Jeovania Vilarindo
As pessoas preocupam-se muito com os excessos. Excesso de dinheiro, de roupas de grife, carros com design exclusivo, casas de praia... Enfim, coisas. E acabam esquecendo algo que, em minha opinião é o canal ao essencial. Tempo. Tempo para amar, para perceber belezas que estão escancaradas na nossa cara e que pela mesmice dos nossos atos não as percebemos. Tempo para perdoar, para comer besteiras, andar descalço, tomar banho de chuva. Tempo para ler um bom livro (recomendo O Pequeno Príncipe. Se o ler vai saber que o essencial é invisível aos olhos). E por fim, não menos importante, tempo pra DEUS. Todas essas coisas não fariam sentindo se Deus não houvesse nos dado o dom da vida.
Eu queria poder dizer tudo o que sinto. Talvez essa seja a maneira certa de recomeçar, mas ao mesmo tempo envolve varios sentimentos o qual não pretendo magoar nenhum. Esse é o meu problema, o medo de perder o que já possuo.
É complicado. Resposta um tanto vaga quando o que se quer realmente é poder gritar aos quatro cantos do mundo o que sentimos.
Já conheci Roma, Paris, Londres, Cabul, Egito... Até mesmo Marte sem precisar sair do meu quarto. A leitura faz isso, te dá asas e sabedoria para transcender todas as coisas.
É uma forma de olhar que me tira do sério, que me faz de boba todas as tardes, que diz tudo e ao mesmo tempo nada diz, que interfere o mais íntimo dos meus devaneios e que me torna incrivelmente feliz.
Certa vez alguém me perguntou porque eu escrevia tanto. Depois de analisar bem essa pergunta, respondi assim:
Escrevo para afastar a solidão e a monotonia dos seres humanos. Escrevo porque me sinto mais leve, mais livre. Escrevo por ter medo. Medo de amar, de esperar, de ser feliz, de saber o que escrever e por segundos perder a inspiração. Escrevo por ter medo de ir embora cedo demais, talvez essa tenha sido uma maneira de ficar pra sempre na memória daqueles que amo, porque os gestos rapidamente serão esquecidos, mas meus pensamentos ficarão por toda a eternidade.
Eu tive vontade de dizer o quanto eu o amava, o quanto eu queria estar ao seu lado, o quanto minha vida não faria sentido se ele partisse, mas nada disso saiu da minha boca. Ao invés disso o abracei e disse adeus. No momento mais importante da minha vida eu fracassei e isso não faz de mim uma mulher tão sábia.
Em outros tempos os sentimentos eram definidos com mais seriedade. O poeta português Luiz Vaz de Camões, por exemplo, definiu o amor como ferida que dói e não se sente, um contentamento descontente, como um sentimento bom e que não quer o mau de quem se ama, que nem sente inveja e tão pouco se envaidece. Já nos dias de hoje um sujeito aplaudido por muitos abre a boca para afirmar que traição é traição, romance é romance, AMOR É AMOR, e um lance é um lance. Patético!
E só hoje eu me dei conta o quanto me tornei previsível. Cheguei na lanchonete da faculdade e antes que eu fizesse o meu pedido o atendente já sabia que pediria uma salada de frutas.
Confesso que eu fiquei perplexa. Muitos em meu lugar achariam isso o máximo, já eu percebi que nos últimos meses venho fazendo tudo com perfeita sincronia que causaria inveja até mesmo nos motoqueiros do globo da morte.
São os mesmos horários, as mesmas tarefas, os mesmos percursos, as mesmas pessoas... Isso está me enlouquecendo!
A muito tenho a vontade de jogar tudo pra cima e sair correndo sem nenhum remorso da queda, mas a sociedade me rotularia inconsequente e eu não estou a fim de ir contra a hipocrisia humana.
Quando crianças, nosso maior medo era a ideia de que o bicho papão sairia debaixo da cama para nos assustar. Nossa verdade absoluta era a de que fadas existiam e vinham trocar nossos dentinhos de leite por moedas de 25 centavos. E ansiávamos que o natal logo chegasse para ganharmos presentes do Papai Noel. E de repente crescemos e as circunstâncias fazem-nos ansiar por verdades que venham substituir os nossos medos.
JEOVANIA VILARINDO (Diga-se de passagem)
...O cheiro dos eucaliptos quando o vento bate neles, pisar na grama molhada, o nascer da aurora, pipoca no café da manhã, as patas do meu gato, tabuleiros de xadrez...
Fico feliz com muito pouco, mas fico triste quando percebo que parece difícil conquistar o pouco, quando há pessoas muito mais exigentes, egoístas e materialistas que conseguem o que querem. Vai entender essa matemática da vida!
Certa vez perguntei a um amigo o que o fazia feliz. Eis que ele me saiu com essa:
-" Ficar apenas por ficar, pois as vezes cansa querer ir mais longe". Lembra disso Anderson Areco Arce?
No momento achei isso descabível, mas agora compreendo e vivo cada palavra dessa frase. Cansei. E não me sinto triste por isso, na verdade me sinto feliz por ver até onde suportei e o quanto suportei.
-Diga-se de passagem-
#feliz por ter minha inspiração de volta