J. C. F.
Bem-aventurados vós,
que alegres festejais em torno dos cálices sagrados,
sempre transbordantes de vinho e graças e virtudes.
Para vós, ó inebriados, a felicidade é tangível,
como um carro que se põe na garagem
ou um iogurte light que se compra no supermercado,
independentemente de vulcões e maremotos
e infâmias e cárceres e títeres e mártires.
Quando a mim, o que posso dizer?
A taça de minha existência tem sido uma só,
e ela se quebrou irremediavelmente.
Para além de qualquer religião ou neurolinguística,
deixou de ser o que era: é, antes, uma não-taça.
Nada retém, além de pó e aflição.
E, como me recuso a imaginá-la inteira,
às vezes penso que também não tenho conserto.
Qual o tamanho da sua dor?
Sabes bem que ela é grande.
Mas tão grande quanto o amor?
Se sentiu tamanha dor,
Pouco amor sentirá por alguém.
Mas se conheceres a dor do outro,
Um novo amor possa sentir também.
Vida bela, bela vida,
Vida vivida, sem vida haver nela,
Quanto mais eu vejo a vida,
menos vida eu vejo nela.
Assim eu vejo a humanidade.
Só haverá uma bela vida,
quando vida houver nela.
Podendo assim a humanidade,
ver como a vida é bela.
Eu tenho razão! Assim grita a multidão.
Mas se perguntares: Qual razão?
Somente alguns poucos gritarão.
São os mesmos, que movem a multidão.
Mas como não saber a razão?
Se o que mais temos, é informação?
Porém, quase nunca, com alguma razão.
Mas qual razão devemos ter?
Somente a razão de não saber.
E seguimos gritando: Eu tenho razão!
Agora, sem mais nada a dizer,
Pois razão alguma, eu devo ter.
Mulheres
Deusas do amor;
Guerreiras da Capadócia;
Verdadeiras Amazonas contemporâneas;
Certamente descendentes de Hipólita.
Se hoje recebes a devida homenagem,
Só tu sabes o que passaste.
Continuas batalhando, queres mais que homenagens,
Queres equidade, liberdade e não igualdade.
Cedo ou tarde, não se sabe,
Mas se lermos o tempo, saberemos,
Que logo terás, seu lugar de Direito.
J.C.F
Bem Querer
Seria demasiadamente arrogante, desejar que o meu pensar,
se fizesse escutar? Talvez sentir?
Quem sabe somente desejar que possam ver?
Aos que me derem licença, uma coisa tenham certeza,
faço uso da mais bela e única boa vontade humana, cabendo até uma redundância.
Mas devemos fazer um combinado, de nada devo a esclarecer,
pois somente seus olhos, serão capazes de transparecer.
Se com boa vontade vós querer, certamente quererás também,
alguma forma de mostrar, o que os olhos são capazes de ocultar.
Quem sabe verás assim como eu, do que a boa vontade é capaz de fazer,
transformar um desejo arrogante, no maior bem querer.
J.C.F