João Batista de Mello Neto
Te acho bonita
Olhos castanhos, tão profundos quanto o mais puro oceano
Pele macia, feita e refeita por anjos no fundo paraíso
Cabelo cacheado, com voltas mais complexas que a mais complicada equação
Beijo doce, mais doce do que o mais bonito caramelo
Eu te amo
Personalidade forte, mais forte que o mais bravo cavalheiro
Inteligente, mais astuta do que aqueles que admiram cobras
Rica, rica de compreensão, rica do que ninguém jamais teria coragem de estimar
Eu te amo
Te amo pois me deu coragem
Te amo pois me ensinou
Ensinou a amar a mim mesmo
Ensinou a ter coragem de me expressar
Ensinou a me controlar
Me deu amparo sem nem mesmo amparar
Mas o sentimento me consome
Anseio por mais
Eu preciso de mais
Me de mais
Eu te amo?
Ou amo apenas
A luxuria da sua paixão?
Teologia
De onde viemos?
Para onde vamos?
Porfiemos em seu nome
Mesmo que não o disséssemos
De existência intemporal
De embasamento banal
Esbanja sua onipotência
Que nós faz ir além da própria moral
Desperta no humanoide
Seu mais puro desejo megalomaníaco
Desperta no humano
Seu mais puro desejo demoníaco
Seu nome é manchado com inveja
Seu nome é manchado com cobiça
Um pandemônio se estabelece na igreja
E quem não concordar, por favor, se retira
Ainda há aqueles que duvidam
Ainda há aqueles que criticam
Mesmo de argumentos retóricos
Sua existência desperta no humano, seu lado mais ontológico
Nada perante o vácuo
Você não é nada
Não representa nada
Não faz diferença alguma
O universo pouco se importa contigo
Do nada você veio
Ao nada retornará
De tudo que você criou
Nada te restará
Tudo que construiu
Tudo que prosperou
Tudo que desenhou
Tudo que destruiu
Não faz diferença na vastidão do universo
Um espaço tão grande
Por que você acha que essa vastidão se importa com você
Seus desejos, sonhos, ambições e pecados
Todos se perderão no vácuo
Então viva sua vida, sem medo e sem restrições
Pois se nada mais importa
Então por que se importar com tudo?
Eu sou bom o bastante?
Para fazer você sorrir
Para fazer você cantar
Para fazer você dormir
Para fazer você dançar
Eu sou bom o bastante?
Para mover montanhas
Para quebrar trovões ao meio
Para dobrar pestanas
E cortar a moral do errado e do direito
Eu sou bom o bastante?
Para ressuscitar aqueles que se perderam
Para tornar vivo aquele que já morreu
Para te livrar de teus devaneios
E para resgatar-te das dividas em que se meteu
Eu sou bom o bastante?
Para me fazer feliz
Para te fazer chorar
Para me fazer dormir
Para te fazer sonhar
Eu sou bom o bastante?
Para dividir a sociedade em três quartos
Para manter a sanidade dos loucos do internato
Para matar a tua paixão com um palmo
Para estourar seus olhos em uma finitude abaixo do horizonte
Eu sou bom o bastante?
