Jeh Teles
Eu não sei fazer as coisas em partes, sentir aos poucos.
Sou muito intensa, eu curto, vivo tudo, aqui e agora, dando toda a importância, toda minha atenção a cada detalhe que releva para mim. É a minha intensidade que espalha meus sentimentos, que os leva de parte a parte, que torna minhas loucuras, insanidades. Minha calma, em paz, minha alegria, em uma contagiante felicidade.
Ser intensa, é sim, ser demais, e vai além. É ser completa, inteira, sempre, com tudo e todos.
Vê-la nos braços de outro, doía nele de uma maneira que ele nunca pôde imaginar antes. Rasgava seu coração como folhas de papel, impulsionava as lágrimas para fora dos olhos como corredeiras. Nunca imaginara amá-la daquela maneira, naquela medida. Mas quando a perdeu descobriu, só que como disse ela mesma: “ Tarde demais “. E ele sabia que para o resto de sua vida, teria aquele olhar triste, de quem nunca teve o amor verdadeiro nos braços, na verdade, teve, mas deixou partir. Serão inesquecíveis para ele, aqueles dias, o amor dela, mesmo que com o remorso amargo, do desprezo dele por ela. Aqueles dias, serão inesquecíveis.
Ali, do outro lado do parque, nos braços de seu novo amor, aquele que pretendia cuidar do coração partido e calejado, ela sentia as lágrimas escorrendo por dentro ao vê-lo sofrer, mas sua decisão estava tomada, ela não recuaria. Não para ele a desprezar novamente.
Ela não queria que as coisas fossem dessa maneira, ela esperou, com todas as forças vê-lo implorar, quando disse a ele que era tarde. Mas se quebrou quando ele assentiu, beijou lhe a bochecha e se foi, sem lutar, sem demonstrar se importar.
Os dias se passavam, e a melancolia dupla, porém solitária prosseguia.
O novo namorado, apaixonado, nada percebia. Ela se segurava, ele se rendia. Se deixava levar pela dor, tristeza, arrependimento, pelas bebidas, pelo sono, pelo isolamento, e a deixava preocupada, mesmo que a distância.
Ela mesmo envolta na mesma dor que ele, tentava ser outra pessoa.
Ele se rendeu.
A noticia veio por alto, amigos de ambos a procuraram para contar do ocorrido e então o coração dela se quebrou. Os pedaços que restavam, se foram com ele, agora todo o coração dela, era dele. Ela caiu. A nostalgia foi mais forte, e ela provou da dor, tristeza e arrependimento, em doses maiores, e também nas bebidas dele, no sono em que sonhava com ele, no isolamento, nos sumiços, nas preocupações que causava.
Ela sofreu, mas decidiu se juntar a ele, se render. Mas não conseguiu.
Contou que quando o viu, foi para ele, jurando seu amor, e ouviu as juras dele, secou na roupa dele suas lágrimas, mas dessa vez foi ele que disse, quase o mesmo que ela havia dito a ele: “ Cedo demais”. Ele a trouxe de volta. A deixou segura, ainda que triste e incompleta. Ele a amava demais para ser egoísta com ela a essa altura. Ela jurou, sempre pensar nele, e perdeu todas suas noites, até o dia em que ele não suportou a distancia, a saudade, e veio leva-la para junto dele. E eu espero que eles realmente estejam juntos, e que ela continue perdendo as noites dela, mas perdida, nos olhos dele, para sempre, com ele.
‘Não chegue tão perto’.
Senti vontade de dizer. Quis realmente falar nos olhos dele, mais senti meu corpo gelar e perder levemente o controle. Eu sabia que não devia, realmente sabia, eu tinha noção de tudo, de muito mais, eu sabia. E repetia isso pra mim enquanto o olhava, cada vez mais próximo. E próximo.
Conheci homens, engraçado agora eu tinha homens, ainda estranho isso.
Homens que me fizeram perder o controle. De maneiras diferentes, sempre. Nunca foram iguais, jamais.
Já me fizeram perder o controle. Do meu corpo, dos meus sentimentos, dos meus pensamentos. Mais ele tinha um dom, especial. De me fazer perder o controle, ainda que eu o possua, de fazer ficar perdida em mim.
