João Pedro Eliseu
Poesia é vaidade também, mais novidade
Quando me surpreende um passado eterno
Quando os carros gritam na madrugada.
Madrugada que ressuscita o mais ancestral amor
Remanescente nas entranhas da alma
E também no tecido que me encobre toda noite
Que me protege do inverno de ideias frias.
Abraça-me numa dança angelical e ferve.
Ferve uma imortal dialética entre a dor e a chance,
Esperança vaga de um troféu imensurável.
Troféu que é mais tesouro de fato,
Pois depende mais é de encontro, menos de conquista.
Teus versos são claros que cegam-me os sentidos
E mal vejo agora a verdade.
Não que a busque, pois afinal é você
Em voo pleno de beleza e liberdade
E os possíveis conceitos, prefiro esquecer.
Nesse teatro celestial em canção,
Quero mais é cair sem rumo
E conhecer a completa perdição.
Soneto do(a) lobo/ovelha
Somos todos brancas ovelhas,
Em um rebanho soturno e misterioso
Quando da verdade ascendem a centelhas
Adentro no rebanho surge um lobo.
O preço faz caro, muitos danos e perdas
Livres ao caos, reluzem as máscaras
Caídas na grama entre tantas ovelhas
Qual for lobo, não será identificada
Sou eu, um lobo ovelha?
Ou uma ovelha lobo?
Um caçador dissimulado, de fábula velha
As máscaras estão aqui e também ali
Criamos nossa própria ovelha
E andamos pela sombra, disfarçados por aí.
Bela manhã
De manhã meu verso é parnasiano,
Cheio de coisa lá e coisa cá
E se sou, agora sou mais humano
Tão raso e supérfluo, que amadurece sem amar.
Escrevo até assim, pra mensagem chegar
Essa manhã cinza-azulada é bela de natureza!
E me apaixono pela cor mística desse lugar
Idolatro minha obra construída em fortaleza
Não me interessam na verdade os motivos,
Se vejo na composição da manhã
De imediato os julgo bonitos.
Aqui só mesmo sacio minhas vaidades e anseios
Poder construir algo belo, distante do verso que melo.
E reabastecer o corpo de clássico receio.