Ivan de Angeli
C I N Z A
Céu cinzento que traz chuva que lava a alma.
Vereda para a felicidade que acalma.
A lua, astro brilhante acinzentado.
Que pelo sol é generosamente iluminado.
O aço que sustenta o concreto.
O primeiro passo do trajeto.
O grafite que liberta os pensamentos.
A luz que traz sabedoria e espanta todos os tormentos.
O chumbo que fere e pode matar.
Não precisa ser usado, chega de se maltratar.
Não relacione o cinza com esquecimento, tristeza ou depressão, por favor: não.
Relacione o cinza aqui em questão como uma cor que transmita maturidade, elegância, sutileza, autocontrole e sofisticação.
A R P O A D O R
As lágrimas secam sozinhas.
Aos pés do Cristo posso ver dois mundos desiguais.
Tão próximos, porém diferentes.
O sono da razão produz monstros.
A justiça antes cega, agora vê.
Eugenia, divide et impera.
Só eu, ninguém mais consegue ver?
Profusão de ideologias sem razão.
Será que estamos todos na contramão?
Se até as pedras agora pudesse voltar, suplicaria para o mar levar todo o mal que aqui ficou encontrou terra fértil e germinou.
O GAROTO QUE IA MUDAR O MUNDO
" Sua geração vai mudar o mundo."
Infelizmente, acho que meu pai não tinha razão, herdamos um mundo doente e não encontramos a cura.
Os remédios vão adiando nossa sentença final, a loucura.
Em cima do muro, estamos pensando em sobreviver sem nenhum arranhão: doce ilusão.
Nossa indignação não é capaz de abrir nosso portão.
Pitágoras e seus discípulos matemáticos saberiam a resolução?
Blindados de aço e concreto, ocos por dentro, como uma árvore prestes a tombar.
E parecia ser simples, de todas as formas, amar.
Como dizia Newton, "Toda ação gera uma reação" de igual intensidade, atuando em sentidos opostos.
Mas os opostos não se atraem?
Não, eles se repelem, se separam, são água e óleo.
M A E S T R O
Sigo em frente com o caminho encoberto por uma neblina densa.
Mais de vinte primaveras, muitas delas pedindo clemência.
Dando murro em ponta de faca, sempre rogando a Deus que me dê paciência.
Levanto cedo e vou a luta propagando equidade, ética e a ciência.
Me perdoem os peçonhentos, parasitas e fanáticos de plantão.
Mas hoje acordei "cheio" de razão.
Não se dirija a mim com uma retórica pífia, isso só demonstra sua pouca evolução.
Pare, pense, reflita, não se transforme em um "carrasco", prestes a consumar uma execução.
E V E R E S T
Sou do tamanho dos meus sonhos.
Sou Golias.
Sou moinho de vento de Dom Quixote.
Sou mar.
Sou infinito.
Sou o Cristo Redentor.
Sou baleia azul.
Sou sequoia.
Sou desigualdade.
Sou fome.
Sou tsunami.
Sou tornado.
Sou meu amor por você.
P A R
Adolescência e Legião.
Fogueira e violão.
Café e pão.
Arroz e feijão.
Integral e derivada.
O zap e a última rodada.
O lar e a mulher amada.
O primeiro passo e a jornada.
Jangada e travessia.
Noite e dia.
Ritmo e melodia.
Rima e poesia.
Michael e o pop.
Nirvana e o rock.
O grafite e o hip hop.
Praia e sol.
Pelé e futebol.
Campo e girassol.
Você e eu.
C V V
Quando você chora e ninguém vê.
Quando todo peso do mundo está em suas costas.
Quando o aperto no peito chega a sufocar.
Quando mesmo não querendo, você se põe a chorar.
Quando tudo parece ter dado errado.
Quando o medo reina e te faz escravo.
Quando você se sente invisível e perdendo o controle da sanidade.
Quando nada faz sentido e nenhum remédio traz felicidade.
