Jéssica Marques
Dentro dos olhos farpados de Berenice (Ou no pulsar dela)
No pulsar pequeno ou medíocre da menina-moça-ou-mulher-velha que costumava acompanhar o relógio que tinha estendido na parede da saleta de sua casa tão vasta quanto seus apuros, estudava as voltas dadas pelo ponteiro como quem fielmente vai à missa ao domingo e cada tic-tac soava nos ouvidos apressados de Berê que pendurava os olhos na varanda que se escondia todas às tardes para tocaiar o mar. O mesmo mostrava-a os traços profundos carregados em sua face de uma mocidade mal vivida, preocupada com a filosofia agitada do tempo os números marcavam o contorno da cabeça de Berê que tinha olhos de chumbo e pesavam mais que seu corpo; Carregava dentro de uma pequena bolsa de mão,sua alma embrulhada com papel crepom e uma fita amarela que com algumas voltas formara um laço, se pôs a observar a vida apenas pela janela e o tempo corria nas ruas sem calçamento da menina que sorria um sorriso insosso ou amargo para o senhor das horas passadas que por vez batia informando os últimos segundos do meio-dia. O relógio da saleta parou. Os olhos em farpas também... E a vida!
"...Tenho um jeito calamitoso de amar, e isso me leva ao desalento que sinto
e que passa nesse exato instante.Quero cremar toda essa dor latejante que faz decrépita e caduca, por isso que deram o nome de amor, por isso que efêmero é em mim, por mais dorido que seja, eu não acredito nele, eu acredito nos conhaques que me deixam lúcida, que me saciam, que me bastam."
Escrevo porque não posso engolir o mundo, não pude pari o mundo e como quem abre as pernas pra dá;a luz.
De fato, se fosse ouvir a razão, nunca mais te queria. Acontece que o coração é chão sem cerâmica...
"...mas no fundo acreditava naquele final de frase que dizia “NOS” assim maiúsculo e sem acento, afinal era como ela sempre a deixara; sem assento, sem teto,sem chão. Apenas respirando e isso já era de certo alguma coisa."
"Você é aquela singela fração minima da fração de segundos, que diferencia uma gota de chuva, de um céu sem nuvens, é tudo aquilo que se torna imensurável nessa linha tênue do ser ou não ser."