João Batista
Quisera uma flor apenas
no meu portal de esperanças;
suas pétalas pequenas
são sorrisos de crianças!
Quando se enxerga o inimigo
o embate é menos atroz,
pois ele é maior perigo
estando dentro de nós!
Minha luz interior
tomou forma e consistência
quando descobri o amor
na mais singela existência!
Querer ser poeta, não!
quem é não é por querer.
escrever do coração
não precisa saber ler!
A goteira enciumada
feriu a rosa em botão
porque à chuva misturada
nunca chamou atenção.
Quisera, nos meus delírios
que alcançam versos celestes,
a liberdade dos lírios
nos vastos vergéis agrestes.
Que valor tem conquistar
poder e glória sem fim...
se no aconchego do lar
solidão ganha de mim?!
O chilrear matutino
numa cadência sem fim
é o legado do menino
cantando dentro de mim!
Quando me vejo aqui, no pedestal
onde a lida acalenta e se faz luz,
a vitória cintila no portal
e desintegra a treva que seduz.
Conseguir algo mais, travar o mal,
vislumbrar no crepúsculo, conduz
sentimento de força sem igual
na vereda luzida por Jesus.
Volver à luz que brilha no horizonte
mostrando o caminhar em forte ponte
é a mesma luz que brilha a todos nós...
bastando simplesmente a coerência
na busca da lavoura em consistência.
Seremos então livres, jamais sós!!
Não queiras me envenenar;
minha dor está dormente;
ternuras no teu olhar
são dois ninhos de serpente!!
Quem leva a vida pequena
seu espírito não medra;
a virtude pesa pena
eo defeito pesa pedra!
A flor beija a natureza
com sua espontaneidade...
Mulher exala beleza
na sua simplicidade!
Não faça do amigo a ponte
para o sucesso alcançar;
muitas vezes no horizonte
é onde começa o mar!
Junto à árvore da trova
conheci minha poesia,
pois quem do seu fruto prova
faz do verso moradia.
Tens apenas um defeito:
ferir-me na insensatez;
eeu apenas o direito
de morrer uma só vez!
A janela da poesia
aberta às rimasdo amor
deixa passar, noite e dia,
toda a ternura da flor.
Pranto, rio que desliza
em pedras, curvas, escolhos,
às carícias de uma brisa
que externa o brilho dos olhos.
Oxalá flores nascentes
em vergéis adormecidos
despertem as novas mentes
aos caminhos coloridos!
Se palavras são em vão
ao amigo, no fracasso,
externo a minha emoção
no silêncio de um abraço!!
Saudade, flor que a distância
seu perfume não desfaz.
Jardim onde nossa infância
dança ciranda de paz.
Solidão é uma procura
além dos nossos sentidos.
Sem tempo, longe, a ternura
se perde nos alaridos.
Um leve toque em um ombro
com doações de energias
remove dores no escombro
das horas tristes... vazias...
Amor, dádiva Divina,
semente humilde e perfeita;
a luz que nos ilumina
pela caminhada estreita.
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T R O P E Ç O
Vejo-me agora no final da estrada
e as consequências de uma vida aflita
a procurar afoito a mais bonita
virtude altiva, joia lapidada.
As mãos vazias cheias de desdita
não afagaram outras sem ter nada.
E a consciência viva, tão pesada,
arrasta o fardo que a ambição incita.
Peço perdão para mim mesmo, eu sei
que para evoluir existe lei
da semeadura e sua consequência.
Queira ou não queira o fim faz o começo
para engendrar a escala sem tropeço;
ser mais humilde na nova existência!
Das mãos limpas que me valho
são exemplos dos meus pais:
honestidade e trabalho;
ganância... inveja... jamais!
Quantas pedras removidas
e quantas por remover.
Provações em nossas vidas
que só nos fazem crescer!
Não existe lei que impeça
um pensamento funesto
de quem semeia promessa
quando não quer ser honesto.
Distância não é medida
se a paixão é verdadeira;
o calor de despedida
não diminui a fogueira.
Pergunto ao tempo até quando
a falsa paixão se esconde.
E ele passando... passando...
sutilmente já responde!
A terra liberta cios
e os braços do homem aceita
quando a chuva por seus fios
tece o manto da colheita!
No fim do túnel a luz
sinaliza uma esperança.
Quem a seu brilho conduz
a vitória sempre alcança!
Pelas flores que plantei
entre espinhos... muito fiz
que um grande jardim ganhei:
Minha sina é ser feliz!
Quando eu pensei que tudo estava certo...
eis que você, na calma de serpente,
virou meu mundo assim tão de repente
numa miragem plena de um deserto.
Meu pensamento sóbrio, tão presente,
não alertou-me como estava perto
um coração fechado... e bem aberto
à pequenez de um sopro tão latente!
Me refazendo aos poucos, fui olhando
nas passarelas de um mundo nefando
desfiles frágeis, quem olha e não vê.
Hoje agradeço sua insensatez
silenciando o vazio de vez
feliz por mim e triste por você!
Uma mulher de verdade
simplesmente é poderosa:
vence os espinhos da idade;
ganha os encantos da rosa!
