Irineu Magalhães
Farto dos mesmos segundos
Das cidades que escurecem
Dos rumores da vida
Farto dos mesmos sonhos
Dos mesmos medos
Dos segredos
Farto do mesmo amor
Dos mesmos inimigos
Das mesmas flores do seu vestido.
Escrever silêncio sempre foi o meu forte, e como as nuvens viajo nas noites vazias; elas vagam para lugar nenhum, eu também; então encho minhas folhas brancas de nada.
Nas noites sórdidas quero dormir depois de o sol nascer, mas ao seu lado. As noites sórdidas deixam lembranças e marcas, e o bom mesmo é a sensação de arrependimento, mas tenha certeza! Vai passar. Só não se esqueça de fazer tudo outra vez.
Descobri que ócio é melhor que felicidade: a felicidade cansa, o ócio liberta, e o próprio ócio é também felicidade. Mas a maioria das vezes não temos tempo para nenhum dos dois.
Vivo um inferno: nos dias de tempestade não saio de casa, nos de sol durmo. Até acho melhor que seja assim, aos menos não me sinto ridículo com tanta frequência, e nem sou motivo de risadas.
Às vezes sonho com Medusas em vestes resplandecentes cheirando a papoula, e outras com deuses maltrapilhos esmolando sorrisos. Em ambos os casos acordo em paz, mas tenho a sensação de ter aproveitado pouco, o sono se vai, e nem tenho tempo de sorrir.
Nunca queira noites imensas! Geralmente elas são cheias de dores, pesadelos ou mesmo de pensamentos os quais não se consegue dominar. As noites curtas são cheias de prazer; prazer carnais ou dos sonhos, mas normalmente são carnais, e eu nem tenho tempo de perguntar o nome dela. Às vezes sonhos são luxo, e isso vale para os que são sonhados acordado.
Não suporto as horas, elas se repetem com muita facilidade. Daqui a pouco já é segunda, e preciso matar alguém, mas não tenho nenhum plano ainda. Segunda para mim é qualquer dia semana às 08:00 da manha, mas o sofrimento de enfrentar um novo dia armado com horas e minutos já começa no dia anterior. Era melhor que só existisse noite e madrugadas, e vez em quando um solzinho pra gente fazer uma poesia, e não esquecer como é tão belo, mas que seja rápido.
A vida é uma obra burocrática: horários, compromissos, trabalhos, planos... sobreviver é uma arte, e mesmo com tantas dificuldades não vivemos, sobrevivemos. Há diferença entre um e outro. Planos mirabolantes me incomodam, compromissos também. Decidi! Serei rápido e fácil, quer dizer: nem tão rápido; rapidez me incomoda.
Para conhecer pessoas verdadeiras é preciso ir aos cemitérios, mas cuidado! Jamais entre nos velórios, lá só se ouve suspiros de alívio, tanto dos mortos quanto dos que choram.
Beleza física não vale nada. Depois de uma noite de sofrimento sempre se acorda com a cara inchada, e de olheiras grandes. Beleza mesmo é a poesia que não precisa de maquiagem, o resto sempre serão os restos, e restos são conceitos, e conceitos mudam. Se duvida espere quarenta anos, e conte seus admiradores, e os meninos e meninas rirão da sua pele seca e enrugada, e te acharão um horror. Mas haverá um ancião que esmola na rua que te desejará, e para você é apenas o que restará. Isso se você não morrer jovem, coisa que eu acho até melhor. Mas para mim a coisa já passou, e eu não vejo mais graça em morrer. Também nem sobraria muito para se morrer, além de sonhos abandonados nada mais. Venha morte! Te espero na esquina, e desta vez estou armado, mas antes quero lhe dizer umas verdades.
Para muitos o céu é uma promessa de paraíso eterno, para outros é onde deslizam as nuvens. Para mim, são camadas de ar e ilusão.
Solidão a dois é a forma mais escura de solidão, é a versão mais beligerante, mais ridícula. É onde a morte fica fácil, e os planos para um homicídio inexplicavelmente invadem a mente, surgindo de um sorriso que você não ver mais graça. Alguém diz: "Já fui tanto seu, os meus dedos já percorreram tantas vezes por seu corpo, agora o medo corre por minhas veias". Solidão a dois: os sorrisos se fazem perigosos, e têm cheiro de inumação fresca. Se alguém lhe sorri, não sorri de volta, fuja antes que cometa uma loucura e termine os seus dias numa cela suja.
Os intelectuais carregam consigo algo realmente bom: nunca lhes faltam tolices para falar, nem audientes.
"Eu não entendo você! Se queria que os humanos fosse obedientes por que é que você deu a eles vontade própria?". Disse o diabo a deus. "Deveria tê-los feito de chumbo, e sem cérebro".
Os tempos do amor e os tempos da desinvenção do amor
A má
A mar
Amarela
Amassemos
A malo
A mala
A mala ia
A mar mos
A Mara
A Maria
A marte
A mando
A Marão
Amado José
Armei-vos uns aos outros
O amor está no ar...Mário.
Amém!
A ciência move montanhas, homens e máquinas trabalham dia e noite, retiram a terra como formigas. Um operário que dirige o caminhão que transporta a terra, carrega escrito no para lama traseiro do carro "A fé move montanhas". E assim são construídas as cidades e os homens.
Não adianta, a menor de dente numa noite chuvosa vai te derrubar, e não há deuses que possam lhe ajudar. E se depois de muitas súplicas em vão você entender que estamos sós, e não há nada que possamos fazer a não ser lhe dar um analgésico, e que não existe lugares à além, talvez você se conforme com a dor, e nem sinta mais.