J. C. Ryle
Todas as coisas estão envelhecendo. O mundo está envelhecendo. Nós mesmos estamos envelhecendo. Mais alguns invernos, mais alguns verões, mais algumas enfermidades, mais algumas aflições, mais alguns casamentos, mais alguns falecimentos, e... o que acontecerá? A grama crescerá sobre os nossos túmulos!
Acima de tudo, não entristeça o Espírito Santo. Não apague o Espírito. Não sufoque o Espírito. Não O afaste para longe, por brincar com pequenos hábitos maus e pecadilhos. Pequenas desavenças entre marido e mulher tornam o lar infeliz, e pequenas incoerências, reconhecidas mas permitidas, introduzem uma estranha alienação entre o crente e o Espírito... O homem que anda ais intimamente com Deus, em Cristo Jesus, é aquele que será mantido na paz mais profunda. O crente que segue mais completamente o Senhor e cujo alvo é o mais elevado grau de santidade, esse crente desfrutará geralmente de esperança mais firme e terá a mais clara persuasão de sua salvação (p. 164-165).
Cuidado para não dar aos servos de Cristo a honra devida a ninguém, além de Cristo. Cuidado para não dar às ordenanças a honra devida ao Senhor. Cuidado para não descansar o fardo de sua alma em coisa alguma a não ser Cristo e Cristo exclusivamente. Cuidado para não ter uma fé que seja inútil e que não pode salvar.
Uma fé é inteiramente inútil quando se une qualquer coisa a Cristo com respeito à salvação da sua alma. Você não deve somente depender de Cristo para salvação, mas deve depender de Cristo somente e exclusivamente de Cristo. Existem multidões de homens e mulheres batizados que professam honrar a Cristo, mas na realidade O desonram grandemente. Eles dão a Cristo um certo lugar no seu sistema religioso, mas não o lugar que Deus tencionou que Ele ocupasse. Cristo, exclusivamente, não é “tudo em todos” para suas almas. Não! É Cristo e a igreja; ou Cristo e os sacramentos; ou Cristo e Seus ministros ordenados; ou Cristo e a bondade deles; ou Cristo e suas orações; ou Cristo e a sinceridade e caridade deles, nas quais eles realmente descansam suas almas. Se você é um cristão deste tipo, eu também o advirto claramente que sua fé é uma ofensa a Deus. Você está mudando o plano de salvação de Deus em um plano da sua própria invenção. De fato você está depondo Cristo do seu trono, dando a glória que Lhe é devida a outro.
Existem, portanto, muitos homens e mulheres batizados que praticamente nada sabem sobre Cristo. A fé deles consiste em algumas noções vagas e expressões vazias. “Mas eles crêem, não são piores que outros; eles se mantêm na igreja, tentam fazer suas obrigações; não prejudicam a ninguém; esperam que Deus seja misericordioso para com eles! Eles confiam que o Poderoso perdoará seus pecados e os levará para o céu quando morrerem”. Isto é quase a totalidade da sua fé. Mas o que estas pessoas sabem de fato sobre Cristo? Nada! Nada mesmo! Que relação experiencial eles têm com Seus ofícios e obra, Seu sangue, Sua justiça, Sua mediação, Seu sacerdócio, Sua intercessão? Nenhuma! Nenhuma mesmo! Pergunte-lhes sobre a fé salvífica; pergunte-lhes sobre nascer de novo do Espírito; pergunte-lhes sobre ser santificado em Cristo Jesus. Que resposta você terá? Você é um bárbaro para eles. Você lhes perguntou questões bíblicas simples, mas eles não sabem mais sobre elas, experimentalmente, do que um budista ou um mulçumano. E mesmo assim, esta é a fé de centenas de milhares de pessoas por todo mundo que são chamadas de cristãs.
Você acredita ser convertido? Então não espere impossibilidades desse mundo. Não suponha que virá o dia em que você não encontrará fraqueza no seu coração, não terá incoerência em suas orações, não haverá distrações durante a leitura bíblica, nem desejos indiferentes na adoração pública a Deus, nenhuma carne para atormentar, nem diabo para tentar, nem ciladas para nos fazer cair. Não espere nada disso. Conversão não é perfeição! Conversão não é céu! O velho homem dentro de você, ainda está vivo, o mundo ao seu redor ainda está cheio de perigos, o diabo não morreu. Lembre-se que um pecador convertido continua sendo um pobre e fraco pecador, necessitado de Cristo a cada dia. Lembre-se disso, e você não ficará desapontado.
Eu peço aos que lêem esta mensagem hoje, que considerem bem o que eu estou dizendo. Você vai para a Igreja do sr. A ou B; você o considera um pregador excelente; você se deleita com seus sermões; você não pode ouvir nenhum outro com o mesmo conforto; você aprendeu muitas coisas desde que você começou a participar do seu ministério; você considera um privilégio ser um dos seus ouvintes. Tudo isso é muito bom. É um privilégio. Eu seria grato se ministros como o seu fossem multiplicados. Mas, afinal de contas, o que você recebeu no seu coração? Você já recebeu o Espírito Santo? Se não, você não é melhor que a esposa de Ló.
