos,
Replicaram, malcriados:
“De fabrico os processos
Foram por nós inovados!
Conseguiu-se reunir
O útil ao que deleita
E já não é pra dormir
Que cá na Terra se deita...
Produz-se diuturnamente,
Há empenho e alegria!
Com barro, presentemente,
Bebê algum se faria...
Merecemos o respeito
De quantos deuses houver,
Pois o mundo não foi feito
Pra um homem e uma mulher.”
Mas, com tal falta de tato,
A coisa se complicou
E Deus, que é forte de fato,
À morte nos condenou.
Tudo o que houve em seguida
Reflete em nós inda agora:
Os outros nos põem na vida,
Mas Ele nos leva embora...
Isto outra coisa não é
Senão busca e apreensão,
Por não se ter posto fé
Na tal notificação.
Mas, se vale uma patente
Por período limitado,
As de Deus, seguramente,
Já têm o prazo expirado
No tempo de duração,
A lei é bem definida:
Não cabe prorrogação
Ao monopólio da vida.
Mas, franqueada a produção,
Há um problema pela frente:
Sem a busca e apreensão,
Onde se irá pôr mais gente?
É melhor, pois, por agora,
Buscar outra ocupação:
Fazer à noite mais hora
Diante da televisão...
AUTORIA REGISTRADA
Em toda luz alguma sombra habita,
Em todo amor habita algum pecado Em Em toda mãe, uma mulher bonita,
Em todo kamikaze, um ex-soldado.
Em toda tempestade há uma bonança,
Em todo sofrimento, evolução;
Em todo ancião há uma criança,
Em todo amanhã, recordação.
Em todo bar uma ilusão flutua,
Em todo copo há riscos de naufrágio;
Em todo mar noturno há uma lua,
Em todo grande engano, um mau presságio
.
Em toda liberdade há um limite,
Em toda independência, algum grilhão;
Em todos os totais há o que se omite,
Em todos ideais, imperfeição...
autoria registrada
MULHER
Para as fadas do apocalipse
Quando te sonho, és a perfeição
Quando te penso, és meu exagero
Quando te encontro, és minha ilusão
Quando te perco, a mulher que eu quero
E segue a vida nessa busca louca
De quem, para viver, precisa amar
E eu já nem sei, se ao beijar tua boca
Sorvo o veneno que me vai matar
Se em todo vício está a perdição,
Que ninguém chore o fim que eu tiver
Estarei calmo, enfim, no meu caixão,
Sem brigas, sem stress, e sem mulher....
AUTORIA REGISTRADA
MEU PERFIL
Sou uma vida posta na estrada do tempo, que tem trechos de todo tipo. Não sei bem o que virá depois do derradeiro pedágio e nem o que estará indicado na última placa. Tenho certeza de haver andado na mão, de que procurei seguir junto com outras vidas paralelas e de que não abalroei nenhuma que com a minha tenha cruzado. Como melhor esperança levo a de que, esteja onde estiver, a Eternidade
será o local definitivo da feliz convivência minha com todos aqueles que amo.
Pra mim, os que transitam pelo acostamento, nesta mesma estrada do tempo, são os que têm por combustível uma mistura que ali mesmo os fará enguiçar a qualquer momento; mistura explosiva, que parece conferir potência, mas que, na verdade, o que faz muito é poluir. Essa mistura é feita de egoísmo, crueldade e espiritualidade falsificada.
Sou um ser natural que não se dá bem com nenhum artificialismo. Não busco fora o que entendo que, por lógica, tem de estar dentro e tem de ser trabalhado por mim para florescer. Não persigo desvendamentos de mistérios transcendentais à capacidade humana e terrena de alcançar; deixo essas coisas para quando e onde devam acontecer, espontaneamente, numa idade espiritual superior. Acredito numa entidade criadora de tudo, que permite a cada uma de suas criaturas aquilo que chamamos de livre arbítrio. O livre arbítrio é exercido de modo compatível com o desenvolvimento já alcançado pela criatura, gerando resultados finais também compatíveis com as ações praticadas. Esses resultados farão parte do processo evolutivo, mesmo quando retrocessivos. Na fase terrena em que me encontro, o meu livre arbítrio deve ser exercido considerando onde estou e como devo aqui me comportar para preservar o que intuo ser da vontade do meu criador, que, em grafia cristã, se deve escrever dO meu Criador. Vivo num ambiente material, tenho por equipamento físico um corpo e por comandos a minha mente, a minha vontade e a inspiração da minha espiritualidade. Faço com freqüência uma avaliação do estado dos meus freios. Eles são do sistema reflexivo. Dependendo da qualidade do trecho ou da minha, os freios atuam mais prontamente ou menos. Agora mesmo esse sistema de frenagem foi insuficiente, pois uma criatura que vinha comigo e do meu lado esquerdo calculou mal os seus movimentos e, pretendendo seguir pelo acostamento, me levando também pra lá, deu-me um tremendo fecha e ralou bastante aquela lateral esquerda. Será necessário reparar logo, pois é natural que, neste estado em que ficou, até afugente quem se aproxime...
Como tem gente atabalhoada...
Há pouco, fui catalogado como poeta contemporâneo pela Câmara Brasileira dos Jovens Poetas Brasileiros e tive um poema - A CRIAÇÃO DA MULHER - classificado entre os cento e trinta mais bonitos de 2010. Isto é prova da minha respeitosa admiração por ELAS