Igor Denali
Vaga quem vai. Quem fica Vaga.
Nas lembranças nos encontraremos,
Se na realidade não for possível.
O importante é que já conjugamos
a existência num mesmo tempo.
A transitoriedade da amizade não a deixa efêmera,
Pois é perene aquilo que se viveu com intensidade,
Mesmo que as lembranças venham em fragmentos.
Falta uma xícara de café na minha mesa para que as ideias fluam e eu volte a escrever como antes. Mas após assinar um contrato comigo mesmo de não beber mais café, apesar de amar, rogo para que as ideias venham, mesmo que em um fluxo não tão contínuo quanto antes, paralelas à força da minha imaginação focada em minha pessoa, sentado à mesa, escrevendo como nunca antes por estar prestigiado com uma deliciosa, porém não existente, xícara de café.
Me afoguei em você um dia desses. Imaginei a água morna serpenteando nas curvas da sua face, virando uma queda d’água no seu queixo, e eu hora me afogando, hora flutuando. Me afogando. Fluindo nas poças acumuladas em suas covinhas, nessas que quis me enterrar até sumir dentro de você. Procurei por ar em todas as coisas que nunca tivemos, nos míseros momentos em que, sãos, deixamos o tempo abraçar-nos, e os acasos desfazerem, com desamor, o nosso amor.
Continuei ali, me afogando. Por cada beijo na ponta do seu nariz que reservei, e reservados permanecerão. Por cada enrubescer das suas bochechas ao me ouvir suspirar seu nome de lado no travesseiro. Por cada noite daquele verão agridoce, adocicado.
Certo dia me afoguei em você. Com você, por você. Contei, ainda que por pouco tempo, cada gota, cada pingo de chuva que molhou a nossa terra, mas não floresceu nenhuma flor, a nossa flor.
Sua mão álgida tocando na face,
que calma e decência
se fazem sentir,
e lá dentro aos berros, querendo fugir.
E na vontade de ser novo
descontruindo-se.
Se desmanchando,
manchando o outro.
Nutrindo o nocivo
medo das sombras,
igual a uma criança
agonizando.
Em desespero o ciclo volta
a se repetir
já que o que se vê, reflexo nítido
não é, longe de tudo aquilo
que evidencia existir.