Isabella A. Soares
Para declarar o que não pode ser dito, usei minhas lágrimas. Assim, molhada de lembranças, segui o sábio conselho de um grande homem: não olho mais para trás. E que seja sempre assim. Meu passado, companheiro, é a poeira da estrada que o vento leva. Não passa...flutua. Paira no ar a espera de um cantinho onde os olhos da Sanidade não chegam. Lá, onde a Melancolia se esconde, teias de saudade se desdobram em cascatas prateadas. Luz torpe, velhos pensamentos. O tempo passa lá fora, mas que diferença faz se tenho comigo o próprio Tempo? Levo no ventre o filho das horas incertas. Seu nome é Abismo. O meu, é Solidão.
O que sei dessa vida é a forma como ela termina. Todos, ricos e pobres, famosos e anônimos, têm o mesmo destino traçado no berço. Esse fardo não pesa: se arrasta! Viver pode ser uma arte, um vício, um acidente... Depende dos olhos de quem vê. Venho de um mundo de loucos, que acreditaram em suas causas e abocanharam seus dias com a fome da eternidade. E de fato, tornaram-se eternos. Meus heróis são pura música, mística, morte plástica que de tão surreal, não aconteceu! A morte vem com o esquecimento e a eternidade está ao alcance de uma melodia. Então, me afogo em versos perdidos no tempo e esqueço de todas as pedras pelo caminho. Uma rosa, um abraço carinhoso no mestre Cartola...alguns boleros e pequenas doses de samba. De que valem palavras? Minhas palavras roubadas de poetas mortos... Mas a morte é só uma invenção dos vivos... Penso nisso e tudo fica bem... A noite chega e leva o cansaço. Tudo é nostalgia... Lá fora, os galhos brincam sob o vento e levam embora o medo, já remoído pela saudade. Pequenas gotas de sal se misturam ao orvalho. São apenas detalhes, cristais ínfimos entre as rosas do jardim...
O Amor é livre como um pássaro na janela
Não sabe se entra, não sabe se foge...
Mas observa passivamente todas as coisas,
com a calma que a eternidade lhe deu.
É um Anjo!
Entender demais é um defeito. É preciso ter maldade para se preservar. É preciso se manter além da compreensão. É preciso ouvir aqueles que nos amam. E as vezes ouvir os que não nos amam tanto assim. É preciso também ouvir a si mesmo e até ter a ousadia de seguir os próprios conselhos. Se eles falharem, o julgamento será interno, nada mais. É preciso ter força, principalmente quando o coração pede coisas que a razão não pode dar. É preciso ter coragem para não voltar atrás depois de uma decisão tomada. Não se brinca com sonhos... que dirá com sentimentos. É preciso firmeza diante da vida, mais ainda diante das pessoas. Medos são atrasos. Receios são dispensáveis. Sonhos são possíveis, se forem buscados com os pés no chão. É preciso ter fome. Fome de viver, de lutar, de prosseguir. E mesmo quando ocorrem quedas, é preciso ter fome de vencer. É preciso ter coração limpo... É preciso que algo maior, além de todos nós, limpe-nos o coração e a alma. E que este mesmo Ser nos recolha a alma quando for chegada a hora. Porque é preciso ter fé. Uma existência sem fé é um salto no vazio... É preciso ter amor, não só pelos outros mas também por si mesmo. Amor direcionado gera possessão, doença. É preciso mudar, um pouco por dia. Mudanças trazem um ar dinâmico à vida. Nada sobrevive estagnado no tempo. É preciso ter tempo... tempo para viver cada coisa da melhor forma possível. E se não for possível, é preciso tentar... O sucesso não é algo que se compra numa loja de doces. A felicidade também não. Mas ambos são possíveis. Há quem diga que eu nunca fui feliz. Eu digo que não me conhecem... Sou feita daquilo que busco e isso me faz grande. Grande demais para caber num sorriso. As pessoas são apenas metade do que mostram. A outra metade é feita do que sentem... E o que eu sinto... deixa pra lá, não ia caber aqui mesmo...