Isadora Ribeiro
Sinceramente, não estou enganada quando me revolto perante a indefinição ou ausência de explicação que me incapacitam.
Cansei de perceber o óbvio e duvidar de sua veracidade pelo simples fato de acreditar que as pessoas são complexas o bastante para superarem seu instinto animal de apelar para a virilidade grotesca.
Pra algo dar certo, não basta ser da melhor qualidade. Tem, ainda, que ser o melhor que tá tendo! Don't ever look back...
Pobre Rafaela Silva, em um país que qualquer mérito próprio é prontamente transferido para instituições, organizações e ideologias. Agora o exemplo dela é o exemplo de cada teoria, cada partido, cada movimento, cada politica. A vitória dela é um "tapa na cara" da direita, da esquerda, do machismo, do feminismo, da meritocracia... cada um usa a vitória dela como se de fato fosse sua. Ela deve as primeiras feministas, assim como deve aos primeiros militares, deve a esquerda pelas politicas de inclusão e pelo fim da meritocracia, deve a direita etc...
De repente ela deve a uma nação, não somos nos que devemos à ela por seu esforço, exemplo e dedicação, por conquistar uma medalha pra uma coletividade de sedentários que até ontem não sabiam sequer da existência da mesma e não possuem um pingo de patriotismo. E não querendo usar a vitória dela pra confirmar uma teoria minha, uso a reação da sociedade, diante da vitória de um indivíduo, para confirmar a teoria do "viés de confirmação", de David McCraney; "é ver o mundo através de um filtro uma compilação sobre pensamento irracional e autoilusão."
Somos uma coletividade de preguiçosos, vestindo o mérito alheio como se de fato fosse nosso.
Tudo o que eu queria dizer para o meu cachorro
Talvez vocês não façam ideia, mas vocês me fazem muito bem. Eu falo isso o tempo inteiro para vocês, mesmo sem me questionar se me entendem: sei que entendem. Também sei que nós não somos dos mais ricos para dar da melhor marca de ração, o melhor brinquedo, a roupa mais fofa ou a maior cama. Sorte a minha que, ao conviver com vocês, pude perceber que vocês valorizam o que importa. Por isso, nunca neguei o meu tempo para vocês.
Vocês devem pensar que aqui em casa somos loucos, correndo para lá e para cá. Trabalhando e querendo resolver a vida da melhor maneira possível, enquanto vocês querem porque querem brincar. Vocês são a alma da casa, o que me faz sempre lembrar que o jeito de criança nunca pode se apagar.
Vou aproveitar pra mencionar que às vezes a gente senta no chão, apenas por sentar e, pra vocês, é o melhor evento do dia. Hora de rolar e lamber. Quando estamos no sofá e eu levanto para pegar um copo de água, eu aviso, “Não levanta, eu só vou até ali”, e vocês me seguem. É sério, não precisa desacomodar. Melhor ainda é entrar e sair de casa por 1 segundo e a recepção ser a mesma de 1 ano fora. De saudade, vocês entendem bem. Isso não precisa mudar.
Saibam que, quando saio para passear e vocês ficam em casa, não costuma ser fácil. Imagino vocês sentados como meus amigos. Imagino o tempo todo o que nos diriam, se pudessem falar. Principalmente nos momentos difíceis, alguns conselhos tenho certeza que cairiam bem, mas o olhar consola como ninguém. Admiro a pureza de não precisar de palavras para demonstrar o amor de forma incondicional. A verdade é que eu precisava da simplicidade de vocês. Da maneira feliz de ver a vida, apenas por ser vivida.
Algumas vezes eu fico perdida. É pata pra desviar, rabo batendo na canela, 21 kg sentado em cima de mim no sofá, mas estou bem. Tenho vocês comigo. Se tem vocês, está tudo certo. É verdade.
Vocês podem não perceber o quanto, mas eu gostaria de dizer, mesmo que vocês não entendam, o quanto, mas o quanto e quando vocês me fazem bem. Quanto!