João Pedro Almeida Soares

Encontrados 2 pensamentos de João Pedro Almeida Soares

⁠Ele olha pro lado
Olha pro outro
Cadê?
Cadê quem tava aqui?
Eu quero saber onde morreu
Afonso Nonato de Moreira
Jesuíno da Silva Babuíno
O IML tava lotado
Era o meu sangue por toda parte
Roubaram a cabeça do proletariado
O barão de Limousine fez sua arte
Me jogaram na platéia de estardalhaço
despedaçaram a minha camisa
O Brasileiro agora é o descamisado
E o palhaço é o pai de família
Juntaram uma quadrilha de vagabundos
Com o umbigo estufado e peito erguido
Segregaram as fronteiras de um novo mundo
Fizeram da minha luta um tempo perdido
O pódio é mais um produto do ódio
No viaduto do existir
No cume da matéria guardam revolta
Um dia o lixeiro volta a sorrir
Se come caviar de cima do teto
Se torce de amargura num botequim
Cheiro de esgoto a céu aberto
Um pobre pedinte olhou pra mim
O cristo redentor de braços abertos
mostrando o sacrifício de uma cidade
usam telha barata encima dos tetos
e matam o mais fraco por pura vaidade
Eu quero saber qual é o seu nome
E o nome da sua campanha
Será que um dia já passou fome?
Ou ficou endividado por uma semana?

Inserida por joao_pedro_almeida_1

⁠"Hoje é Quarta
Um dia sim e um dia não
Não próximo do
Dia do descanso dos homens
Nem perto da partida para a Guerra
Nas temíveis segundas-feiras
Hoje é um dia no meio dos dias
Um dia pra se viver no meio
Na linha tênue entre o que
Você é
E o que realmente precisa fazer
Embora eu ainda não saiba
O que realmente sou
Sei que hoje é Quarta-Feira
Um dia que vem após Terça, porém
Após todos os outros e inclusive
Outras Quartas-Feiras
Hoje é A quarta-feira
A única que existe, mas não a única que já existiu

Não sei se a longo tempo
Em quarta, quinta, sexta, ou se inventarem
Uma sétima-feira
Terei descanso
Ou o prazer de trabalhar
Com o consenso de que acima de tudo
Ainda sou feito de carne
E apesar de complexo
E abstrato
Ainda sou um milagre
E não uma bagunça
Mas não se enxerga um milagre
Quando ele é um fator
Pois cada ser humano é uma utopia
A falha, a não existência é que tende a ser uma raridade iminente
Fugir dela é também um milagre
Como considerar então um milagre
Se é tão comum
Ver seu filho nascer
Mesmo que não hajam forças
Nas veias e nem dinheiro nos bancos em meu nome
E nem a coragem no meu peito de dizer a esta criatura
"ei, você é um milagre, um acontecimento improvável, mas que pela lei natural das consequências, está aqui, vá, ande, corra, caia, mata ou morra, será sempre um fruto, um produto e um alicerce
O que dirá eu
Que nada sou além
De um produto que antes era
E agora nada mais é que um peso
Estagnado no tempo
Fútil
Sem razão
E com a moral de um menino bobo
Que finalmente entende que o que chamava de pódio
Agora
Nada mais é
Tudo o que me obrigaram
A ser apenas por prazer próprio
Me prometendo rios de felicidade
Em campos quais não cultivei o que realmente importa
Eu não conseguiria olhar para aquele pedaço de acidente
E dizer
"Bem-vindo ao mundo, és especial"
Embora seja
Embora não
Eu vou partir
E pra sempre, sem razão
Terás que lidar com a dor
De não ser mais que um peso estagnado
No ar, parado no tempo
Fruto das consequências
Escravo dos menos prováveis de estarem acima
E quando eu, aquele que diz que o universo
A galáxia
As estrelas que morrem e nascem
Mas que sempre brilham felizes
Não importam nada perante você
Quando o velho já quase carcomido
Lhe disser isso
Antes de se tornar nada
Além de um vão entre destinos
Lembre-se
Que você já não era mais que
Um mero rapaz
Um mero fruto Brasileiro
Do acaso
Um mero réu a ser julgado pelo que achava precisar fazer
E quando se pegar sentado, contemplando o peso e a leveza
Deste leve pesado fardo de ser o que você é
Embora suado, embora feliz, embora triste, embora agitado, ou correndo contra o tempo, ou chorando baixo por debaixo da mesa
Ou se entregando à carne, ao cheiro, ao suor alheio e as curvas de uma mulher qualquer, que nada quis além de usar-te como um cigarro
E não enxergar atrás dos próprios olhos
Verás que
Ainda é quarta-feira
Um dia após Terça-Feira
Não perto do descanso dos homens
Não perto da partida para a Guerra
Na temivel Segunda
Ainda é Quarta
Seja ela a sétima
A oitava
A nona
A décima
A terceira milésima quadringentésima
Quarta
[...]
Quarta
Ainda
Felizmente ou não
É
Por tudo
Por via de regra ou não
A droga de uma
Quarta-Feira."

Inserida por joao_pedro_almeida_1