Japensando7
Há momentos na vida em que o ser considerado humano, já cansado das suas desilusões, sai em busca de um novo caminho, de novas palavras, de conforto. Seríamos nós, meros seres, capazes de transformar o nosso estado lamentável, reverter a nossa situação de miséria e angústia, sem recorrer a atos promíscuos?
Às vezes penso com sinceridade que, talvez o ser humano seja apenas uma raça carente de auto disciplina ao ego, se não fosse pelo seu orgulho, você teria pedido perdão a quem você ofendeu, e se não fosse por quem ofendeu seu orgulho, você não estaria aqui atrás de algo que um outro desafortunado escreveu!
Buscar um novo caminho, uma palavra fresca, um alívio. Mas como encontrar isso, se carregamos em nós a bagagem do ego ferido e do orgulho inquebrável? Pedir perdão é uma confissão de fraqueza, pensamos. Aceitar o perdão alheio é deixar que a pele queimada seja tocada. Que ironia: queremos a redenção, mas tememos a vulnerabilidade que ela exige.
E se o que buscamos não está fora, mas dentro? Talvez o conforto que procuramos em palavras de outros seja apenas um espelho — não para refletir, mas para distorcer. Porque é mais fácil culpar o outro ou a condição humana do que admitir que, no fundo, a miséria que nos prende tem raízes na nossa incapacidade de domar o ego, de calar o orgulho. Talvez sejamos apenas fragmentos partidos de um todo que nunca entenderemos, eternamente a oscilar entre a dor de ser e o desejo de transformar.
A esperança é uma febre que não queima, mas arde em silêncio, uma promessa que nunca foi feita, mas que insistimos em acreditar. É como deitar em um gramado úmido ao entardecer, sentir a terra fria contra as costas e a brisa carregando um cheiro de coisas esquecidas — da infância, talvez, ou de um sonho que nunca aconteceu.
E nesse momento, enquanto o vento invade os pulmões como se quisesse torná-los eternos, você percebe que a paz não é uma conquista, mas uma entrega. É um instante roubado do caos, um suspiro entre a tempestade.
As palavras para descrevê-la, se é que existem, são frágeis como fios de teia ao sol. Elas não dizem, mas insinuam. Porque a paz, quando vem, não se explica: apenas invade. Talvez seja isso que Clarice quis dizer tantas vezes — que há um mundo dentro de nós, maior do que qualquer compreensão. E nesse mundo, a esperança floresce como uma erva daninha teimosa, rachando até o concreto da nossa dureza.