J.R. Wendell
A saída talvez seja indicada pelo eco de sua voz ativa, que não se cansa de falar, que só ao respirar se cala... tornando então os caminhos da verdade muito estreitos, embora levem a vários lugares.
Como várias outras manhãs, faço uma nova retrospectiva de minha vida para ver se vale a pena levantar... mas confesso que em alguns dias já vividos, circulei inutilmente por causa de retrospectivas mal feitas.
Foi na materninade que aprendi que a vida poderia ser dura.. a concorrência por lá era grande, eu não ia com a cara de ninguém, embora fossem todos muito parecidos comigo.
Meus primeiros passos quando criança não eram muito grandes, mas pareceiam bem maiores do que os de hoje.
Passava a vida inteira a espera de um momento de atrito ou impulso que acabasse com aquela inércia estática. Mas esse momento não vinha e continuava ali... parada.
Naquele momento eramos todos iguais, com a diferença que os homens falavam, ao contrário dos animais, mas eu, que já não falava desde a manhã, desconsiderei essa diferença.
Eu estava seguro de mim... até que uma noite acordei por causa de barulhos noturnos.. daqueles que nunca sabemos se são verdadeiros ou não. Aquele era.
Penso que nem sempre a conclusão seja a coisa mais importante, mas sim os argumentos que levam a ela.
Sinto um vazio e mergulho no nada que representa a minha angústia, então fico contando estrelas que não existem e afundo cada vez mais, esperando que o fundo apareça, mas ele não aparece. Perco de vista o ponto de onde comecei a cair e fico sem referências. Já nao sei mais onde estou. Começo a enxergar o fundo, a realidade, mas na velocidade que caio, o impacto seria forte demais pra mim. O fundo então desaparece, e com ele a realidade e todo esse pensamento. Ja sei novamente onde estou.
O tempo é a cura, a doença, o amigo presente, o inimigo invisível, as vezes ajuda, outras atrapalha, o tempo leva, o tempo traz, o tempo passa e não volta.
Entre as coisas que não quero lembrar, e as que não consigo, me deparo com sombras e sobras existenciais que comporam minha vida.
Tem dias que sinto que estou com o miolo meio mole... evito abrir a boca com medo que ele vaze por ela.
O meu desejo era de me incorporar a ela, agarrar seus movimentos, beijar seu espírito, chegar perto perto quase que ao ponto de ocupar o mesmo espaço... mas como bom conhecedor das leis da matéria, olhar para ela, mesmo que de longe, me bastava.