Jeziel Lopes
Das pessoas que passaram por mim em minha vida,
guardei apenas os sorrisos e os olhares.
Sei que foi o mais perto que cheguei de suas almas.
Nada como acordar cedo num dia de domingo, tomar um café e apenas observar da janela o dia nascendo, ganhando vida aos poucos.
Eu não me afasto das pessoas.
A distância surge e aumenta justamente
porque elas não têm iniciativa alguma
de se aproximarem de mim.
Nunca é tarde pra perder as dúvidas, o medo. Nunca é tarde pra se dizer que, ainda, é cedo. Cedo pra o recomeço de algo que talvez nem tenha realmente começado, algo que ainda nem aconteceu - não de verdade. Cedo pra dar outra chance às pessoas, e acima de tudo, se dar outra chance. Outra chance de tentar alcançar um objetivo, realizar um sonho. Outra chance de arriscar em algo que seu coração sente e já desfruta, às vezes, com batidas aceleradas.
Ah, as chances... Se pararmos pra pensar, elas são tudo que realmente temos. Digamos que mesmo antes do início de nossas vidas já nos vemos em uma corrida de sobrevivência, movidos apenas por um instinto humano, uma energia, um desejo de viver - subjetivamente: um simples desejo de ter a chance de viver. A chance de passar por tudo que, olhando pra trás sem arrependimento, hoje vemos que já passamos.
Enfim, o tempo passa, sempre passa, mas às vezes almejamos que ele apenas pare. Pare pra que tenhamos tempo de fazer, não o que é certo, mas o que sentimos lá no fundo que deve ser feito. Nesses momentos nos surpreendemos ao ver à nossa frente, chances únicas, não como as que se perderam com o passado, muito menos como aquelas que, incertas como o futuro, só sabemos que poderão, talvez, surgir.
Essas chances são diferentes, elas são chances no presente. Um verdadeiro presente bem diante dos nossos olhos. Está ali, logo depois de uma porta aberta, a um passo de distância, a um olhar de distância, a um sorriso de distância, a um abraço de distância... Enfim, por que não, dentro de outros olhos...
A pior sensação é a de olhar as pessoas de cima.
Me tira a preciosa liberdade e aquele prazer
de simplesmente olhá-las fixamente nos olhos.
Escolher não sentir é uma opção, uma proteção,
eu sei, mas é também o caminho mais curto rumo
à morte de um sentimental, e seus sentimentos.
Se atreva acreditar, arrisque acreditar.
Às vezes o risco vale a pena. Você ouve outros passos
e percebe que os seus não eram os únicos.
O nosso jeito de ser e agir reflete, consequentemente,
no jeito de ser e agir das pessoas ao nosso redor.
E isso só muda se mudamos também.
É mais um dia, com tudo pra ser apenas normal.
E foi, até que eu te vi. Quando passei por ali caminhando,
com a cabeça nas nuvens, pensando.
Eu tenho tudo contribuindo, tudo a meu favor,
só esperando eu decidir jogar tudo pro alto e ir embora
pra bem longe... E nem voltar, talvez.
Busquei em minhas memórias fotográficas,
imagens de momentos em que seus olhos estavam tristes.
Queria poder mudá-las com um simples abraço.
Lutando contra minha natureza, estou aprendendo
a não questionar tudo que meus olhos vêem.
No final eu sei que ainda sou míope em percepção.
Sempre me perco tentando compreender pessoas
apenas pelas palavras. Mas me encontro quando vejo
a verdade nos olhos e no tom de voz delas.
Nos cenários que, ao fechar meus olhos, imagino,
além de todos os meus sonhos e desejos, não me vejo
não sendo um ombro amigo e companheiro.
Aquele dia foi perfeito,
tudo estava perfeito, inclusive ela, como sempre...
Menos o tempo: já era tarde e eu não insisti em ouvir, falar...
Pior que ver as coisas acontecendo
e não poder fazer nada, é vê-las não acontecendo,
querer muito, e não ter sequer a chance de fazer algo.
Às vezes me bate aquela vontade de voltar no tempo...
Quando tudo ainda não era assim tão subentendido
e eu já via nos seus olhos, o futuro.
Hoje eu quero é que o agora passe...
E que em breve eu tenha tempo. Tempo pra não deixar
que as chances venham, mas as oportunidades passem.
É cruel, mas inevitável:
Quando você olha fixamente uma pessoa à sua frente,
está automaticamente ignorando todas as outras ao seu redor.
Que o calor do sol de toda manhã seja suficiente
pra que eu tenha perseverança e esperança
de que as noites frias sempre passam.
Por que no final, o que fica do passado são as lembranças.
Algumas facilmente lembradas, revividas.
Já outras, inevitavelmente substituídas.
Minha rotina tem sido ultimamente uma verdadeira
inimiga, me afasta de tudo que quero por perto,
de tudo que considero realmente essencial.
Hoje eu decidi me ignorar,
não vou ouvir as vozes da minha cabeça.
Eu só me cansei, por agora, dessas dúvidas
que logo se dissolverão no ar.