Janaína Sudário
“Já vi gente rir até a boca doer e chorar até alagar a cama. Ja vi gente amar com todas as forças do corpo e odiar com toda a crueldade do mundo. Já vi gente ter fé até se curar e ser cético até ficar doente. Já vi gente superar adversidades sem reclamar e gente reclamando sem ter motivos. Já vi gente transbordar de esperança e esvaída de tanta decepção. Já vi gente neutralizada pelo medo e impulsionada pela coragem. Já vi gente morrer todo dia um pouco e ressuscitar no dia seguinte só pra ver o sol”
Ela era um bicho sem maldade e tão cruel consigo
Sorrir parecia lhe ferir, se a felicidade não fosse alheia
Transformava monstros em anjos e convivia bem com cada um deles
Doou aos miseráveis até o que não tinha
Curou sozinha as suas próprias dores
Encurralou os seus desejos num canto qualquer da vida
Mendigou amores e farejou traições
Sofreu com cada decepção e debochou de todas elas
Transformou em comédia os seus maiores dramas
Viveu tentando ser outra, ouvindo que mudar era necessário
Mas ela acreditava na essência que ninguém via
E por isso, mesmo exausta, seguia
Não se arrependeu do que cativou sendo errada
E não renuncia ao que conquistou sem ter nada.
Depois do coronavírus
Pandemia deixará luto e colapso financeiro, mas devemos ser melhores quando tudo isso acabar
De repente o mundo enlouqueceu. Não somos mais livres. Nos tornamos reféns de um vírus, de uma epidemia, de uma pandemia, de um monstro invisível.
Há quem diga que o coronavírus (covid-19) é apenas uma gripezinha. Há os que o comparam à terceira guerra mundial, mas entre extremos, cada um sabe o caos que a doença está causando nas nossas vidas.
Da mudança forçada de hábitos, do cerceamento da nossa liberdade, do colapso financeiro na economia das grandes potências mundiais, inclusive, da nossa casa.
Quem são estes 2 ou 10% que morrerão para provar que a doença tem baixa letalidade? Quantas são as famílias que verão os seus mortos virarem índices para os que ignoram a dor da perda de quem amamos?
Quantos profissionais perderão os seus empregos? Quantos empresários perderão os seus sonhos, depois de baixarem, definitivamente, as portas dos seus empreendimentos?
Na televisão, o discurso político dá náuseas. O vírus ganhou status de ferramenta de campanha e a nossa saúde de palanque. Na disputa entre vaidade e ignorância, perdemos todos. É necessário aprimorarmos o discernimento para filtrar o que é jogo e realidade e evitarmos o nosso enlouquecimento.
Na mesma televisão, há exemplos de solidariedade, que deveriam ser praticados desde sempre, mas ainda dá tempo de aprendermos que não estamos sozinhos no mundo e que precisamos de todos em seus devidos lugares.
Nas redes sociais, tanto luxo e ostentação deveria nos fazer refletir sobre o nosso conceito de deuses e deusas.
Sugiro que absorvamos a guerra política, a guerra científica e a guerra financeira e, nem que seja por alguns minutos, olhemos para o que somos, para o nosso posicionamento no mundo e para as lições que este momento está nos forçando a aprender.
Sugiro refletirmos sobre a importância que damos às coisas mais simplórias como se sentar em uma praça (coisa que amo fazer), cumprimentar o conhecido na padaria com aquele sacolejo das mãos ou abrir a geladeira do supermercado sem preocupação.
O ir e vir diário, quase martirizante, já nos faz falta e concluímos que é mesmo muito difícil entreter idosos e crianças durante as 12 horas do dia.
O processo será dolorido para todos e individualmente parece ainda pior.
Com hábitos e costumes alterados, países arruinados financeiramente, luto em milhares de casas, depois de tudo isso ainda seremos nós.
Depois de tudo isso, teremos a percepção de que não somos donos dos nossos destinos, mas a obrigação de sairmos deste período melhores do que entramos.
Não é uma questão de perder só os sapatos e a hora.
É a vida lhe tirando tudo
Como o tempo e o caminhar
Se fosse só perder as chances e os sonhos
Mas é a vida lhe tirando tudo
E instalando nestas lacunas medo e culpa
Não é só perder o dente
Mas perder a vontade de falar
É oprimir os sentimentos antes tão manuseáveis
Não é só perder a calma
É se abater por tudo e ainda caminhar pela vida como um zumbi das séries americanas
Onde tudo dói intensamente, mas não se percebe
Onde há feridas abertas na boca, na alma e no coração, mas não lhe assusta.
Se fosse só perder a luta,
Mas tudo acaba quando a vida lhe tira a paz.