Vinho
Tiro da adega um vinho branco
Requintado e empoeirado repleto de encanto
Ametista liquida digna de contradição
Pairando sobre minha mente, efeito da concepção
Quero extrair do meu coração
Esse liquido amniótico
Usurpa a minha mente
Essa pura podridão
De sentimento retorico
E simplicidade duvidosa
O pensamento do poeta
Esse entorpecente inexplicavelmente simplório
Deveria extrair esse ciúmes
E fazer dele uma bebida
Seria o pior wiskey que já existira
Deveria fermenta-lo um pouco mais
E passaria a vender vinho ciumento
Vinho em garrafa
Garrafas cheias de podridão
Uma cor inestimável
É uma cor simples
De tinta barata
De preço baixo
E de coloração triste
É uma cor invisível
Porém maravilhosa quando se sabe ver
É vista nos olhos de quem você ama
E sentida no coração de quem não sabe temer
É uma cor indescritível
É uma cor inestimável
Que percorre a linha tênue da vida
E que estende os conceitos do que realmente é bonito
Que brilhe cada vez mais
Para eu apreciar o brilho
Desta cor que por tanto tempo busquei
Busquei chorando e rindo
Que cresça cada vez mais
Esta cor impalpável e indestrutível
Que deixe estar
Esta cor que eu chamo de amar
Gymnopédie
Erik Satie criou em suas músicas a mais pura harmonia
Harmonia de mestre, harmonia de melancolia
Fico triste de saber que Erik Satie não é reconhecido mundialmente
Pois suas músicas merecem permanecer na história por séculos remanescentes
De música anti-romântica e estrutura simples
Aqueceu meu coração gélido e me fez lavar a alma com lágrimas tristes
Deu a mim a oportunidade de entender parte da complexidade do amor
Deu a mim a oportunidade de entender parte da complexidade do pudor
Suas músicas me ensinaram que um dia uma garota havia de aparecer
Uma garota tão bela, que sua beleza não sumiria nem ao anoitecer
Seria uma garota calma e inteligente, capaz de domar meu ser
E sedutora capaz de ascender em mim às chamas do querer
Suas músicas me acomodaram como um abraço melancólico na noite escura e fria
Como um abraço melancólico e frio, que me fazia suar mesmo embaixo de cobertas
Agora este sentimento, embora parecido, mudou radicalmente
Pois agora sinto uma euforia gigantesca ao dormir ansiosamente
Lembro de suas músicas e de seus abraços tristes, que agora são abraços calorosos
Abraços de amor, e não de tristeza, que me acolhem como se ela estivesse comigo
É um sentimento enlouquecedor, uma epifania inacabável, mal chego a sentir o perigo
O perigo da noite desaparece, pois sei que você está lá comigo me vigiando com seus olhos
Graças a Erik Satie, eu entendi a complexidade do amor
Outrora triste
Outrora feliz
Graças a Erik Satie, eu entendi que eu amo por me importar, eu amo simplesmente por amar
Obrigado por me ensinar a amar
Dedico esta poesia a ti Satie.
Seu Favorito
Posso ser seu favorito?
Te segurar nos meus braços
Juntos olhar o infinito
Mandar todos se foderem no recinto
Viver contigo uma aventura prazerosa
Levar nossos corpos ao limite numa dança de risco
Entrelaçados em seda, imersos em maciez
Poderia você me tornar favorito?
Poderia você valorizar meu romantismo?
Poderia você valorizar meu romantismo?
Poderia você me dar sua mão?
Poderia você tirar de mim esse martírio?
Tenho medo de expressar como me sinto
Tenho medo de fazer meus medos te afastarem de mim
Você quer um brinco?