Eu peço a Deus que todos os cristãos professos destes dias possam aplicar estas coisas aos seus corações. Que nós nunca esqueçamos que os privilégios sozinhos, não podem nos salvar. Luz e conhecimento, pregações fiéis, meios abundantes de graça e a companhia de pessoas santas são todos grandes bênçãos e vantagens. Felizes aqueles que os tem! Mas no final de tudo, há uma coisa sem a qual privilégios são inúteis: a graça do Espírito Santo. A esposa de Ló teve muitos privilégios; mas não teve a graça de Deus em seu coração.
Santificação não consiste em retirar-se da vida quotidiana no mundo. Em cada época tem havido aqueles que acreditam que retirar-se em reclusão do mundo é uma estrada para a santificação. Mas onde quer que vamos, nós carregamos conosco a fonte do mal – os nossos corações. A verdadeira santidade não é uma planta frágil que só pode sobreviver em uma estufa, mas é forte e vigorosa e pode florescer na vida normal diária. A verdadeira santidade não faz o cristão evitar a dificuldade, mas enfrentá-la e superá-la.
Santificação [verdadeira] manifesta-se no habitual respeito daquilo que Deus requer de nós. Quem tenta ser santo e ao mesmo tempo despreza os Dez Mandamentos quebrando qualquer um deles está seriamente iludido e terá dificuldades para provar que é “santo” naquele “último dia”.
A falta de tranquilidade é uma das grandes características do mundo. A pressa, o vexame, o fracasso e os desapontamentos nos confrontam por todos os lados. Mas há esperança. Existe uma arca de refúgio para o cansado, tal como houve para a pomba solta por Noé. Em Cristo encontramos descanso – descanso para a consciência e para o coração, descanso fundamentado no perdão de todo pecado, descanso que é resultado da paz com Deus.
Ele diz: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Sem dúvida que existe uma cruz para ser carregada se seguirmos a Cristo. Indubitavelmente existem provações e testes a serem enfrentados, e batalhas a serem travadas. Mas, os consolos do evangelho ultrapassam em muito o peso da cruz. Comparado com o serviço ao mundo e ao pecado, comparado com o jugo das cerimônias judaicas e com a escravidão às superstições humanas, o serviço prestado a Cristo é muitas vezes mais leve e fácil. O jugo de Cristo não é carga maior do que as penas o são para a ave que as possui. Os mandamentos de Cristo “não são penosos” (1 Jo 5:3). “Os seus caminhos são caminhos deliciosos, e todas as suas veredas paz” (Pv 3:17).
"Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão." (Mateus 7:1-5)
A primeira parte destes versículos é uma das passagens bíblicas que precisamos ter o cuidado de não forçar para além do seu devido significado. Esta parte é frequentemente corrompida e aplicada de modo errôneo pelos inimigos da verdadeira religião. É possível pressionar de tal maneira as palavras da Bíblia que elas acabam produzindo não o remédio espiritual, e, sim, veneno.
Nosso Senhor não intencionava de modo algum dizer que é errado proferir um juízo desfavorável sobre a conduta e a opinião de outras pessoas. Precisamos ter opiniões bem formadas e decididas. Devemos julgar “todas as cousas” (1 Ts 5:21). Devemos provar “os espíritos” (1 Jo 4:1). Nem, tampouco, Cristo quis dizer que seja errado reprovar os pecados e as faltas de outras pessoas, enquanto nós mesmos não tenhamos atingido a perfeição e não estejamos destituídos de falta. Tal interpretação seria uma contradição a outras passagens da Escritura. Isso tornaria impossível condenar o erro e as falsas doutrinas. Seria um impedimento para qualquer um que desejasse ser ministro do evangelho ou juiz. A terra estaria nas mãos dos perversos (Jó 9:24). As heresias se espalhariam. Os malfeitores se multiplicariam por toda a parte.
O que o nosso Senhor condena é um espírito crítico que em tudo encontra falta. A prontidão em condenar as pessoas por causa de pequenas coisas ou questões de pouca importância, o hábito de fazer julgamentos duros e precipitados, a disposição em exagerar os erros e fraquezas do próximo, e de sempre pensar o pior – isso tudo nosso Senhor nos proíbe. Essas coisas eram comuns entre os fariseus, e continuam sendo comuns desde aquela época, até hoje. Todos precisamos vigiar para não cairmos em tal erro. O amor “tudo crê, tudo espera” das outras pessoas, e nós deveríamos ser muito vagarosos em procurar defeitos no nosso próximo. Esse é o verdadeiro amor cristão (1 Co 13).
A questão a ser considerada não é se você é um grande ou pequeno pecador, se você é eleito ou não, se você é convertido ou não. A questão é simplesmente essa: “Você sente e odeia seus pecados?”. Você se sente pesado e oprimido? Você está disposto a colocar sua vida nas mãos de Deus? Se esse é o caso, então a porta se abrirá para você. Venha hoje. Por que você permanece aí fora?