Quando a dor do flagelo é menor que a da alma.
Pintura rupestre, tatuagem no "eu interior" e no quarto escuro uma proteção que te acalma.
Não se entregue! Lute, resista, peça ajuda, para que seu equilíbrio volte a reinar.
Felizmente, aqui na Terra, encontramos anjos disfarçados. Eles podem te auxiliar.
V Í R U S
Regurgitou a desigualdade.
Escarrou a hipocrisia.
Excretou a maldade.
Reverenciou o medo.
Desnudou a falsidade.
Compartilhou a mesquinhez.
Iluminou a ignorância.
Tirou o ar da razão.
Tornou o ambiente lúgubre.
Evidenciou a falta de planejamento e o descaso a ciência, saúde e educação.
Ensinou que devemos nos posicionar, banir a corrupção.
Partimos rumo ao nada?
O grande mistério da vida se apresenta.
"O pulso ainda pulsa."
Deus nos proteja!
A L T A N O I T E
Alta noite já se ia, eu aqui tão só.
Sobre a mesa uma taça de vinho me faz companhia e o cobertor não aquece mais.
Alta noite já se ia e toda melancolia.
Recordações coloridas de fotos em preto e branco.
O som do silêncio e as digitais impressas em cada canto.
Ah! como eu queria que você estivesse aqui agora.
Ah! como eu queria que você estivesse comigo.
Decorei cada gesto, compartilhei seus sonhos.
Fiquei ao teu lado para esperar o sol chegar.
O que tinha a oferecer era o amor.
Só sei dançar com você.
E R A U M A V E Z ...
Era uma vez sem amor.
A indiferença reina, face do horror.
Em meio ao caos, fotos ao lado de flor.
Sobrevoam urubus, nenhum condor.
Era uma vez sem amor.
Sem abraço, sem beijo, filme de terror.
Não se tem norte, planejamento, ética, só resta o pavor?
Falta até o remédio que combate a dor.
Era uma vez sem amor.
Me diga por onde andas, vou segui-lo por onde for.
F Á B U L A
O pássaro traído pelo reflexo se choca com a vidraça.
Após o impacto, a velocidade terrível da queda.
O chão o acolhe de maneira quase maternal.
Não se pode voar com as asas quebradas. E como ficar longe dos seus, observando o infinito do chão.
Entregue a própria sorte, estático, pressa fácil para seus predadores.
Talvez em seu último ato, onde o desespero seja mais evidente que a coragem enfrenta o inimigo vil que se apresenta de forma sorrateira, mesmo sabendo que a derrota é certa.
Lutar é a única saída.
E X I S T Ê N C I A
Sem a música a vida seria chata, em preto e branco, um erro.
Seria como viver sem um bom SAMBA que nasce da tristeza para transmitir alegria. Seria como viver sem a BOSSA que é recebida no Japão feito uma oração.
Seria como viver sem o grito de liberdade e a adrenalina do ROCK.
Seria como viver sem a variedade melódica e o swing do JAZZ.
Seria como viver sem o sentir a alma da música CLÁSSICA.
Seria como viver sem a MPB que nos retrata.
Seria como viver sem o nó da garganta do BLUES.
Seria como viver sem o grito dos excluídos do RAP.
Aprendo não só com livros, mas também com discos.
A música é minha companheira permanente, sem ela não vivo apenas sobrevivo.
O repertório vem com o tempo.
C O N F I N A M E N T O
Os dias se repetem, feitiço do tempo.
A face refletida no espelho, como um filme em pausa.
Entre a inocência da infância e a sabedoria da velhice, procuro respostas.
Pelo olhar do observador, na audição de outras gramáticas, meu exercício solitário.
Várias trilhas sobre um mesmo tema, sem a opinião prévia do que me contraria.
Metamorfose de atitudes, a certeza da dúvida.
Duvidar sobre tudo que me disseram, excluir o absurdo, baú de contradições e imperfeições.