Já vi olhos que me roubavam os pensamentos enquanto lutavam para me decifrar, mas os dele apenas façam com que eu me sinta a vontade para me entregar, para me confessar, para beijar. E esses beijos, que me viciam, esses lábios que são feito imãs. Essas mãos que sabem exatamente como me levar e me buscar, que conseguem me deixar segura, que se encaixam tão bem nas minhas, que me dão carinho sempre. Esse corpo que sempre pede pelo meu, mesmo quando ele já está tão junto, não se contenta. E, esse coração, esse sentimento, do qual eu tampouco sei. E pela primeira vez, não tento decifrar. Aceito, confio, liberto o meu. Sem maiores explicações, sem maiores expectativas. Quando o dele pedir por liberdade, ele saberá se expor também.
Não sei, mais tanto pensei fitando aqueles olhos juntos aos meus, que percebi que dizer para ele se afastar não adiantaria. Ele já estava muito perto. Eu não podia resistir, não conseguia. Nem queria. E também. Ele queria. Mais do que o corpo, estar perto. Ficar próximo.
E eu sorri, com a exposição que ele não percebia. Com o sentimento que vazava pelas bordas de um recipiente há muito fechado.
Fechei meus olhos e com os lábios nos dele, pedi:
- Chegue mais perto.
Ele me olhava, já contente pela bebida, e talvez por isso, deixasse tudo mais a mostra, estava transparente e eu sentia no ar o amor que sua alma emanava. Foi bom o álcool presente nele, assim, ele não percebera o meu olhar de desejo, e era incapaz de perceber a vontade que me arrepiava cada centímetro de pele.
O espaço no quarto diminuíra a poltrona dele, ao lado da estante onde a taça de vinho repousava de frente pra cama, de frente pra mim, que permanecia sentada, comportadamente aos pés da cama.
Tirei a sandália, coloquei ao meu lado, levantei, fui até ele, com o mesmo olhar, e quanto mais próximo eu chegava, pior eu pensava, mais em mim, eu pecava.
Ele abriu um sorriso de anjo, eu me sentei em seu joelho e continuei olhando, e ele me olhava de volta, e sorria cada vez mais forte, cada vez mais bonito. Sorri de volta, mais não minto, o riso era pra mim, pros meus pensamentos. Aproximei o rosto, a boca, sorri perto dele, ele quis juntar os sorrisos, os lábios, as línguas, desviei. Queria juntar meus lábios, em formas sutis no pescoço dele. Ataquei. Senti o corpo dele estremecer sob o meu toque, e suas mãos me puxarem mais pra perto, buscarem o melhor jeito de me encaixar. O pescoço, a orelha, a bochecha, a boca. Vi seus olhos se revirarem. E isso não me freava, acelerava. E eu ia devagar, desabotoando a camisa dele. Descendo pela abertura com os lábios. Ele já estava sem camisa, e o meu quadril encaixado no dele. Ele me beijava, brincava mais másculo com meus cabelos e desabotoava o vestido. Estávamos prontos. Loucos, um pelo outro, pelo momento, de vontade.
Dali pra frente, não me lembro bem, não assim, pra descrever, pra escrever. Senti a boca dele descendo por mim e meu corpo vibrando aos toques gentis, meus olhos mostravam a minha inconsciência excitada, minha boca clamava por uma que estava na minha. Senti suas mãos, nas minhas coxas, nas minhas costas, me agarrando pela nunca, mudando de lugar o meu cabelo. Foi perfeito.
Acordei, envolta em lençóis, e senti, só uma felicidade, de ponta a ponta do meu corpo. Meus cabelos jogados no travesseiro, ele deitado ao meu lado, as costas recentemente arranhadas, o pescoço marcado. Eu tinha passado por ali. Dei um beijo de leve na bochecha dele enquanto levantava arrastando lençóis pra tomar um banho. Me assustei com o puxão pela cintura e o beijo forte na boca, olhei naqueles olhos, pronta pra dizer algo sobre isso, mais fui pega de surpresa pela mesma maré que tomara o quarto noite passada. A transparência da alma dele e o amor que ia a toda parte. O sorriso sincero. E meu coração que se abria, deixando a mostra todo o meu amor. Na minha cabeça, renascia o desejo, renascia o pecado.