Jodhi Segall
Balada
Não, não me digas não nesta noite.
Aceita com teus risos a alegria desta hora;
envolve nos teus braços os meus carinhos
e não te afastes deles até o amanhecer...
Escuta minha balada de amor,
meus versos profanos de paixão;
toma em tuas mãos o calor latente de meu corpo
e em beijos ardentes te entrega aos meus fascínios...
Não, não me digas não nesta noite.
Aceita com teus olhos o esplendor deste luar,
que envolvido nestes versos trago:
são parte deste amor que sinto e a ti traduzo.
Escuta minha cantiga enamorada como um canto mágico
a bulir em teus cabelos,
como ternura de meus lábios a percorrer tua pele.
O Corpo
Ribeirão Preto - SP.
Grande Circo Popular do Brasil. 1995.
Masculino este meu corpo se heterogeniza, sexualiza,
revela e muta, descarna: deságua em feminino absoluto.
Fundidos, atados, corpo e alma solidificam:
unificam, purificam, autenticam.
Masculino, este meu corpo se rebela à mera função de macho
reprodutor,
consumidor de fêmeas,
de primata.
Minha alma feminina o guia e protege e ilumina;
ousa em asas, afirma: ascende rasgada, dissecada;
exposta, nada priva.
Livre, meu masculino corpo se dilui...
Ama, entrega: integra, desintegra, marca.
Semeia e segue.
Pérola
Para Henrique Leonardo Lima do Nascimento.
Uberaba, MG, dezembro de 1999.
Folhas de Outono,2001.
Assim
como as folhas caem no outono
e as flores brindam a primavera
tua amizade
é verão em pleno inverno
luz e vida a aquecer a alma
Em pequenos e vãos momentos
em tudo me acrescentas
saudade é já antes do partes
e me transformas para a guerra
e me conduzes na partilha
Melhor me dou
na independência do senso e do sentido
que sentindo sou
Verbo
Para Monsenhor Juvenal Arduini.
Uberaba, MG, primavera de 1998.
Folhas de Outono, 2001.
O verbo é a essência.
O homem é o pote.
A oração é a mensagem.
O verbo, a prece.
Todas as coisas giram ao seu redor.
Sozinho, ele não é nada.
Como eu, tu e ele,
Todos dependemos do nós.
E dos nós que desatamos...
Clave de Sol
Para Maria Solange de Souza.
Praia do Jardim Guanabara. 1983.
Ilha do Governador. Rio de Janeiro-RJ.
Epopéia.
Coxas entrelaçadas nas labaredas
do céu.
Espera na busca do delírio:
suor
melodia
e ego.
Curas.
Revela pensante o animal: amante.
Usa-me.
Poeminha de amor
Para Irene. Maestro Arturo Toscanni: 1976.
EM 19XX19 Cap de Frag Didier Barbosa Vianna
Ilha do Governador. Rio de Janeiro – RJ.
Um barco veleja
Sobre as ondas do mar
E o tempo me leva
Nele a navegar
Vento forte vento bravo
Este vem a me atrasar
Mas mais forte é o meu barco
Que navega sem parar
Navega com rumo e sentido
Sentindo as vagas do mar
Me leva tonto e perdido
Louco (louco) para te amar
Gratidão
Para as minhas mães, irmãs e filhas Dominicanas
e meus fraternos frades Maristas, Franciscanos e Beneditinos.
1979. Colégio Nossa Senhora das Dores. Uberaba-MG.
Deus me amou tanto que me fez poeta.
Quisera eu ser seu filho predileto:
poder multiplicar os pães de que o meu povo
tanto necessita, ter a sabedoria de Salomão
e as virtudes de Maria.
Quisera ser um Cristo e dar de graça a
salvação do mundo.
Mas não.
Pequenino como Marcelino,
guardo comigo a gratidão:
Deus me fez poeta:
Um homem comum
(pobre e feio),
como qualquer
um.
Quando
Para Edison Simon e Eduardo Galeano
E então como as nuvens passam
E os homens morrem
Assim tão simples entes e mentes
Nada mais significam
São engodos
Nódoas
Mágoas
Coisas esquecíveis.
Simples entes e mentes
Ignoráveis.
Acordamos um dia como noturnos.
Entre fuzís e coturnos nos definimos libertários.
Perdidos entre o bucólico e o alcóolico nos dizemos apaixonados.
Mas nada é tão burguês quanto ser socialista.
É o mesmo que dizer temos queijo, mas não para ratos.
Temos vinho, mas vista o terno. Saiba termos. Regras.
Silêncios. Discrições descritas nos index
do bem comum.
Nada tão hipócrita.
A mortalha me serve.
É rede feita de linho.
Simples.
O sol é lindo.
O sal não arde.
De amor fui feito,
por amor lutei.
E as nuvens passam...
Um dia há de contrários, mas não eternidades.
É preciso o impreciso de verdades.
Então morremos. E sabemos
com tranquilidade
que não há mais dor.
Nem precisamos de esperanças.
Em breves, como em vidas, não havemos mais
lembranças ou
esquecimentos.
Nada mais além
do firmamento.
Os Titãs (Das questões)
Dois titãs se completam
Se refletem e se maravilham
Dois amantes
opostos se iluminam na mesma escuridão
Dois pesos
um só êxtase e fadiga
Dois náufragos e tudo é
Angústia e medo
Distância
Viscosidade
De corpos putrefatos
E almas mortas
Sem portos ou portas
Só incertezas
E um gosto acre de maledicências e inveja
Total desprezo à dor
Abandonos...
Espelho
Aos poucos nos tornamos mais fortes.
Aquela fraqueza não se sustenta.
Vemos a grandeza como algum comum.
Tomamos posse de nossas riquezas, fortunas, venturas.
Nada tememos em nós próprios e tudo preservamos ao derredor: o modo, as coisas, as pessoas...
Aos poucos a imagem se dissipa e no espelho encontramos nossas verdades.
Nenhuma dor permanece.
Sentimos uma áurea de humanidade, cantamos uma música enternecida sem melancolias, melodramas, restituições ou resgates.
Todas as contas estão pagas.
Leve como uma pluma, ergue-se sobre o sol, a alma.
Sob estradas, estrados...
Além de nós, estrelas!
Lux
terras de ninguém
o corpo
meu teu outro teu meu
nele em mim em ti
noutro alguém o
vortex
no velório amém
e diz-se amar
aquilo que não tendo
não contém
Amores perfeitos
ali
na lateral
o litoral e a
nuvem
uma sereia cantou aqui
e tudo se recriou na imperfeição
do amar
restou-se
o mar
Relicário
nos demais
envelhecer ou morrer de acidente
causa natural
da busca
do medo
do espanto encontro
ou simplesmente
da simplicidade das coisas que
com tanta eficácia e eficiência
além ou aquém das dificuldades
naturais das coisas
edificamos
ou não
Confissões
nasci em algum tempo
em algum lugar
nada sei de mim ou do mundo
e isto me faz viver
declaro inexistente a esperança
sem ela
todos somos crianças
um dia cresci e foi horrível
ser homem é não existir
Certezas absolutas
Brasília, DF, 22 de março de 2017.
Aprovação da PL 4302/98, Lei da Terciarização.
Como será?
Não faço a mínima ideia.
Começaram por destruir a minha língua.
Furaram meus olhos.
Estouraram meus tímpanos.
Quebraram minhas pernas.
Arrancaram meus braços.
O resto é pouco...
Mas, para todos, uma certeza:
todas as incertezas vos sovino!
Plena e pura certeza absoluta: eu morro.
Não agora!
Por ora, respiro e luto.
Ainda que castrado
e insano!