Convenções e convicções ficaram no passado.
O alvorecer de um tempo que ainda não começou.
S A L T I M B A N C O
Ainda na fila, vem-me a reflexão.
Pagar o ingresso para ter diversão?
Entre empurrões e palavrões procuro um bom lugar.
Respeitável público, o espetáculo já vai começar!
As cortinas se abrem, música alta, luzes estroboscópicas que me cegam por um instante.
De repente, sou puxado pelo braço, escolhido ao acaso, começo a fazer parte do show.
Trapezista que se lança sem rede de segurança.
Equilibrista sobre uma linha tênue entre o fracasso e o sucesso.
Malabarista de boletos, mágico fazendo aparecer o pão de cada dia.
Habitante do globo da morte e, literalmente, fazendo o papel do palhaço.
C A M I N H A D A
Temos duas datas garantidas. O que fazer entre elas?
Qual o melhor caminho? Qual a melhor escolha?
Alguns acreditam em destino; outros na ação e reação.
Alguns acreditam na criação de Deus; outros na evolução.
Durante a jornada sonhos, sangue e suor.
Quedas, recomeço, vitórias e derrotas (aprendendo a jogar).
Envelheço a cada janeiro.
Eu e meu vocabulário limitado seguimos em frente.
Só por hoje, um dia de cada vez.
Vejo o mundo diferente após a terceira dose.
Meus olhos vertem água feito dia de chuva calma.
Muitos planos, mas na realidade me falta o real.
Em que momento sonhos se transformam em insônia?
Seria bem mais fácil aceitar que somos simplesmente humanos.
Seres que são tomados pelos piores e melhores sentimentos.
H Á T E M P O S
Tenho saudade daquele tempo em que tudo era possível.
Daquele tempo, sabe? De quando você é criança e sua única preocupação é a semana de prova.
Daquele tempo em que você pode ser um astronauta.
Bola, bicicleta, pipa, toda ingenuidade que nos acompanha.
Depois tudo muda: a paixão pela menina mais linda (para você) que nem te olha.
A sensação de ser um super homem (herói) e que nada de mal pode te acontecer.
Como continuamos ingênuos mesmo com outra capa.
O pior é desejar que esse tempo voe.
O final da história já sabemos?
Tudo depende de você.
V A N G U A R D A
Verdade construída sem alicerce, sobre solo arenoso, não se sustenta.
Quando a cabeça não está boa, o corpo não aguenta.
Aprendi com a dor, que quando não mata fortalece.
Assim descobri ser mais forte do que pensava.
Abri a janela e deixei o vento entrar, o sol iluminar.
Em minhas mãos rosas da cor do líquido que circula no interior do meu corpo.
Anunciar a boa nova é fazer brotar o amor.
A solução existe, está dentro de nós.
Meu coração é esperança.
Você é agente da revolução.
L A R A
Um sorriso teu e a vida faz sentido.
Através de seu olhar enxergo o mundo.
Juntos voamos, sorrimos e choramos.
As águas de março trouxeram meu maior presente.
Adorável borboleta que sobrevoa o arco íris.
Raio de sol que ilumina meu caminho.
Peixe no interior do Aquário.
Só copas no meu baralho.
Anime e pipoca, arranhão de felino.
Novos sabores, sigo meu destino.
Um mundo sem Beatles seria infinitamente pior.
Obrigado por me tornar um ser humano melhor.
O N - L I N E
Avassaladora, apareceu de repente.
Confesso não sabia o que fazer.
Mergulhei em um universo desconhecido.
Gladiador sem rede, espada, escudo, exposto ao perigo.
Frente a parede, minha real companhia.
Monólogo diário, exército de um homem só.
Letras e figurinhas povoam a tela.
Não falta dedicação, falta educação.
Câmeras “off”, microfones silenciosos.
Perguntas sem resposta.
Falta total de conexão.
