Imre Kertész
Se uma pessoa resolve lutar, convém saber a razão pela qual está a lutar. Caso contrário não faz sentido. A pessoa geralmente luta contra um poder, a fim de conquistar o poder para ele próprio. Ou porque o poder em questão está a ameaçar a sua vida.
Falar não é suficiente, as palavras não esclarecem nada. Eu terei que bater nalguma coisa, mas no quê?
A leitura é como que uma droga que confere um adormecimento agradável aos contornos da crueldade da vida.
As quantidades de livros que dormem em mim, bons e maus, de qualquer tipo. Frases, palavras, parágrafos, versos, que, à semelhança de inquilinos inquietos, voltam bruscamente à vida, errando solitariamente ou entoando na minha cabeça conversas brutais que eu sou incapaz de silenciar.
Claro, viver é outra forma de nos matarmos a nós próprios: a desvantagem é que é um processo horrivelmente longo.
Eu existo. É isso uma vida? Não, é vegetar. Parece que é a única filosofia que pode suceder à filosofia do existencialismo: o não-existencialismo, a filosofia da existência não existente.
Os escritores por vezes lançam-se a eles próprios nas maiores profundezas do desespero, a fim de o dominarem e seguirem em frente.
O Bem pode ser feito numa vida em que o Mal é a sua regra, mas apenas pelo custo de quem pratica o bem sacrificando a sua vida.
Se alguém toma o caminho do sucesso, então terá que ser bem sucedido ou mal sucedido, não existe uma terceira alternativa.
O Ocidente, em geral, deveria olhar mais pelos seus próprios valores. Nem sempre vale a pena comprometê-los.
O homem, quando é reduzido a nada, ou, por outras palavras, é um sobrevivente, não é trágico mas sim cômico, porque ele não tem destino.