J. F. Castro
Cara, é tão difícil falar de sentimento. É tão difícil abrir o peito e dizer o que está acontecendo. É tão difícil aquietar o coração quando ele sabe que está sendo exposto. E a coisa mais difícil é engolir tudo e fazer achar que está tudo bem. Por que uma hora você sabe que vai sufocar.
O que nós costumávamos ser está me consumindo todo santo dia. E eu não aguento mais tantas suposições. Me quebro a cada tentativa de encontrar uma saída para esse labirinto que se ergueu na sua ausência. Eu ainda espero você voltar e me dar a mão. Por que eu não sei sair dessa confusão dolorosa em que me encontro. Eu me dissolvo todas as noites enquanto a sua voz da passos largos para longe de mim, se tornando um eco cada vez mais fraco.
A ausência sussurra. E nos dá a sua opinião sobre as situações, ela distorce tão bem, ou conta a verdade mais óbvia que nos envolve num mar de percepções. A ausência se faz doer com suas próprias feridas, que são abertas todas as vezes em que abre a boca. A ausência corrói o peito daqueles que não tem nada mais do que seu silêncio. Os devaneios que ela traz beiram a loucura. E uma hora ela deixa de ser. A ausência deixa de ter importância e aí é que está a liberdade. De tirar as amarras do que não está e seguir em frente sozinho.
Não adianta você bloquear a pessoa em todas as redes sociais, apagar o número e fingir que a pessoa nunca existiu. Se, na calada da noite, o teu peito chama o nome dela. Nada adianta se dentro de você ainda tem anexado a essência da outra pessoa.
Andam desmatando a floresta que carrego no peito. Sinto cada folha virar cinza. E eu não sei como deter. Então, me perdoem se por ventura eu desaparecer.
Você
Costumava ser um refúgio
Mas se transformou
Numa guerra
Que minha bandeira de paz
Só serviu de papel toalha
[ E eu, mais uma vez, saí perdida]
Você se foi com tanta pressa, que só levou a roupa do corpo.
[ o meu amor enforma de roupa do corpo ]
Sabe o que é injusto?
Eu estava quieta
Me tinha feito inteira, de novo
E você veio
De um jeito manso
De um jeito doce
E me injetou droga de amor
E foi embora, me deixando em overdose
De um amor tóxico correndo nas veias.
Engoli tudo o que achei
que iria te machucar.
E senti o peso
se acumular no peito.
[ aguentei firme até sucumbir ]
Da minha alma cinza
Você fez tela
E pintou a cor do amor.
Do meu coração partido
Você fez jardim
E plantou vida entre as flores mortas
Pupila dilatada
Coração acelerado
Mãos frias
Me julgaram estar drogada.
Mas é assim que eu fico
Quando você passa.
Ei coração
Fica quieto
Imóvel, se possível
Pois a dor anda a tua procura.
[ se ela te encontrar, dessa vez eu não levanto ]
A distância em quilômetros não se compara à distância de sentimentos que cresceram entre um “eu te amo” e outro.
Ultimamente ando tão melancólica, tão enraizada no meu caos. Sinto muito aos que puxei para esse abismo. E acrescento um aviso : Não dê mais um passo.