J. Cavalheiro
V
Dizer o que quero
é como adivinhar o que passou
minha vontade já inundada de certeza
determina que o meu tempo agora é teu
Dizer o que vejo
é como enxergar a vida
pois dela, o que há de mais lindo, a tua presença
é o presente que me basta ao que me resta
Dizer o que ouço
é estar ao sereno da tua voz
a simplicidade do som, que enfeita em palavras
a música do meu "querer viver"
Dizer o que gosto
é não estar só, nem quando só
pois a companhia se faz eterna
ainda que a distância nos bata à porta
Dizer o que sinto,
é como querer explicar o óbvio,
basta olhar para o meu sorriso
e sem palavras, o silêncio já diz tudo
Dizer o que espero
que o mais simples seja o mais completo
que o sonho passeie por nossos momentos
que minha vida se faça você
Dizer o que amo,
só basta dizer o teu nome
pois o amor, já mora na minha vontade
e você, já mora no meu existir
NOVO LUGAR
Novos ares
Mas nem sei se respiro melhor
Novas ideias
Em um lugar que ainda não é meu
Difícil desacostumar o normal
Pois é tranquilo o que não muda
Mais fácil pensar do que fazer
Mas agora não adianta
O dia já nasce com um novo sol
E mesmo que essa luz incomode um pouco
Aos olhos acostumados com o escuro de antigamente
Aproveita-se o calor
Que há de bronzear a esperança
Esperança que já estava cansada de ser espera
Há de transformar em vida a semente do sonho
Pois sonhar é bom
Mas que não seja apenas sonho
Vida sem sonho é vazia
Sonho sem vida é nada
ALMA
A minha alma
Ainda refletida em você
No espaço tempo de um sonho
Acorda e esquece o quanto de real permanece
Passado que se passa
E nos deixa no caminho
A retocar lembranças
A reviver carinhos
PAVOR
Me apavora pensar
Nas dores que ainda posso sentir
A cada passo de um pseudo-amanhã
O segundo que escondido aguarda
Me atormenta pensar
No ar que me pode faltar
Ao tatear no escuro do possível talvez
O segredo futuro que no silêncio revela
Se nada existe
Visto que o agora já passou
O que serei, sou, já fui
Neste abismo de mim mesmo?
TARDE DE INVERNO
Na mesa o silêncio
Pela janela a torre da igreja
O sol que se vai
Ao fundo de uma nuvem esparsa
Sobras de um céu que insiste em ser azul
O resto do dia não caberá na próxima linha
Mas a tinta no papel lembrará desta tarde de inverno
Provavelmente eu me esqueça
DIA SEM COR
Fecho os olhos e te enxergo
Respiro a tua presença
Por entre lembranças brumais
E anos e quilômetros
Me transportam
A uma velocidade instantânea
Ao que restou de uma festa romântica
Uma breve viagem
Que alimenta uma velha dor
Sem cheiro nem sabor
Mas onde restos de amor
Sobrevivem neste dia sem cor