Posso te dar meu coração em formato de brinco
Seria a mulher mais elegante do continente
Curvar iam-se a sua vontade, por ser tão obsoleta
Porém todos chorariam ao encarar seus brincos
Após saberem que são feitos de coração de poeta
Atlântico
Do sul ao leste
Do oeste ao sudeste
O mar repele
Poesia de Nova Iorque até Budapeste
Do oceano eu saio invicto
Escrevendo poesias até entrar no recinto
Está na hora de deixar as coisas confusas
Para escrever linhas que não façam sentido
O sol ilumina
E do seu útero saí o que a lua traz consigo
De Cthtulhu até Azazoth
De Jesus a Sabbaoth
Meu braço se estende
Ao crepúsculo infinito
De uma pintura apressada
Surge o trabalho definitivo
Uma poesia sem sentido
Com sentimento até demais
Daqui saio satisfeito
Por ter feito uma ótima obra de arte
Fedor
Eu não tenho nenhum cheiro
Meu medo vai muito além do receio
Eu tinha um amigo porém agora ele me odeia
Acabou a hora do recreio
E o futuro me mata
Me consome além da conta
E eu ainda não sei sobre o que se trata
Eu tinha um amigo porém agora ele me odeia
O conflito já não é mais o bastante
Quero saciar minha sede delirante
Quero romper a barreira da moral
Criar minhas próprias regras no meu mundo ideal
E se isso não te agradar
Quero que se foda
Pois no meu mundo
Apenas eu vou repousar
E não importa o quanto eu estudar
Esse vermes continuaram comendo meus tendões
Apesar do pesar
Eu sinto prazer sendo atingido por esses ferrões
Ser um adolescente é ser ingênuo
Se meu caráter não se moldar até os 19
Posso declarar minha vida acabada
Pois se depender de mim, minha índole será resumida a punk rock
A dor em suas costas
De modo nenhum deve subestima-la
De forma que não veio de lá
Ela é um poço de mistério
De forma estéril
Seu cantar seduz obliquamente os homens
De modo nenhum deve subestima-la
De forma que não veio de lá
Ela é um poço de bondade e aqueles que interferem, somem
Não deseja ser reverenciada
Muito pelo contrário, é mulher digna de ser beijada
Que seu cantar seja o abrir de um novo horizonte
E que sua batalha continue, incomodando os montes
Suas costas doem
Dor de garras
Dor de trabalho
Dor de faxina
Que a deixem cantar
Sem interrompê-la
De modo nenhum deve subestima-la
De forma que não veio de lá
Que a sua canção
Seja o abrir de um novo horizonte
Que seja o abrir
Da alvorada de uma nova era
Passe Livre
Sabe bem, tira de mim esse abraço
Sabe bem, tira de mim esse retrato
Sabe bem, tira de mim esse estrato
Sabe bem, engula esse rato
De fato, não é fato
Que meu ódio é moldado
De fato, não é fato
Que seu falso retrato agora já é barato
Entre todos os continentes
Uma mulher ainda não é empoderada
Esse desespero audível
Me deixa desesperado e empoeirado
Essa sua falsidade tem fim?
Vamos tomar um sorvete!
Banhado em vinho
Vinho em rim
Mulher deixa de ser trouxa
E torne-se o mais potente rugido
Não sucumba ao arrependimento do molestador
Pois o seu caráter ele rouba
Agora um irmão de verdade
Vitima da agressão
Sucumbiu a pensão
Tenho pena dessa sua bondade
Admiro a sua gentileza
Ou repudio essa sua gentileza
A ilusão de amizade
Fez de você uma prisioneira
Agora de forma rasteira
Seu irmão de verdade
Não se arrepende de seu pecado
Não caia na armadilha novamente mulher
Céu apático sobre mim
Um vislumbre finito no azul marinho
E com excesso de carinho
Estrelas morrem assim
Céu quebrado sobre mim
Contanto que eu viva
Serei parte de ti
Mesmo que eu perca o que eu tinha
Céu retrátil sobre mim
Não me tire esse privilegio
Você mergulhada em jasmim
Não me reduza a tédio
Céu apático sobre mim, eu lhe peço
Não me julgue como réu
Não pense que eu sou o único culpado
Pois dividimos o mesmo céu
Valles Marineris
Prometi a marte
Diante de Fobos e Deimos
Com a ajuda de Vênus
Antes que fosse tarde
Da Terra, sinto-lhe distante
Me seduzindo de mercúrio
Tão irritante
Mas eu recuo
Do lado me sufoca
Essa anã branca
A nebulosa do seu corpo
Ainda me é estranha
Plutão continua insistindo
No meu comportamento abusivo
Quero parar de senti-lo
Destruir esse sentimento e reprimi-lo
Antes que fosse tarde
Me esconder desse ataque
Diante de Fobos e Deimos
Com a ajuda de Vênus, prometi amar-te