Ícaro F. Barbosa Benedikt
Do fruto amargo,
o cheiro do talvez.
Da lembrança vaga,
aquilo que se desfez
Meus pés então cansados questionam meu coração:
Passará por tudo outra vez
ou tudo isso foi em vão?
Se de tudo soubesses,
nosso amor seria leve,
a eternidade seria breve
e não haveria mais greve
no meu coração
Viver é dor constante,
que nos obriga e nos faz distantes,
num desaba e reconstrói.
Dores edificantes,
amores desconcertantes,
o avesso é quem nos corrói.
Não é novidade que o caos impera sobre a vida. Suas injustiças e descaminhos fomentam as grandes utopias. Mas, ao olhar no seu olhar, naquela noite de outono, como quem olha para o céu e se sente observado, pude entender também que para cada ser caótico como eu, existe um ser utópico como você. Por um instante de duração duvidosa, meu mundo parecia potencialmente ordenável e nele as leis autoritárias da física não eram aplicáveis.
Enquanto a minha cabeça é esmagada pelo aço duro da janela, meus olhos censurados por barreiras intransponíveis e minha face cortada pelo vento frio da madrugada, o meu pensamento voa livre, como quem desconhece o sacríficio de seu existir.