Jamile Hiast

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A Dança das Cadeiras
Certa vez, sentei em um restaurante e vi que um ex-patrão estava lá, conversando com um fornecedor que eu conhecia há uns dez anos. Eu estava com uma mochila nas costas, pois tinha acabado de chegar de viagem. Tirei a mochila, sentei, comi e, em seguida, levantei para ir embora. Por educação, ao passar pela mesa dos dois "homens em posição de poder", parei para cumprimentá-los. Ao ler as expressões deles, fiquei um pouco intrigada e logo fui submetida ao que poderia chamar de interrogatório: “E seu curso, acaba quando? O que vai fazer depois disso? Como é a área comercial? Isso dá algum dinheiro?” e assim por diante. Consegui responder sucintamente às questões enquanto ainda observava as expressões. Apesar de lembrar claramente do fornecedor e do seu nome, e sabendo que ele também se lembrava de mim, já que nos víamos com certa frequência, percebi uma hostilidade velada, e algo como uma surpresa (sou alguém que ele não conhece mais?). Desses que vulgo julga a sociedade, ocupam posições de "poder", havia um amargor quase palpável por estarem no mesmo ambiente que uma ex-funcionária, agora autônoma e graduada. Após perceber os tons ofensivos e os olhares capciosos, meu ex-patrão comenta: “É a dança das cadeiras.” Levanto, sorrio hostilizando o comentário e vou embora.

Sensação de tudo

Quem me dera atentar ao tangível;
Logo eu, eu que começo poemas pelo fim.

fim?!

No começo que se inicia nesse meio
Eu diria que há vastas possibilidades
Dentro da conexão, as que por vias indiretas agem me apetecem mais.

Você chegou aqui esperando uma rima?
Vamos remar.

De mar a dentro, imaginação a fora.
Mulher, tu que para os países ao norte me aflora.
De gozo a frente, confesso: esqueço como rimar.
Embora toda poesia que busco, não sei, não sei mesmo se hei de encontrar...
No instante do olho no olho, ou no meio, nesse inundar.

Querer mais do que quero
Sentir mais que o que sinto,
A zona do desejo é um aflito!
Que horas, outrora, vou te encontrar?
A mando de que desejo vamos apresentar
Corpos que se apetecem e mesmo há distâncias, inundecem; como será esse olhar?

Eu sei, eu sei, era pra ser um poema.
Mas como farei do furacão uma brisa?⁠

05 de abril de 2022.