Precisamos ter cuidado em não murmurar quando passamos por tempos de aflição. Devemos conservar em nossas mentes o fato de que, em cada tristeza que nos sobrevém, há um significado, uma razão e um recado de Deus para nós.
A leitura da bíblia, com regularidade e sinceridade, é o grande segredo para alguém permanecer firme na fé.
(...)Atente para a aplicação geral de nosso Senhor: “Qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado”. Grave estas palavras - “Qualquer que a si mesmo se exalta”. Forte ou fraco, rico ou pobre, jovem ou velho, não importa; pois Deus não faz acepção de pessoas, “qualquer que a si mesmo se exalta” e não à livre graça, que confia total ou parcialmente em sua performance e justiça própria e não inteiramente em Jesus Cristo, ainda que vá à Igreja duas vezes ao dia, siga a letra dos Dez Mandamentos, pague todas as suas dívidas, e ainda que seja sóbrio, moral e tenha um comportamento decente, todo aquele que se exaltar será humilhado e condenado quando Jesus Cristo vier para o julgamento.
Por outro lado, “qualquer que a si mesmo se humilha” como um pecador diante de Deus e se achega a Cristo, ainda que tenha sido o pior dos pecadores, mesmo que tenha quebrado todos os mandamentos, e tenha violado o sábado, ainda que tenha sido um beberrão, ladrão, adúltero, extorsionário, qualquer que tenha sido o seu pecado, se agir como o publicano, ele “será exaltado”, perdoado, lavado, santificado e justificado por causa de Cristo, e herdará um lugar juntamente com Davi, Manassés, Maria Madalena e o ladrão da cruz no eterno reino de nosso Deus e do Cordeiro.
Jó pensou que conhecia seu coração, mas a aflição veio e ele descobriu que não o conhecia. Davi pensou que conhecia seu coração, mas ele aprendeu pela amarga experiência quão tristemente ele estava enganado. Pedro pensou que conhecia seu coração, e em pouco tempo ele estava se arrependendo em lágrimas. Oh, orem, amados, se amam vossas almas, orem por alguma compreensão da própria corrupção de vocês; os mais santos de Deus nunca perceberam completamente a extrema pecaminosidade do velho homem que estava neles.
ó miseráveis pecadores, apesar de seus corações serem enganosos acima de todas as coisas, e perversos, apesar de que não haja saúde em vocês, eu digo que Deus lhes ama excessivamente. Ele tem dado Seu unigênito Filho para padecer por seus pecados; e agora todo aquele que nEle crê não perecerá, não será condenado, tem a vida eterna. “Quem pode ser salvo?” Todos, eu respondo, que desistem de suas iniquidades, e se lamentam por elas, e põem sua inteira confiança em Jesus Cristo. E quanto a esses corações enganosos? Arrependa-se e creia, e Deus os lavará no sangue da cruz, e fará como se fossem novos, e os criará de novo em justiça e verdadeira santidade; e os preencherá com o Espírito Santo, e colocará amor onde havia ódio e indiferença, e colocará paz onde havia dúvida e ansiedade, colocará força onde havia fraqueza. Certamente seu pecado é abundante, mas você descobrirá, somente se você tentar, que a graça é ainda mais abundante.
Venham para Jesus: Ele não veio salvar o sábio aos seus próprios olhos, mas buscar o que estava perdido. Venham para o Cordeiro de Deus: ele tira os pecados do mundo; e mesmo que seus corações sejam cheios de iniquidade eles serão mudados.
Onde está o homem em toda a Inglaterra, o melhor e mais santo entre nós, seja velho ou novo, que não deve confessar, se estiver falando a verdade, que as suas melhores coisas estão agora cheias de imperfeição, e a sua vida é uma sucessão constante de deficiências? Sim: quanto mais velhos ficamos, e mais desejamos a luz do dia perfeito, mais vemos nossa própria grande escuridão e nossa multidão de defeitos, e mais propensos ficamos a chorar, “Impuro! Impuro! Deus, tem misericórdia de mim, pecador.” Nós precisamos de paz.
Existe apenas uma fonte de paz revelada na Escritura, que é o sacrifício da morte de Cristo, e a expiação que Ele fez pelo pecado naquela morte sofrida na cruz. Para obter uma porção dessa grande paz, nós precisamos apenas “olhar”, pela fé, para Jesus, como nosso Substituto e Redentor, carregando os nossos pecados em Seu próprio corpo, e lançando todo o peso de nossas almas Nele. Para aproveitar essa paz habitualmente, nós temos que “diariamente olhar para trás”, para o mesmo ponto assombroso do qual começamos, diariamente trazendo toda nossa iniqüidade a Ele, e diariamente lembrando que “o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.” (Isaías 53:6). Isto, eu me atrevo a dizer, é o caminho Bíblico para a paz.