Ivan - Muso - Martins
Olhar para o outro é o contrário do que nós fazemos a maior parte do tempo. Somos brutalmente egoístas quando se trata de afeto. Estamos preocupados com os nossos desejos e os nossos preconceitos. Nenhuma dessas duas lentes ajuda entender a outra pessoa ou as necessidades dela.
A lente dos nossos desejos é óbvia e permanente. Com ela a gente mede o quanto as pessoas nos agradam. Se a gente concorda com o que elas falam, batemos palma. Se elas se comportam como esperamos que façam, celebramos. Se a aparência dela nos excita ou nos deixa contentes, incentivamos. Se elas fazem coisas por nós, gostamos. Se pensam como nós, dizemos que são inteligentes e instruídas.
É evidente que não estamos lidando com a outra pessoa, mas com nós mesmos. O outro serve apenas de espelho. Estamos procurando nele ou nela apenas as nossas próprias predileções. É um troço bem narcisista. Nada tem a ver com olhar o outro para entender ou aprender alguma coisa. A meu ver, nada tem a ver com amor. É olhar o outro a procura de si mesmo, simplesmente. Um jeito de olhar sem ver.