Quanto descaso com a nobre profissão.
EAD de dar dó.
Minguados elogios, abundância de críticas.
Humilhados até por quem tinha que nos representar.
Temos o que comemorar?
R E L I C Á R I O
Ontem eu arrumei o armário.
Ontem eu revirei todo o relicário.
Recordações do nosso amor.
Você estava tão linda.
Ontem foi dia de saudade.
Ontem eu reencontrei a felicidade.
Recordações do nosso amor.
Você presente em todas as minhas canções.
Ontem eu resolvi voltar.
Ontem eu tive certeza de qual o meu lugar.
Recordações que me levam até você.
Você presente em todas as canções.
Eu decidi que vou voltar pro meu lugar.
L I N H A D E F R E N T E
De repente, nasce a tristeza.
Bocas que caladas seriam poéticas, fazem brotar dizeres imbecis.
De repente, nasce o pranto.
Recluso, longe dos meus, regido apenas pela fé.
De repente, nasce a ira.
Doutores em falta de conhecimento propagam sua insanidade.
De repente, não mais que de repente, o momento da escolha.
Qual será o veredito?
De repente, nasce a dor.
Na trincheira, rodeado pelo fogo inimigo vindo de todas as direções.
De repente chego ao limite.
Boxeador preso entre as cordas, a segundos do nocaute.
N Á U F R A G O
Sem você tudo é deserto.
Tudo escuro, tudo incerto.
Qual o sentido? O antídoto.
Como curar essa dor?
Meu corpo cobra atitude.
Minha consciência pede ação.
Náufrago fazendo sinal de fumaça.
Solidão é mar e o tempo infinito.
V O G A L
A frágil busca do eterno.
O nascimento, começo do fim.
A lenta decomposição do corpo físico.
E quando te custa a paz, é caro demais.
O silêncio de uma tarde de domingo.
A leveza dos acordes de jazz.
A saudade, soma de momentos felizes.
E os dias passam lentos.
Eu vendo minha força de trabalho.
Apenas uma carta do baralho.
Eu camuflado a troco dos proventos.
Apnéia de sentimentos.
L I B E R T A S
Hoje vivo acompanhado de meus pensamentos.
Estes sobrevoam quintais sem algemas, açoites, angústias e tormentos.
Quase meio século em busca de conhecimentos.
E o que sei? Quase nada.
Calouro do curso em que nós formamos na linha de chegada.
Me equilibro entre escolhas e consequências.
Nada é um acaso e sim uma necessária experiência.
No entanto, não há liberdade onde não existe lei.
Que se faça valer nossa carta magna, 5° artigo, inciso IX, que é direito nosso até onde sei.
Em meus sonhos te cultivo, e lutarei sempre para que todos desfrutem dessa opção.
Não só na impressão, mas verdadeiramente na ação.
Que o poema mostre que sim, se pode!
Que só não há remédio para a morte.
“Responsável pelo que sou, minha sentença é ser livre”.
SÓ POR HOJE
Embriaguei-me de razão, empanturrei-me de paz.
Só com a certeza de receber um tanto faz.
Parti para o embate com a força que desconhecia me acompanhar.
Com os olhos vestidos d’água e o nó na garganta prestes a sufocar.
Mudam-se as regras durante o jogo, um tabuleiro com cenário surreal.
Sistema sem lei, é só “la prata” que comanda nossa vida atual.
As fronteiras desapareceram, a terra é meu quintal.
É por tudo que amo que vou até o final.
A luta é árdua, as vezes desanima.
Meu coração dita o ritmo pelo futuro da minha menina.
Está tudo tão claro, mas consigo entender quem se esconde.
Meus pés mantém a marcha, preciso de companheiros no front.
As canções me inspiram, as orações me fortalecem.
O mantra que veio da esquina, sonhos não envelhecem.
As forças se equilibram, cada um tem sua missão.
Não se esqueça que a rosa tem no espinho sua proteção.