Jerome David Salinger
Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler
fica querendo ser um grande amigo do autor, para se poder telefonar para ele toda vez que der vontade. Mas isso é raro de acontecer.
Entre outras coisas, você vai descobrir que não é a primeira pessoa a ficar confusa e assustada, e até enojada, pelo comportamento humano. Você não está de maneira nenhuma sozinho nesse terreno, e se sentirá estimulado e entusiasmado quando souber disso. Muitos homens, muitos mesmo, enfrentaram os mesmos problemas morais e espirituais que você está enfrentando agora. Felizmente, alguns deles guardaram um registro de seus problemas. Você aprenderá com eles, se quiser. Da mesma forma que, algum dia, se você tiver alguma coisa a oferecer, alguém irá aprender alguma coisa de você. É um belo arranjo recíproco. E não é instrução. É história. É poesia.
“Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num batia campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto _quer dizer, ninguém grande_, a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar aonde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto.”
“Tomara que quando eu morrer de verdade alguém tenha a feliz idéia de me atirar num rio ou coisa parecida. Tudo, menos me enfiar numa porcaria de cemitério. Gente vindo todo domingo botar um ramo de flores em cima da barriga do infeliz, e toda essa baboseira. Quem é que quer flores depois de morto? Ninguém.”
O problema com as garotas é que, quando elas gostam de
um camarada, por mais sacana que seja, dizem que ele tem um complexo de inferioridade, e, se não gostam
dele, por melhor que o cara seja ou por maior que seja o seu complexo de inferioridade, chamam ele logo de
mascarado. Até mesmo as garotas inteligentes fazem isso.
Antigamente eu achava a Sally muito inteligente, mas só de
burro que eu sou. Só porque ela entendia de teatro, e peças, e literatura e todo esse negócio. Quando as
pessoas sabem um bocado sobre essas coisas, a gente leva um tempão para descobrir se são burras ou não.
Eu não estava era com vontade de discutir com ele. De qualquer jeito, não ia mesmo me compreender, estava fora do alcance dele.