Se cuidarmos bem da fonte
a natureza eterniza
os vislumbres do horizonte
com as promessas da brisa!
Bem no meio da floresta
a terra respira fundo...
Aproveita o que lhe resta
arejando mais o mundo!
Novas auroras... quimeras...
esperanças e portais.
Parecem que em primaveras
as flores encantam mais!!
Primavera! Primavera!
Quantas vivi... viverei?
Enlace da nova era
nas serpentinas da grei!
Primavera é a estação
por onde embarcam poetas
no trilho de um coração
cheio de curvas e retas!
Nosso amor é tão intenso...
e tenho a leve impressão
não ter idade... pois penso
sermos de outra dimensão!
Na praça, o coreto dorme...
despertando a minha infância.
E aquela saudade enorme
encurta mais a distância!
Na distancia dos abrolhos
que abrigam os excluídos,
quanta súplica nos olhos
ao silêncio dos ouvidos...!
Sinto a brisa descansar
sua ternura em minha alma...
quando a luz do teu olhar
aminha tormenta acalma!
Tenha paciência meu filho
__aconselhavam meus pais__
aquele que alcança brilho
não carece andar demais!
Aquele que não respeita
o tempo, na semeadura,
certamente na colheita
não terá fruta madura.
Comprimido pelo tédio
teu elixir foi meu mal.
És para mim, do remédio,
o efeito colateral!
A fugir da hipocrisia
na discrição eu me calo,
pois quem fala em demasia
cumprimenta até cavalo!
Se eu ficasse aquele dia
sem aceno na estação...
hoje a cena não teria
cicatriz no coração!
Ao saber do furacão
o luso apela ao socorro
escondendo no porão
seu estimado cachorro!
Quando a dor fica teimosa
e a esperança nem murmura,
o espinho a zombar da rosa
exala a sua amargura!
Os olhos são seus ouvidos;
sua voz, mãos triunfais.
seus anseios têm sentidos
na linguagem dos sinais!
Se palavras são em vão
ao amigo, no fracasso,
externo a minha emoção
no silêncio de um abraço!
A verdejante campina
é uma verdadeira escola:
Na simplicidade ensina
sonhar ao som da viola!
O sorriso de criança
é o despertar que uma rosa
faz, na aurora da esperança,
uma fonte luminosa!
Deus fez, num ato supremo,
a pintura mais completa:
Arco-íris num extremo
e no outro a luz do poeta!
Com a esperança distante
e a força por extinguir...
pequena luz é o bastante
para o nosso olhar seguir!
Construí meu universo
nos pilares da poesia.
Cada estrela, a luz de um verso;
cada verso, um novo dia!
No duelo de titãs
a vitória é do clarão
quando o sol, todas manhãs,
rompe o véu da escuridão!
Minha alma no azul se expande...
parece um sonho sem fim.
Sendo o nosso amor tão grande
sinto o céu dentro de mim!
Assim como não se para
o tempo, naturalmente,
o grande amor não separa
duas almas no poente!
O maior prêmio da vida
é escalar até o final
sendo as pedras da subida
estandartes do ideal!
Mentira, uma falsa imagem
que revela cicatrizes
nas pessoas que assim agem
por serem muito infelizes.
Deus concedeu ao artista
um talento transcendente
por enxergar além vista
o que seu coração sente!
Distante dos teus abraços
sinto não estar sozinho;
faço das sombras os passos
às luzes do meu caminho!
O tempo está me ensinando
que a grandeza se comprova
na pequenez da luz quando
a imensidão é uma trova!
Ao som da noite uniforme
comigo a tristeza dança;
enquanto a esperança dorme
a saudade não descança!
Papel de carta, calado,
grande amigo confidente
que leva para o outro lado
as linhas que a ausência sente!
Maria-fumaça apita
nos trilhos da minha vida
e a saudade então crepita
na plataforma esquecida.
Quem silencia a verdade
não ouve do amor a voz;
perde a sensibilidade,
ganha a frieza do algoz
Chuvas finas a regar
sedentas flores que imploram,
para os homens vêm mostrar
por que os anjos também choram!
Deixa o lamento de lado,
abre a porta do futuro;
o tempo desperdiçado
é um tijolo a mais no muro.
Lapidando a pedra informe
com paciência e carinho
abre-se um espaço enorme
entre as pedras do caminho!
Felicidade consiste
olhar a vida risonha;
um brilho que não existe
nos olhos de quem não sonha.
Quando a chuva beija o chão
ressequido das queimadas,
as flores em gratidão
choram gotas perfumadas!
Cansado de remar contra a corrente
parei para pensar na conseqüência:
Se a todo empenho tinha consciência
por que agia assim tão diferente?
Mesmo sabendo o fim, essa insistência
levava-me ao delírio irreverente.
A dor aos poucos foi tomando a frente
e tudo em mim gritou pela clemência.
Abrindo os olhos para a redenção
saí do barco que me dirigia;
passei a comandar-me na razão...
E na corrente a remo num mergulho
eu vi bem fundo, em cima, um novo dia.
O que me fez sofrer foi meu ORGULHO!!
Quem planta dor planta mágoa,
navega contra a corrente,
pesca peixe fora d’água,
pisa na lama e não sente!