Ivan M.
Olho novamente para a estrada
Meus pés anseiam pelo caminhar
Olho novamente para as nuvens
Meus sonhos criam asas outra vez
Olho novamente para o crepúsculo
Sinto o entusiasmo empolgante do meu impulso direção ao horizonte
Olhar cor de âmbar
Olhos profundos, oceano meu.
Olhos de pássaro, vôo alto.
Mergulho em seu olhar,
Mar de doçura,
Oceano sem fim.
Não quero voltar,
Somente em seu olhos fitar.
Para meu filho amado, J.
A noite me conduz ao silêncio
Embarco numa viagem com destino ao meu interior
Ruas na penumbra
Paisagens desertas
Estações em variáveis
Escalas de cinza.
Prossigo em minha viagem
Vejo a chuva cair
Meu rosto molha,
Lágrima rola.
As ruas somem
A paisagem se funde num azul escuro que se mescla com o violeta
Não presto mais atenção
Somente continuo a viajar
Destino à frente
Começo a desacelerar
Nuvens prateadas correm com o vento
Lua e estrela tentam resplandecer
Luar viajar sonhar e chorar
Somos sempre passageiros solitários quando o destino é o nosso interior
"O tolo se aglutina para o combate.
O inteligente se precavém para o embate.
O sábio não lança mão da justa."
O último suspiro
A vida esvai lentamente
Enquanto meus olhos começam a fechar
Começo a ouvir a doce sinfonia do silêncio
Tudo está passando tão depressa
Cada lembrança da infância ao presente que já não mais me pertence
Não sei se dói
Agora que tudo se acaba
Queria um pouco mais de tudo o que me fez feliz
Seu olhar profundo
Seu sorriso irradiante
Sua ternura singular
Tudo se encaixa perfeitamente em todos os cenários da minha felicidade
Adeus luar prateado
Adeus crepúsculo tristonho
Adeus praias e campos
Adeus amada
Adeus rebentos
Há algo de errado nesse espelho.
Vi uma imagem distorcida da realidade.
Nela havia um rosto estranho,
Com marcas de desalento;
Com lágrimas de vergonha,
Vergonha da face honesta.
Cãs despontavam em várias partes.
Feição séria e serena.
Era o rosto de um lutador que causava tamanho constrangimento.
Em nada se assemelhava com essa imagem distorcida.
Não.
Não pode ser fiel essa imagem ingrata!
Por quê? Por quê?
Vida sofrida velada a sós.
Quem poderia ouvir o grito do silêncio?
Quem poderia o acompanhar nessa madrugada, após toda uma noite de trabalho árduo?
Como um lutador pode se sentir derrotado pela vida?
Que mundo injusto,
Onde rir-se da honestidade,
Zomba-se da boa fé,
E tem por vencido aquele que busca a retidão.
Até quando?
Até quando...
Deixe-me
Deixe-me no meu silêncio
Deixe-me chorar sozinho
É assim que eu sou
Sempre foi assim
Deixe que minhas lágrimas me console
Deixe a minha dor ser expressa nesse semblante sem alento
Não me chame
Essa noite quero ficar só
Mergulhado dentro de mim mesmo
Talvez assim a dor passe
Talvez assim eu acorde desse estranho e doloroso sonho